O Ibope certamente gostaria, mas os números não deram para “chegar lá”: colocar Marina Silva à frente de Dilma Rousseff no primeiro turno.
No segundo, há alguma verossimilhança, porque resta um resíduo numérico de Aécio - muito mais do que real, pois sua candidatura desmilinguiu-se - ao qual atribuir a transferência dos votos a Marina da segunda etapa.
Logo veremos que não é assim, nem será assim.
O dado mais importante, para mim, é que nem o Ibope – e antes o Datafolha – conseguiram registrar uma erosão na base de apoio de Dilma Rousseff.
Todos os seus indicadores: avaliação de governo e taxa de rejeição melhoraram.
O fator que levou a isso não está esgotado, ao contrário: os programas de televisão.
Ela continua tendo um patamar mais que sólido para não apenas ir ao segundo turno como para vencê-lo.
Porque, se não acendeu um sinal amarelo (diria até laranja) em sua campanha é que estão “papando mosca”.
Marina começa a adquirir a característica de candidata de uma seita.
O de uma candidata confessional.
O que não agrada nem mesmo a uma expressiva parcela do eleitorado evangélico, que dirá os católicos, os de cultos afro-brasileiros e os que, com qualquer religião ou sem ela, entendem o Estado como patrimônio de toda a comunidade.
Os efeitos da demonstração de poder de Silas Malafaia ultrapassam em muito a desilusão da comunidade LGBT com sua ex-deusa.
Serviram de alerta sobre a capacidade de certos líderes polêmicos e agressivos de dominar e dirigir a neocandidata do PSB, que está completamente inerte quanto a isso. De um lado, por oportunismo eleitoral; de outro, porque não vê como se livrar da lama do jatinho que, mesmo ainda não tendo caído na “boca do povo” já os colocou em enormes dificuldades nos círculos políticos.
Mas é no povão que este desgaste bate pesado.
Aqui no Rio, já é possível ouvir a irreverência carioca fazendo galhofa da exibição de força de Malafaia e da rápida submissão de Marina às suas exigências: de domingo para cá já ouvi que a reforma tributária abolirá os impostos e instituirá o dízimo e que o “Mais Médicos” vai virar o “Mais Pastores”…
Isso é um desserviço não apenas à democracia, mas também aos próprios evangélicos, que devem ser respeitados em sua fé e suas práticas.
O fato concreto é que a “onda Marina” chegou à praia e, embora ainda tenha avançado, vai se dissolvendo em espuma.
Ainda falta um mês para as eleições.
O cenário é, ainda, extremamente perigoso.
Mas o turbilhão, ao que parece, vai minguar.
E, atenção: se a direita orgânica – a mídia à frente dela – se convencer que Marina não pode dar-lhe o que quer, que é a derrota de Lula e Dilma – pode decidir “executar” Marina Silva antes do pleito.
E tentar remontar os cacos do PSDB.
Mas, lembrem-se todos: analisar eleição com base em dados de Ibope e Datafolha é trabalhar com uma espécie de “advogado do diabo” numérica.
Outras pesquisas mostram que a “onda” é bem menor.
Algo me diz que é por isso que Lula, velho marinheiro, em meio ao nevoeiro, leva o barco devagar.
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