Por Altamiro Borges
O PSDB está em clima de velório. Amargando o terceiro lugar na disputa presidencial, o pior resultado desde a sua fundação, o partido já prevê a redução da bancada federal e a diminuição do número de governadores eleitos em outubro. A consequência, pós-eleição, é que as bicadas serão mais sangrentas no ninho, com fortes divisões internas e fuga das lideranças mais pragmáticas. Os tucanos mais pessimistas já falam na extinção da espécie, na morte melancólica do PSDB. Em sua coluna no insuspeito O Globo, neste domingo (21), Ilimar Franco descreveu o trágico cenário:
“O PSDB está mergulhando numa profunda crise. As previsões dos especialistas são as de que os tucanos vão encolher na Câmara, no Senado e nos governos estaduais. Além disso, o partido não terá mais expectativa de poder. Se a presidente Dilma for reeleita, Marina será a alternativa de poder para 2018. Se Marina vencer, quem assumirá a bandeira da oposição será o PT... Avalizado por Fernando Henrique Cardoso, o presidente do PSDB, Aécio Neves, está à procura de uma boia para não afundar. Seguindo nesse ritmo, ele não só perderá em Minas Gerais, como terá de pagar a conta de deixar seu partido fora da luta pela Presidência pela primeira vez em 20 anos”.
"Um partido estilhaçado"
As previsões pessimistas partem até de profundos conhecedores do tucanato. Em recente entrevista ao Estadão, o filósofo José Arthur Gianotti, um dos mentores intelectuais da sigla e serrista convicto, já havia decretado o fim do partido. Para ele, “o PSDB não conseguiu se viabilizar como oposição organizada. Quando não se tem uma oposição organizada, em geral quem ocupa esse espaço é uma dissidência da própria base aliada, como ocorreu com Eduardo Campos e Marina Silva, ex-ministros do governo Lula. [O PSDB] não teve discurso. Restará um partido estilhaçado... Aécio ficou com uma imagem meio ambígua. Agora ele precisa sair correndo para Minas Gerais para salvar a candidatura que apoia”.
Dias antes, o deputado Walter Feldman – que já gozou de muito poder no ninho e hoje coordena a campanha de Marina Silva – também augurou péssimos dias para o seu ex-partido. Em visita aos lojistas dos Jardins, área de compras dos ricaços em São Paulo, ele tentou atrair os votos das madames para a candidata-carona do PSB e disse que o PSDB “talvez não sobreviva” às eleições de outubro. Vale conferir a reportagem de Lígia Mesquita e Marina Dias, na Folha. Ela revela bem o perfil - e o caráter - dos eleitores tucanos, que ainda vacilam sobre a migração para a ex-verde:
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Aliado de Marina prevê debandada tucana após eleição
Coordenador da campanha do PSB diz para integrantes da elite paulistana que PSDB 'talvez não sobreviva' se perder pleito
Em encontro, equipe exalta boa relação de candidata com FHC e tenta conter medo de conselhos populares
"Marina tinha algumas ideias, mas a gente acredita que, com o passar dos anos, ela pode ter mudado."
Foi assim que Rosangela Lyra, 49, presidente da Associação de Lojistas dos Jardins, justificou o encontro que organizou nesta terça (9), em São Paulo, entre integrantes da elite paulistana e parte da equipe de Marina Silva (PSB).
Vestindo camiseta com a bandeira do Brasil bordada com miçangas, blazer verde bandeira, calça preta e scarpins verde limão - "tudo marca brasileira" -, a ex-diretora da Dior no Brasil e sogra do jogador Kaká pediu que todos cantassem o Hino Nacional antes do debate.
"Honrar a bandeira não é só na época da Copa, né Walter?", disse ela, em direção ao coordenador-geral da campanha de Marina, o ex-tucano Walter Feldman. No telão, a letra do hino acompanhava imagens de praias, de montanhas e do Cristo Redentor.
Diante de uma plateia de cerca de 70 pessoas, Feldman afirmou que caso Marina seja eleita, o PSDB, partido do tucano Aécio Neves, "talvez não sobreviva" ao modelo de governabilidade que a candidata vai inaugurar no país.
