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Por Carlos Pinkusfeld Bastos, no site Brasil Debate:
O velho dito popular afirma que a verdade é a primeira vítima de uma guerra. Na “batalha eleitoral”, a discussão não escapa desta máxima. Não tanto pela apresentação de dados enganosos (descontados os delírios anônimos da internet e Facebook), e mais por interpretações propositalmente confusas e previsões catastrofistas.
Não deve ser fácil ao eleitor entender por que a esquerda radical critica os governos do PT por não terem mudado nada na política macroeconômica do PSDB e o candidato deste partido lamenta o abandono da herança virtuosa de FHC.
Também não é muito razoável explicar como a comandante de uma economia à beira do caos mantém um sólido percentual de intenções de votos.
A despeito do baixo crescimento agregado da economia, aqui há claramente uma divergência entre o crescimento do produto e o emprego e salário. Se, de fato, o crescimento do produto agregado, o PIB, tem sido decepcionante, o comportamento dessas duas outras variáveis, que afetam diretamente a vida da grande maioria da população, não.
A taxa de desemprego nas regiões metropolitanas foi 4,9% em abril de 2014 (contra 10,5% do último mês de governo tucano, em 2002) e, apesar de um comportamento de retração no primeiro trimestre de 2014, o salário real nestas mesmas regiões metropolitanas ainda é quase 4,5% superior àquele do mesmo período do ano anterior.
Esse aparente “descasamento” não significa que tais variáveis macroeconômicas não se relacionem, ou não existam implicações importantes e mútuas entre elas.
Em termos de criação de empregos, o mercado de trabalho acaba sofrendo o impacto, ainda que com defasagens, de um pior desempenho do PIB e, sem dúvida, este é um desafio para o próximo governo: o que, e como fazer para estimular a economia, garantindo que seu crescimento se torne mais robusto e permita que variáveis sociais relevantes, como o salário mínimo, continuem a crescer de forma consistente.
Nunca é demais lembrar que a lei do salário mínimo, alvo de tão continuado ataque por parte de economistas da oposição, associa o crescimento real do salário ao crescimento per capita do PIB.
Baixo crescimento representa não só um mercado de trabalho fraco, com impacto direto sobre o emprego e indireto sobre o poder de barganha dos trabalhadores, como também baixo crescimento ou estagnação do salário mínimo.
Mas é justamente na questão da retomada do crescimento que as “contradições” da oposição e mídia se tornam mais graves. Ao mesmo tempo em que criticam o baixo crescimento, também criticam uma excessiva inflação, que, por sua vez, seria reflexo de um excesso de demanda, tendo um suposto descontrole fiscal como seu componente central. Consistentemente, propõe-se um ajuste fiscal por corte de gastos, uma vez que a carga tributária já estaria alta demais.
Ora, pode-se discutir a validade dessa interpretação ortodoxa para a economia brasileira, mas, uma vez sendo adotada, uma relação de causalidade e, consequentemente, políticas econômicas, decorrem diretamente.
Assim, tal interpretação e as propostas que daí decorrem sinalizam para menos e não mais crescimento; para menor, e não maior, emprego e, certamente, dadas as críticas contumazes ao salário mínimo, a uma retração da massa salarial.
O governo, ao menos seguindo a lógica do argumento ortodoxo, não pode ser simultaneamente culpado por inflação, supostamente elevada, e baixo crescimento.
Os candidatos da oposição, críticos da política econômica do governo, não podem prometer, ao mesmo tempo, o céu da aceleração do crescimento e o céu da queda da inflação. Se quiserem ser honestos, alguma passagem pelo inferno tem que estar prevista e anunciada.
Entretanto, este é apenas um exercício de exploração da lógica da retórica, ou a falta de, dos candidatos da oposição. Não é uma alternativa inelutável de política econômica.
Para que não seja, há que se reconhecer que uma inflação, basicamente de salários e relativamente baixa, ou seja, em grande medida causada pela própria elevação de salários em setores como o de serviços, é um preço a ser pago para o avanço de uma sociedade mais justa no Brasil. Processo socioeconômico, aliás, pelo qual já passaram países ricos e com melhor distribuição de renda como Japão e Suécia.
O problema é: como levar adiante esse processo frente a um complô da oposição, partidária ou não, em transformar o fantasma da “inflação fora de controle” na sua grande bandeira?
Infelizmente, o próprio governo Dilma caiu nessa armadilha e abortou, com uma política fiscal contracionista, o momento de forte crescimento que herdou do governo de Lula em 2011.
Se é verdade que por um lado uma política de aceleração do crescimento, associada a outras políticas distributivas e sociais progressistas, certamente fortalece a posição de barganha dos trabalhadores, por outro, cria um espaço, por meio de maiores ganhos de produtividade, para uma acomodação de demandas conflitantes das distintas classes sociais.
