sábado, 6 de setembro de 2014

Aécio, Marina e a delação premiada

Por Antônio de Souza, no blog Viomundo:

Tudo indica que a delação premiada de Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras, é uma operação casada que envolve setores da Polícia Federal, que vazaram as informações, os tucanos e a velha mídia.

Para entender o está acontecendo neste momento é preciso voltar um pouco no tempo.

Com o intuito de detonar a reeleição de Dilma Rousseff, a candidata do PT à Presidência da República, a mídia insuflou exaustivamente a candidatura de Marina Silva, do PSB.

Só que o movimento midiático pró-Marina acabou sendo um tiro no pé da própria mídia. É que fragilizou demais o seu candidato preferencial, Aécio Neves, e o próprio PSDB. Está trazendo danos sérios às campanhas tucanas não apenas em Minas Gerais - lá Aécio está em terceiro lugar - mas também no Brasil. As bancadas do PSDB nas assembleias estaduais e na Câmara dos Deputados correm o risco de minguar muito, transformando a sigla num partido nanico.

Associa-se a isso o fato de Marina apresentar baixa possibilidade de sustentabilidade política e se negar a fazer acordos políticos.

O movimento da mídia está transparente no discurso de Aécio, que fala em PT 1 e PT 2, que seria a candidatura Marina.

A denúncia da Operação Lava Jato atinge o governo, fato, aliás, já sabido. Mas a novidade é que o pai da “nova política” aparece citado: Eduardo Campos.

As relações de Campos com Paulo Roberto Costa são antigas.

Tanto que o ex-diretor da Petrobras pediu e a Justiça autorizou que Campos prestasse depoimento no processo da Operação Lava Jato como sua testemunha de defesa.

Isso é importante porque ajuda a jogar luz na história do avião de Campos.

Reportagem da Folha de S. Paulo dessa sexta-feira mostra que empresas que pagaram o avião do falecido governador de Pernambuco tiveram relação com o esquema do doleiro Alberto Youssef.

Diante dessas revelações, fica no ar que Aécio já sabe que poderá surgir o pedido de cassação da candidatura de Marina a qualquer momento antes das eleições.

Além disso, soma-se a preocupação do governador Geraldo Alckmin, candidato do PSDB à reeleição, de evitar um segundo turno, especialmente devido ao crescimento natural das candidaturas de Alexandre Padilha (PT) e Paulo Skaf (PMDB).

Alckmin e a grande imprensa perceberam que o discurso do “vamos mudar tudo” pode ter impacto nas campanhas estaduais e fazer com que o PSDB paulista e o mineiro também sejam varridos nesse movimento.

Esse conjunto de fatores ajuda a compreender por que o tradicional denuncismo da mídia há 15 dias, uma semana antes da eleição, foi antecipado. Até porque sem fato novo a candidatura de Aécio definhava a olhos vistos. Havia o recado de que se esse cenário não mudasse 15 dias antes da eleição a candidatura tucana poderia virar pó.

Pior ainda para a direita que com a força de Dilma e do PT ainda preservada, conseguindo eleger bancadas de peso, associada ao possível enfraquecimento tucano, levaria Marina a negociar com o PT para ter governabilidade

Aparentemente, a mídia, ao constatar o tiro que desferir no seu próprio pé, começa a tentar fazer o caminho de volta.

Dessa maneira, o alvo agora também é Marina. Teremos um final de campanha arrepiante.

PS: Curiosamente, a mídia não publicou até o momento a relação completa dos parlamentares delatados talvez para preservar alguns aliados seus.

Lembro aqui as relações entre Luiz Argolo, do partido Solidariedade, que aparecia em negociações com o ex-delegado e deputado federal Fernando Francischini, também do Solidariedade (ex-PSDB). Franchiscini, além de ser um dos canais de vazamento da Operação Lava Jato da Polícia Federal, é citado nela. Argolo, por sua vez, é acusado de ser sócio do doleiro Alberto Yousseff. Ou seja, Francischini, o acusador-mor, pode estar envolvido em todo este esquema.

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