"Se Marina for eleita, muda tudo. Os partidos vão se reestruturar. O PSDB não sei se sobrevive. O PSDB, se perder as eleições, vai haver uma debandada", disse Feldman.
Ao lado de Bazileu Margarido, coordenador financeiro da campanha, e de Lucas Brandão, representante jovem da candidatura de Marina, Feldman tentava tranquilizar as pessoas que se diziam inquietas com o conceito de "democracia de alta intensidade", que aparece no programa de governo do PSB.
Segundo ele, os "conselhos populares" propostos pela presidente Dilma Rousseff (PT) não são os mesmos defendidos por Marina.
"Os conselhos populares não representam o que a gente pensa. Vamos dar vida aos conselhos municipais, estaduais e nacionais de educação e saúde, e não permitir que sejam aparelhados", disse.
As pessoas cochichavam em negativa. Feldman pediu novamente a palavra. "Vejo que vocês estão nervosos com isso. Temos que tomar cuidado para não remeter aos sovietes ou a organizações de esquerda. Estamos falando do que já existe", afirmou.
A explicação não convenceu. Bazileu tentou mais uma vez: "Não existe no nosso programa a expressão conselhos populares', denominamos de conselhos de participação da sociedade'. É uma questão semântica". Também não agradou e provocou risos.
A advogada Adriana Hellering, 27, avaliou: "O que me assusta em ter uma participação popular ativa é que a maioria às vezes é burra. Também acho que há forma de manipular, já que o próprio governante é quem vai escolher os representantes".
Em mais uma deferência ao perfil dos ouvintes, predominantemente simpatizantes ao PSDB, Bazileu destacou a "boa relação" de Marina com o ex-presidente FHC e disse que a candidata "defende mais o tripé macroeconômico" do que José Serra, nome dos tucanos ao Senado.
Entre as perguntas que a equipe precisou responder, o estatuto do PSB, de 1947, que limita a propriedade privada. "Isso é comunismo", assustou-se Rosangela. Feldman afirmou que o PSB apenas "abriga" Marina, que deve fundar a Rede em 2015, e que essa é uma "questão histórica do partido".
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O PSDB está em clima de velório. Amargando o terceiro lugar na disputa presidencial, o pior resultado desde a sua fundação, o partido já prevê a redução da bancada federal e a diminuição do número de governadores eleitos em outubro. A consequência, pós-eleição, é que as bicadas serão mais sangrentas no ninho, com fortes divisões internas e fuga das lideranças mais pragmáticas. Os tucanos mais pessimistas já falam na extinção da espécie, na morte melancólica do PSDB. Em sua coluna no insuspeito O Globo, neste domingo (21), Ilimar Franco descreveu o trágico cenário:
“O PSDB está mergulhando numa profunda crise. As previsões dos especialistas são as de que os tucanos vão encolher na Câmara, no Senado e nos governos estaduais. Além disso, o partido não terá mais expectativa de poder. Se a presidente Dilma for reeleita, Marina será a alternativa de poder para 2018. Se Marina vencer, quem assumirá a bandeira da oposição será o PT... Avalizado por Fernando Henrique Cardoso, o presidente do PSDB, Aécio Neves, está à procura de uma boia para não afundar. Seguindo nesse ritmo, ele não só perderá em Minas Gerais, como terá de pagar a conta de deixar seu partido fora da luta pela Presidência pela primeira vez em 20 anos”.
"Um partido estilhaçado"
As previsões pessimistas partem até de profundos conhecedores do tucanato. Em recente entrevista ao Estadão, o filósofo José Arthur Gianotti, um dos mentores intelectuais da sigla e serrista convicto, já havia decretado o fim do partido. Para ele, “o PSDB não conseguiu se viabilizar como oposição organizada. Quando não se tem uma oposição organizada, em geral quem ocupa esse espaço é uma dissidência da própria base aliada, como ocorreu com Eduardo Campos e Marina Silva, ex-ministros do governo Lula. [O PSDB] não teve discurso. Restará um partido estilhaçado... Aécio ficou com uma imagem meio ambígua. Agora ele precisa sair correndo para Minas Gerais para salvar a candidatura que apoia”.