Ademais, se não é para elevar o nível de vida das massas trabalhadoras, gerar mais emprego e melhorar a distribuição de renda, a que se propõe um governo de esquerda e trabalhista?
Se a retórica da oposição é claramente eleitoreira e pouco consistente, a do governo não deve ser defensiva. A flexibilização informal, na prática, da política de metas, ou seja, uma aceitação tácita de se ter uma inflação que oscila próxima ao teto da meta é a tradução em economês da frase do ex- presidente Lula “não queremos combater a inflação com desemprego”.
A falta de consistência e rigor empírico parecem dominar a agenda econômica da oposição sob um peso, quase marcial, de uma aparente competência técnica e “impecável” eficiência gerencial.
O que é no mínimo curioso e não espanta. Afinal, quando pela última vez no poder, essa mesma falsa competência, embalada pela empáfia tradicional das elites periféricas, e temperada com altas doses de cálculo eleitoreiro, nos brindou com uma crise cambial na qual, entre setembro de 1998 e janeiro de 1999, perdemos a bagatela de US$ 35 bilhões em reservas cambiais, antes que o regime cambial passasse de bandas para flutuação suja. Nesse ano de 1999 a inflação, por sua vez, chegou a cerca de 9%.
Parece, como mencionado anteriormente, que uma parcela expressiva do eleitor tem seu voto influenciado mais por variáveis macroeconômicas que afetam diretamente seu dia a dia, somado à comparação da evolução destas com um passado nem tão distante, do que por manchetes da grande imprensa ou (não) debates (afinal todos concordam) tediosos das TVs fechadas.
Desta forma, a crise econômica é mais um slogan de campanha do que análise fundamentada. Isto não quer dizer que a economia brasileira cruza, em velocidade acelerada, um céu de brigadeiro. Ao contrário. Há desafios no front externo e interno cuja solução é complexa, tanto do ponto de vista técnico quanto das tensões sociais que envolvem.
O que um eventual governo do PT precisa é não se deixar levar pela retórica conservadora da agenda imposta pela mídia, sob pena de jogar pelo ralo o legado de inclusão e crescimento com mais equidade social que marcou até hoje sua gestão.
Que o partido reflita sobre a irrelevância eleitoral, para sermos gentis, do ex-presidente FHC na campanha atual, na qual sua reaparição é mais sinal de falta de ideias novas do que um trunfo para transferência de votos. Que seja mais si mesmo e menos do que os conservadores queriam que fosse.
Não deve ser fácil ao eleitor entender por que a esquerda radical critica os governos do PT por não terem mudado nada na política macroeconômica do PSDB e o candidato deste partido lamenta o abandono da herança virtuosa de FHC.
Também não é muito razoável explicar como a comandante de uma economia à beira do caos mantém um sólido percentual de intenções de votos.
A despeito do baixo crescimento agregado da economia, aqui há claramente uma divergência entre o crescimento do produto e o emprego e salário. Se, de fato, o crescimento do produto agregado, o PIB, tem sido decepcionante, o comportamento dessas duas outras variáveis, que afetam diretamente a vida da grande maioria da população, não.
A taxa de desemprego nas regiões metropolitanas foi 4,9% em abril de 2014 (contra 10,5% do último mês de governo tucano, em 2002) e, apesar de um comportamento de retração no primeiro trimestre de 2014, o salário real nestas mesmas regiões metropolitanas ainda é quase 4,5% superior àquele do mesmo período do ano anterior.
Esse aparente “descasamento” não significa que tais variáveis macroeconômicas não se relacionem, ou não existam implicações importantes e mútuas entre elas.
Em termos de criação de empregos, o mercado de trabalho acaba sofrendo o impacto, ainda que com defasagens, de um pior desempenho do PIB e, sem dúvida, este é um desafio para o próximo governo: o que, e como fazer para estimular a economia, garantindo que seu crescimento se torne mais robusto e permita que variáveis sociais relevantes, como o salário mínimo, continuem a crescer de forma consistente.
Nunca é demais lembrar que a lei do salário mínimo, alvo de tão continuado ataque por parte de economistas da oposição, associa o crescimento real do salário ao crescimento per capita do PIB.
Baixo crescimento representa não só um mercado de trabalho fraco, com impacto direto sobre o emprego e indireto sobre o poder de barganha dos trabalhadores, como também baixo crescimento ou estagnação do salário mínimo.
Mas é justamente na questão da retomada do crescimento que as “contradições” da oposição e mídia se tornam mais graves. Ao mesmo tempo em que criticam o baixo crescimento, também criticam uma excessiva inflação, que, por sua vez, seria reflexo de um excesso de demanda, tendo um suposto descontrole fiscal como seu componente central. Consistentemente, propõe-se um ajuste fiscal por corte de gastos, uma vez que a carga tributária já estaria alta demais.
