Por Hildegard Angel, em seu blog:
Os tons do cenário se alternam em torno do Lago de Bourget, na Savoia francesa. Dias amanhecem cinzentos, com raios prata filtrados pelas nuvens, penetrando as águas límpidas, diz-se que das mais puras da Europa. Outros são dias fulgurantemente azuis, iluminando o biombo de montanhas que cerca o lago, cobertas por pinheiros e plátanos de várias tonalidades de verde, espetáculo indescritível, visão de cortar o fôlego de qualquer olhar. Que privilégio estar aqui, viver aqui, escolher amadurecer por aqui!
Foi na contemplação dessa beleza que o poeta Lamartine escreveu sua obra-prima: Le Lac. Suas estrofes podem ser encontradas por toda a parte na região. Em Aix Les Bains, na parede do Casino ou gravadas em placas de aço de sinalização, na marina onde tremulam velas de barcos ancorados; em Tresserve, inscritas em pedras convidativas para casais apaixonados namorarem, em algum parque à beira do lago; na fachada de uma casinha singela e centenária em Chambery.
Uma delas:
“Ô Temps ! suspends ton vol, et vous, heures propices !
Suspendez votre cours:
Laissez-nous savourer les rapides délices
Des plus beaux de nos jours !”…
“Ó Tempo! suspenda teu voo, e vós, Horas Propícias! / Suspendam vosso curso: / Deixem-nos saborear as rápidas delícias / Dos mais belos de nossos dias!” – Suspirou em seu poema o inspirado Alphonse de Lamartine.
Esqueci-me, entretanto, de quando jovem fazer o mesmo pedido ao Tempo ou às Horas Propícias, diante do magnífico Lago de Bourget, onde escolheu viver minha doce e amorosa irmã.
Minha alternativa de vida foram as águas sempre turbulentas do meu país. Correntezas ingratas e contraditórias.
Vivemos momento de águas encrespadas no Brasil. Iemanjá deve estar nervosa, descompensada. Pela primeira vez vejo empresários de alto porte desancarem abertamente governo e governante, fazerem ameaças, descerem de sobre seus convenientes muros.
Banqueiros, presidentes de multinacionais, de entidades classistas tomam posição com todas as letras, em escancarado português.
Jornalistas “vaselina” de notória tradição jogam sobre a conta do governo da presidenta Dilma a responsabilidade por “roubalheiras”. O jogo é pesado.
Em saudável exercício democrático, a direita finalmente aparenta correr riscos em nome de suas convicções. O que me leva a ficar preocupadíssima!…
Se a velha e precavida extrema direita não está mais se equilibrando sobre o muro é porque se julga em solo firme no lado que escolheu pisar. Ocorre que nas únicas e poucas vezes em que ela falou francamente aconteceu de ser às vésperas de algum golpe de Estado. Estava muito bem respaldada, não precisava de muro.
No seu vocabulário, muro. Fio da navalha, no meu.
Os livros de História contam que a direitona foi toda franqueza, coragem e virulência quando planejou destronar Getúlio. Agiu da mesma forma no pré 64, falando grosso e empinando o peito como um Baixo profundo.
Vamos, no próximo dia 5, para um novo embate nas urnas. Cinco décadas se passaram desde o último golpe de estado. As novas gerações não viram, não sabem, ignoram. Em nome da boa saúde mental, muitos da velha geração se esqueceram daqueles anos linha dura. Outros não se lembram porque já morreram. Alguns outros foram mortos. Os que se omitiram, não viram ou não quiseram ver. Os coniventes até gostaram. Os sucessores dos vilões se empenham em lhes retocar as imagens. Os herdeiros das cicatrizes dessas tragédias carregam a missão pesada de alardeá-las, para que não se repitam.
Não, não há clima para novo golpe, todos dizem e repetem. Contudo, uma ditadura não precisa se originar obrigatoriamente de um golpe de Estado de generais – com escaramuças quase anedóticas na tomada do poder, como foram aquelas de 1964 -, e suas consequências nefastas em todos os aspectos: humanos, culturais, morais, econômicos, cívicos.
Hoje, são os grandes interesses financeiros internacionais, e também os nacionais, que desejam se tornar os ditadores do Brasil. De cara, anunciam pretender reverter conquistas históricas de nosso povo, como as leis do trabalho – a CLT; pretender entregar a exploração do Pré-Sal às empresas estrangeiras e, consequentemente, seu lucro, (indo por terra a esperança de educação e saúde para todos os brasileiros); pretender a autonomia do Banco Central, expondo o povo à face mais selvagem do capitalismo.
Não gosto de rótulos. Direita, esquerda, centro. Você não precisa ser, obrigatoriamente, totalmente de direita, de esquerda, de centro.
Capitalismo, socialismo, comunismo, sinceramente, qualquer que seja o sistema econômico, ele poderá ser nocivo ou construtivo, dependendo do peso que tenha, na balança do governante, o Fator B.
Não, não falo do Fator P, Fator Previdenciário, que calcula aposentadorias por tempo, contribuição, idades e também está em pauta nesta campanha.
O Fator B ao qual me refiro é o Fator Bondade. Não haverá sistema econômico, regime de governo, posição ideológica, projeto político, que contemple um governo neste milênio atormentado, que mereça alguma simpatia ou atenção se não priorizar o ser Humano, sua felicidade, seu bem estar, deixando em segundo plano a voracidade do lucro, a malignidade das ambições de poucos privilegiados, que atuem em detrimento de milhões de vidas humanas.
