Por Luis Nassif, no Jornal GGN:
Historicamente, o grande embate econômico em um país se dá em torno do orçamento. Políticos populistas tratarão de utilizá-lo para atender às suas demandas de curto prazo; movimentos sociais disputarão recursos para as políticas sociais; empresários disputarão seu pedaço através de subsídios; mercadistas através dos juros da dívida pública.
Para legitimar suas demandas, cada setor tentará provar que os benefícios que recebe ajudarão no desenvolvimento geral.
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É por aí que se deve analisar a entrevista do responsável pelo plano econômico de Marina Silva, Eduardo Gianetti, ao jornal O Valor.
Gestão fiscal responsável é princípio básico de política econômica - não se discute. E se configura uma falta de respeito para com o país entregar um cargo-chave a pessoas despreparadas, assim como montar políticas de subsídios sem clareza sobre os impactos fiscais, como foram os últimos anos de governo Dilma.
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Posto isto, voltemos às duas linhas de pensamento econômico dominantes: os denominados neoliberais (representados por Gianetti) e os chamados neodesenvolvimentistas responsáveis.
Ambos defendem políticas fiscais sólidas. Ambos defendem políticas sociais, inclusão, investimentos em educação, saúde, infra-estrutura etc.
A prova do pudim é como pretendem tratar o orçamento.
*****
Hoje em dia, a maior conta fiscal é a de juros. Não se trata de uma necessidade do Tesouro para conseguir colocar títulos. A razão é uma excrescência teórica que amarra a maior parte do custo da dívida aos movimentos da taxa Selic – e esta a um suposto combate à inflação. Essa política tem mais de doze anos e até agora não há comprovação teórica de que seja eficaz.
O correto, então, seria substituir o modelo de metas inflacionários por outras formas de articulação das expectativas empresariais e deixar de se utilizar os juros como tal.
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Gianetti - e a equipe de Marina - passam ao largo dessa visão. O projeto econômico que defendem é claro:
1- Espaço total para a elevação dos juros, como instrumento de combate à inflação.
2- Equilibra-se o orçamento cortando outros gastos, especialmente subsídios.
3- Por subsídios, entenda-se a diferença, por exemplo, entre a TJLP (Taxa de Juros de Longo Prazo), aplicada nos financiamentos aos investimentos pelo BNDES, e a Selic. A TJLP segue padrões internacionais; já a Selic é uma excrescência, a taxa de juros mais alta do planeta. Para Gianetti, Selic é taxa correta e a TJLP é taxa errada. Então toca colar a TJLP na Selic.
4- Cortem-se então os subsídios aos investimentos e às políticas sociais. Haverá recursos para as políticas sociais só depois de se cobrir a conta juros e haver sobra fiscal.
*****
O governo Dilma manteve a prioridade para as políticas de subsídios econômicos e sociais, mas agiu da pior forma possível.
Saiu distribuindo subsídios sem um plano de ação articulado, seguindo exclusivamente a vontade da presidente, descuidou da transparência fiscal, criou insegurança macroeconômica e não enfrentou a questão do custo da dívida pública.
Seria relevante que, no decorrer da campanha, Dilma fosse mais explícita sobre como pretende atuar nessa área, na eventualidade de um segundo governo.
Para legitimar suas demandas, cada setor tentará provar que os benefícios que recebe ajudarão no desenvolvimento geral.
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É por aí que se deve analisar a entrevista do responsável pelo plano econômico de Marina Silva, Eduardo Gianetti, ao jornal O Valor.
Gestão fiscal responsável é princípio básico de política econômica - não se discute. E se configura uma falta de respeito para com o país entregar um cargo-chave a pessoas despreparadas, assim como montar políticas de subsídios sem clareza sobre os impactos fiscais, como foram os últimos anos de governo Dilma.
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Posto isto, voltemos às duas linhas de pensamento econômico dominantes: os denominados neoliberais (representados por Gianetti) e os chamados neodesenvolvimentistas responsáveis.
Ambos defendem políticas fiscais sólidas. Ambos defendem políticas sociais, inclusão, investimentos em educação, saúde, infra-estrutura etc.
A prova do pudim é como pretendem tratar o orçamento.
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Hoje em dia, a maior conta fiscal é a de juros. Não se trata de uma necessidade do Tesouro para conseguir colocar títulos. A razão é uma excrescência teórica que amarra a maior parte do custo da dívida aos movimentos da taxa Selic – e esta a um suposto combate à inflação. Essa política tem mais de doze anos e até agora não há comprovação teórica de que seja eficaz.