Ora, pode-se discutir a validade dessa interpretação ortodoxa para a economia brasileira, mas, uma vez sendo adotada, uma relação de causalidade e, consequentemente, políticas econômicas, decorrem diretamente.
Assim, tal interpretação e as propostas que daí decorrem sinalizam para menos e não mais crescimento; para menor, e não maior, emprego e, certamente, dadas as críticas contumazes ao salário mínimo, a uma retração da massa salarial.
O governo, ao menos seguindo a lógica do argumento ortodoxo, não pode ser simultaneamente culpado por inflação, supostamente elevada, e baixo crescimento.
Os candidatos da oposição, críticos da política econômica do governo, não podem prometer, ao mesmo tempo, o céu da aceleração do crescimento e o céu da queda da inflação. Se quiserem ser honestos, alguma passagem pelo inferno tem que estar prevista e anunciada.
Entretanto, este é apenas um exercício de exploração da lógica da retórica, ou a falta de, dos candidatos da oposição. Não é uma alternativa inelutável de política econômica.
Para que não seja, há que se reconhecer que uma inflação, basicamente de salários e relativamente baixa, ou seja, em grande medida causada pela própria elevação de salários em setores como o de serviços, é um preço a ser pago para o avanço de uma sociedade mais justa no Brasil. Processo socioeconômico, aliás, pelo qual já passaram países ricos e com melhor distribuição de renda como Japão e Suécia.
O problema é: como levar adiante esse processo frente a um complô da oposição, partidária ou não, em transformar o fantasma da “inflação fora de controle” na sua grande bandeira?
Infelizmente, o próprio governo Dilma caiu nessa armadilha e abortou, com uma política fiscal contracionista, o momento de forte crescimento que herdou do governo de Lula em 2011.
Se é verdade que por um lado uma política de aceleração do crescimento, associada a outras políticas distributivas e sociais progressistas, certamente fortalece a posição de barganha dos trabalhadores, por outro, cria um espaço, por meio de maiores ganhos de produtividade, para uma acomodação de demandas conflitantes das distintas classes sociais.
Ademais, se não é para elevar o nível de vida das massas trabalhadoras, gerar mais emprego e melhorar a distribuição de renda, a que se propõe um governo de esquerda e trabalhista?
Se a retórica da oposição é claramente eleitoreira e pouco consistente, a do governo não deve ser defensiva. A flexibilização informal, na prática, da política de metas, ou seja, uma aceitação tácita de se ter uma inflação que oscila próxima ao teto da meta é a tradução em economês da frase do ex- presidente Lula “não queremos combater a inflação com desemprego”.
A falta de consistência e rigor empírico parecem dominar a agenda econômica da oposição sob um peso, quase marcial, de uma aparente competência técnica e “impecável” eficiência gerencial.
O que é no mínimo curioso e não espanta. Afinal, quando pela última vez no poder, essa mesma falsa competência, embalada pela empáfia tradicional das elites periféricas, e temperada com altas doses de cálculo eleitoreiro, nos brindou com uma crise cambial na qual, entre setembro de 1998 e janeiro de 1999, perdemos a bagatela de US$ 35 bilhões em reservas cambiais, antes que o regime cambial passasse de bandas para flutuação suja. Nesse ano de 1999 a inflação, por sua vez, chegou a cerca de 9%.
Parece, como mencionado anteriormente, que uma parcela expressiva do eleitor tem seu voto influenciado mais por variáveis macroeconômicas que afetam diretamente seu dia a dia, somado à comparação da evolução destas com um passado nem tão distante, do que por manchetes da grande imprensa ou (não) debates (afinal todos concordam) tediosos das TVs fechadas.
Desta forma, a crise econômica é mais um slogan de campanha do que análise fundamentada. Isto não quer dizer que a economia brasileira cruza, em velocidade acelerada, um céu de brigadeiro. Ao contrário. Há desafios no front externo e interno cuja solução é complexa, tanto do ponto de vista técnico quanto das tensões sociais que envolvem.
O que um eventual governo do PT precisa é não se deixar levar pela retórica conservadora da agenda imposta pela mídia, sob pena de jogar pelo ralo o legado de inclusão e crescimento com mais equidade social que marcou até hoje sua gestão.
Que o partido reflita sobre a irrelevância eleitoral, para sermos gentis, do ex-presidente FHC na campanha atual, na qual sua reaparição é mais sinal de falta de ideias novas do que um trunfo para transferência de votos. Que seja mais si mesmo e menos do que os conservadores queriam que fosse.
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