Dias antes, o deputado Walter Feldman – que já gozou de muito poder no ninho e hoje coordena a campanha de Marina Silva – também augurou péssimos dias para o seu ex-partido. Em visita aos lojistas dos Jardins, área de compras dos ricaços em São Paulo, ele tentou atrair os votos das madames para a candidata-carona do PSB e disse que o PSDB “talvez não sobreviva” às eleições de outubro. Vale conferir a reportagem de Lígia Mesquita e Marina Dias, na Folha. Ela revela bem o perfil - e o caráter - dos eleitores tucanos, que ainda vacilam sobre a migração para a ex-verde:
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Aliado de Marina prevê debandada tucana após eleição
Coordenador da campanha do PSB diz para integrantes da elite paulistana que PSDB 'talvez não sobreviva' se perder pleito
Em encontro, equipe exalta boa relação de candidata com FHC e tenta conter medo de conselhos populares
"Marina tinha algumas ideias, mas a gente acredita que, com o passar dos anos, ela pode ter mudado."
Foi assim que Rosangela Lyra, 49, presidente da Associação de Lojistas dos Jardins, justificou o encontro que organizou nesta terça (9), em São Paulo, entre integrantes da elite paulistana e parte da equipe de Marina Silva (PSB).
Vestindo camiseta com a bandeira do Brasil bordada com miçangas, blazer verde bandeira, calça preta e scarpins verde limão - "tudo marca brasileira" -, a ex-diretora da Dior no Brasil e sogra do jogador Kaká pediu que todos cantassem o Hino Nacional antes do debate.
"Honrar a bandeira não é só na época da Copa, né Walter?", disse ela, em direção ao coordenador-geral da campanha de Marina, o ex-tucano Walter Feldman. No telão, a letra do hino acompanhava imagens de praias, de montanhas e do Cristo Redentor.
Diante de uma plateia de cerca de 70 pessoas, Feldman afirmou que caso Marina seja eleita, o PSDB, partido do tucano Aécio Neves, "talvez não sobreviva" ao modelo de governabilidade que a candidata vai inaugurar no país.
"Se Marina for eleita, muda tudo. Os partidos vão se reestruturar. O PSDB não sei se sobrevive. O PSDB, se perder as eleições, vai haver uma debandada", disse Feldman.
Ao lado de Bazileu Margarido, coordenador financeiro da campanha, e de Lucas Brandão, representante jovem da candidatura de Marina, Feldman tentava tranquilizar as pessoas que se diziam inquietas com o conceito de "democracia de alta intensidade", que aparece no programa de governo do PSB.
Segundo ele, os "conselhos populares" propostos pela presidente Dilma Rousseff (PT) não são os mesmos defendidos por Marina.
"Os conselhos populares não representam o que a gente pensa. Vamos dar vida aos conselhos municipais, estaduais e nacionais de educação e saúde, e não permitir que sejam aparelhados", disse.
As pessoas cochichavam em negativa. Feldman pediu novamente a palavra. "Vejo que vocês estão nervosos com isso. Temos que tomar cuidado para não remeter aos sovietes ou a organizações de esquerda. Estamos falando do que já existe", afirmou.
A explicação não convenceu. Bazileu tentou mais uma vez: "Não existe no nosso programa a expressão conselhos populares', denominamos de conselhos de participação da sociedade'. É uma questão semântica". Também não agradou e provocou risos.
A advogada Adriana Hellering, 27, avaliou: "O que me assusta em ter uma participação popular ativa é que a maioria às vezes é burra. Também acho que há forma de manipular, já que o próprio governante é quem vai escolher os representantes".
Em mais uma deferência ao perfil dos ouvintes, predominantemente simpatizantes ao PSDB, Bazileu destacou a "boa relação" de Marina com o ex-presidente FHC e disse que a candidata "defende mais o tripé macroeconômico" do que José Serra, nome dos tucanos ao Senado.
Entre as perguntas que a equipe precisou responder, o estatuto do PSB, de 1947, que limita a propriedade privada. "Isso é comunismo", assustou-se Rosangela. Feldman afirmou que o PSB apenas "abriga" Marina, que deve fundar a Rede em 2015, e que essa é uma "questão histórica do partido".
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