O correto, então, seria substituir o modelo de metas inflacionários por outras formas de articulação das expectativas empresariais e deixar de se utilizar os juros como tal.
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Gianetti - e a equipe de Marina - passam ao largo dessa visão. O projeto econômico que defendem é claro:
1- Espaço total para a elevação dos juros, como instrumento de combate à inflação.
2- Equilibra-se o orçamento cortando outros gastos, especialmente subsídios.
3- Por subsídios, entenda-se a diferença, por exemplo, entre a TJLP (Taxa de Juros de Longo Prazo), aplicada nos financiamentos aos investimentos pelo BNDES, e a Selic. A TJLP segue padrões internacionais; já a Selic é uma excrescência, a taxa de juros mais alta do planeta. Para Gianetti, Selic é taxa correta e a TJLP é taxa errada. Então toca colar a TJLP na Selic.
4- Cortem-se então os subsídios aos investimentos e às políticas sociais. Haverá recursos para as políticas sociais só depois de se cobrir a conta juros e haver sobra fiscal.
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O governo Dilma manteve a prioridade para as políticas de subsídios econômicos e sociais, mas agiu da pior forma possível.
Saiu distribuindo subsídios sem um plano de ação articulado, seguindo exclusivamente a vontade da presidente, descuidou da transparência fiscal, criou insegurança macroeconômica e não enfrentou a questão do custo da dívida pública.
Seria relevante que, no decorrer da campanha, Dilma fosse mais explícita sobre como pretende atuar nessa área, na eventualidade de um segundo governo.
Isto me lembra a fala de Celso Furtado, no governo Jango. Ele fez o Plano Trienal, buscando o equilíbrio da economia. Acreditava que primeiro dever-se-ia arrumar a economia. A inflação estava altíssima! Outros setores - trabalhistas, por exemplo - queriam as Reformas de Base, "já". Daí as mobilizações, a reação dos militares, as orquestrações da CIA e o golpe civil-militar. Creio que os governos progressistas - Lula e Dilma - estão certos. As Políticas Sociais e as obras de infraestrutura vieram primeiro, como uma urgência que exigia ser atendida e, ao mesmo tempo, resgataram a cidadania de milhões de brasileiros excluídos educacionalmente e do mercado-de-trabalho. A correção da economia virá agora. Isso não significa atender à agenda neoliberal dos Programas de governo de Aécio e Marina. Penso assim, grande brasileiro Luiz Nassif.
ResponderExcluirEm direção à hiperinflação
ResponderExcluirSonho do fim da inflação acaba e IPCA volta para cima do limite em agosto
Resultado de agosto impulsionado por habitação, água, esgoto e energia, leva inflação acumulada em 12 meses para 6,51%
Dificilmente o governo conseguirá manter a inflação dentro do limite estabelecido pelo BC de 6,5% ao ano.
(Foto: IBGE)
Em agosto deste ano, a inflação voltou a crescer com mais força e passou novamente o limite máximo da meta estabelecida do Banco Central, no acumulado de 12 meses. O Crescimento registrado no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em agosto foi de 0,25%, em relação a julho e o acumulado em um ano é de 6,51%.
A meta da inflação estabelecida pelo Banco Central é de 4,5% em 2014, com tolerância de dois pontos percentuais para cima ou para baixo. Durante quase o ano inteiro, no entanto, o IPCA tem variado próximo do limite máximo, de 6,5%, no acumulado de 12 meses.
Em julho, o governo e a imprensa burguesa divulgou o resultado do mês, que segundo o IPCA foi de 0,01%, como o fim do crescimento da inflação no país. Era evidente que se tratava de um resultado circunstancial, devido principalmente à redução de preços de determinados setores após a Copa do Mundo. O resultado já foi desmentido pelo último IPCA-15, que mede a inflação acumulada até o dia 15 do mês, registrado em 0,14%.
Diferente de outras épocas que o setor de alimentos era o principal problema, em agosto o preço de água, esgoto e energia foram os principais fatores para o crescimento da inflação. Devido à crise no setor energético e hídrico, revelado pela menor quantidade de chuvas este ano, os preços estão subindo. Ao todo, este ano já acumula alta de cerca de 30% no valor da energia e em 2015 deve subir ainda mais. O aumento do uso das termoelétricas, em substituição às hidrelétricas, também deve afetar o valor do combustível este ano.
O valor da habitação também aumentou no último mês, registrando alta de 0,14%. Diferente de outros índices que têm apontado uma deflação no setor, o IPCA registra que há um crescimento, ainda que menor que no último mês e em relação ao mesmo período do ano passado.
