Por Bepe Damasco, em seu blog:
Rio e São Paulo foram os epicentros das chamadas jornadas de junho de 2013. Tudo começou na capital paulista com a luta pela tarifa zero. Mas nenhuma cidade do país colocou tanta gente na rua, para protestar "contra tudo que está aí", como o Rio de Janeiro.
Um ano e pouco depois, fora a conquista da revogação do aumento das tarifas no auge das manifestações, o saldo do tão propalado avanço extraordinário da consciência política da população seria cômico se não fosse trágico.
Pezão e Garotinho são favoritos para a disputa do segundo turno no Rio, enquanto o governador tucano Geraldo Alckmin nada de braçada para vencer a eleição de São Paulo no primeiro turno, mesmo sendo o responsável pela crise de abastecimento de água que afeta a região metropolitana da maior cidade brasileira.
Como sempre estive na contracorrente das análises ufanistas sobre o fenômeno das manifestações, em nada me surpreende o quadro eleitoral nos dois estados. Mas estou curioso para saber o que pensam os entusiastas de junho diante das pesquisas eleitorais. Queria que eles me explicassem porque a gigantesca onda de civismo virou marolinha em tão pouco tempo.
É interessante observar que a visão triunfalista das manifestações foi compartilhada por acadêmicos de esquerda, artistas, dirigentes sindicais e dos movimentos sociais, além de um boa parte dos militantes e dirigentes dos partidos do campo popular e democrático. Não vou aqui perder tempo detalhando a utilização política das manifestações por parte do monopólio midiático para atingir Dilma e o PT, pois seria chover no molhado. O meu ponto é tentar entender por que diabos tanto lutador social, tanta gente boa e bem intencionada conseguiu enxergar ímpeto revolucionário em mobilizações profundamente despolitizadas e, em boa medida, alienadas.
Nada foi capaz de conter o ufanismo em torno das manifestações. Ganharam contornos revolucionários até mesmo arruaceiros e vândalos mascarados responsáveis pela destruição indiscriminada do patrimônio público e privado em todas as manifestações, culminando com a morte do cinegrafista da Bandeirantes. Os que davam verniz intelectual às manifestações também não se incomodavam com a negação reacionária da política levada às ruas, com a falta absoluta de eixos, prioridades, bandeiras políticas concretas, reivindicações exequíveis e de táticas e estratégias de negociação.
A oposição ao governo da presidenta Dilma, à esquerda e à direita, mal cabia em si de tanta satisfação. Afinal, os índices de aprovação do governo caíram de forma significativa. Pouco importa se o mesmo tenha ocorrido com praticamente todos os governadores e prefeitos do país.
A direita e os fascistas se aproveitaram e deram um grande passo adiante. Se há um produto palpável das jornadas de junho é o fato de que a direita mais raivosa e antidemocrática perdeu a vergonha de assumir tal condição. Hoje marca forte presença nas redes socais e arrisca até atos de rua em defesa de suas teses obscurantistas.
No Rio de Janeiro, a popularidade do governador Sérgio Cabral se erodiu em 30 dias e foi a quase zero. Sua casa foi cercada por um acampamento durante 45 dias e sua rejeição passou dos 80% em todas as pesquisas. Mas agora seu candidato, o Pezão, lidera as intenções de voto, na certa com apoio de uma fatia desses "revolucionários". Garotinho era visto até há pouco tempo, não sem razão, como exemplo de político com p minúsculo. Mas está em segundo nas pesquisas, impulsionado pela adesão de muitos que marcharam para "mudar o país."
Moral da história : junho de 2013 não fez avançar o nível de consciência política das pessoas coisa nenhuma. Sindicatos, partidos e movimentos organizados da sociedade, que para os manifestantes deviam ser atirados à lata do lixo, sempre serão peças fundamentais numa democracia. E fora da política só existe a ditadura e a barbárie. Se o desenrolar dos fatos mostra que o "gigante não acordou', os que nunca dormiram, pois há muito lutam todos os dias, caminham para mais uma vitória com a reeleição da presidenta Dilma.
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