Após o aumento da inflação em agosto, o Banco Central mudou novamente a previsão da inflação no relatório Focus duas vezes. Na última semana, o BC apontava que este ano deveria terminar com 6,27% de alta nos preços, 0,01% maior que previsto no mês anterior. Já nesta semana, o Focus apontou inflação de 2014 para 6,29%. A cada edição do relatório Focus, o Banco Central tem aproximado mais sua previsão do teto da meta, o qual deve ser o resultado final do IPCA.
Ainda que com diversas distorções nos cálculos, o governo não consegue esconder que a inflação está alta e com tendência a fugir do controle. E enquanto a inflação cresce, a previsão de crescimento do PIB cai. Após o primeiro semestre ter quadro de recessão, o governo, que pretendia conseguir reverter e garantir mais de 1% de crescimento, agora aponta para 0,48%, o que é praticamente estagnação.
Mais da metade dos trabalhadores nos países emergentes do G20 está perto da linha pobreza, segundo um estudo conjunto realizado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), a Organização para a Cooperação Econômica (OCDE) e o Banco Mundial, divulgado nesta terça-feira.
ResponderExcluirSegundo o relatório Mercados de Trabalho do G20: perspectivas, principais desafios e respostas políticas, cerca de 837 milhões de trabalhadores nas economias emergentes do G20 "são pobres" e ganharam somente até US$ 4 por dia (cerca de R$ 9 na cotação atual) em 2013.
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Desse total, estima-se que 447 milhões de trabalhadores nos países emergentes do G20 sejam "extremamente" pobres (renda inferior à linha da pobreza, que é de US$ 1,25 por dia) ou "moderadamente" pobres, com ganhos de até US$ 2 diários.
Os com salários de US$ 2 a US$ 4 são considerados "próximos à pobreza".
O G20 reúne as principais economias ricas e emergentes, além da União Europeia, e representa 80% do comércio mundial.
Os dados em relação à pobreza dos trabalhadores nos emergentes do G20 incluem números do Brasil, China, Rússia, Índia, África do Sul (que formam os Brics), além da Argentina, Indonésia, México, Arábia Saudita e Turquia.
O estudo foi divulgado na véspera da reunião de ministros do Trabalho do G20, que será realizada em Melbourne, na Austrália, nos dias 10 e 11.
O documento ressalta que os emergentes do G20 fizeram "progressos enormes" na redução da pobreza extrema (abaixo de U$ 1,25) e moderada dos trabalhadores.
Nesses países, o número de pessoas que ganham até US$ 2 diários foi reduzido pela metade desde 1991, totalizando atualmente 447 milhões.
"Mas a pobreza dos trabalhadores ainda permanece um grande desafio para esses países", afirma o estudo.
Penúria de empregos
O relatório também destaca que "uma grave penúria de empregos de qualidade" perdura nos países do G20 e que isso afeta as perspectivas de retomada do crescimento econômico.
Mais de 100 milhões de pessoas continuam desempregadas nos países do G20.
"A performance medíocre do mercado de trabalho ameaça a retomada do crescimento, porque freia o consumo e o investimento", ressaltam as organizações internacionais. "O G20 está confrontado a uma fraqueza persistente do emprego tanto em quantidade quanto em qualidade."
O relatório ressalta que, apesar de alguns avanços recentes, a demora na retomada do crescimento após a crise financeira mundial, iniciada em 2008, significa que muitas economias do G20 ainda "sofrem de um déficit considerável na criação de empregos".
"Isso deverá se estender até 2018 se não houver uma certa expansão do crescimento", preveem as organizações.
Salários
O documento afirma ainda que o crescimento dos salários ficou abaixo dos aumentos de produtividade na maior parte dos países do G20. Esse fenômeno é mais acentuado nas economias ricas.
Os salários reais (descontada a inflação) estagnaram ou até mesmo caíram em várias economias avançadas do G20, segundo o relatório.
Os emergentes do G20 enfrentam outro problema: os altos índices de subemprego e de trabalho informal, sem registro, que "pesam na produção e na produtividade futura".
"O emprego informal continua sendo um grande obstáculo para a melhoria da qualidade do emprego, particularmente nos países emergentes e em desenvolvimento".
A OIT, a OCDE e o Banco Mundial recomendam, para pôr fim ao ciclo atual de crescimento econômico baixo e fraca criação de empregos, a intervenção dos governos na demanda e na oferta de empregos.
"Essas políticas seriam mais eficazes se fossem tomadas coletivamente pelo G20", diz o relatório.