Por esse singelo motivo, não me representa quem não tem programa, nem coerência, nem ideologia e cujo único projeto é ganhar, custe o que custar, ligue-se a quem se ligar, colocando como prioridade na balança a equação perversa que soma o Fator L, de Lucro desmedido em detrimento do bem estar do povo, + o Fator I, de Indiferença com as vidas humanas, + o Fator P, de privilégios para muito poucos.
Também não me representa quem terceiriza às seitas pentecostais razões do progresso científico (células tronco), do casamento entre homossexuais e a questão da mulher, quando o aborto é a quinta causa de morte feminina neste templo da hipocrisia chamado Brasil, onde a mulher rica (somente ela) pode abortar em segurança na sexta e, no domingo, ir orar na igreja de sua devoção.
Todos esses motivos só reafirmam minha confiança na continuidade do programa empreendido por Dilma Rousseff, minha candidata.
Foi na contemplação dessa beleza que o poeta Lamartine escreveu sua obra-prima: Le Lac. Suas estrofes podem ser encontradas por toda a parte na região. Em Aix Les Bains, na parede do Casino ou gravadas em placas de aço de sinalização, na marina onde tremulam velas de barcos ancorados; em Tresserve, inscritas em pedras convidativas para casais apaixonados namorarem, em algum parque à beira do lago; na fachada de uma casinha singela e centenária em Chambery.
Uma delas:
“Ô Temps ! suspends ton vol, et vous, heures propices !
Suspendez votre cours:
Laissez-nous savourer les rapides délices
Des plus beaux de nos jours !”…
“Ó Tempo! suspenda teu voo, e vós, Horas Propícias! / Suspendam vosso curso: / Deixem-nos saborear as rápidas delícias / Dos mais belos de nossos dias!” – Suspirou em seu poema o inspirado Alphonse de Lamartine.
Esqueci-me, entretanto, de quando jovem fazer o mesmo pedido ao Tempo ou às Horas Propícias, diante do magnífico Lago de Bourget, onde escolheu viver minha doce e amorosa irmã.
Minha alternativa de vida foram as águas sempre turbulentas do meu país. Correntezas ingratas e contraditórias.
Vivemos momento de águas encrespadas no Brasil. Iemanjá deve estar nervosa, descompensada. Pela primeira vez vejo empresários de alto porte desancarem abertamente governo e governante, fazerem ameaças, descerem de sobre seus convenientes muros.
Banqueiros, presidentes de multinacionais, de entidades classistas tomam posição com todas as letras, em escancarado português.
Jornalistas “vaselina” de notória tradição jogam sobre a conta do governo da presidenta Dilma a responsabilidade por “roubalheiras”. O jogo é pesado.
Em saudável exercício democrático, a direita finalmente aparenta correr riscos em nome de suas convicções. O que me leva a ficar preocupadíssima!…
Se a velha e precavida extrema direita não está mais se equilibrando sobre o muro é porque se julga em solo firme no lado que escolheu pisar. Ocorre que nas únicas e poucas vezes em que ela falou francamente aconteceu de ser às vésperas de algum golpe de Estado. Estava muito bem respaldada, não precisava de muro.
No seu vocabulário, muro. Fio da navalha, no meu.
Os livros de História contam que a direitona foi toda franqueza, coragem e virulência quando planejou destronar Getúlio. Agiu da mesma forma no pré 64, falando grosso e empinando o peito como um Baixo profundo.
Vamos, no próximo dia 5, para um novo embate nas urnas. Cinco décadas se passaram desde o último golpe de estado. As novas gerações não viram, não sabem, ignoram. Em nome da boa saúde mental, muitos da velha geração se esqueceram daqueles anos linha dura. Outros não se lembram porque já morreram. Alguns outros foram mortos. Os que se omitiram, não viram ou não quiseram ver. Os coniventes até gostaram. Os sucessores dos vilões se empenham em lhes retocar as imagens. Os herdeiros das cicatrizes dessas tragédias carregam a missão pesada de alardeá-las, para que não se repitam.
Não, não há clima para novo golpe, todos dizem e repetem. Contudo, uma ditadura não precisa se originar obrigatoriamente de um golpe de Estado de generais – com escaramuças quase anedóticas na tomada do poder, como foram aquelas de 1964 -, e suas consequências nefastas em todos os aspectos: humanos, culturais, morais, econômicos, cívicos.
Hoje, são os grandes interesses financeiros internacionais, e também os nacionais, que desejam se tornar os ditadores do Brasil. De cara, anunciam pretender reverter conquistas históricas de nosso povo, como as leis do trabalho – a CLT; pretender entregar a exploração do Pré-Sal às empresas estrangeiras e, consequentemente, seu lucro, (indo por terra a esperança de educação e saúde para todos os brasileiros); pretender a autonomia do Banco Central, expondo o povo à face mais selvagem do capitalismo.
Não gosto de rótulos. Direita, esquerda, centro. Você não precisa ser, obrigatoriamente, totalmente de direita, de esquerda, de centro.
Capitalismo, socialismo, comunismo, sinceramente, qualquer que seja o sistema econômico, ele poderá ser nocivo ou construtivo, dependendo do peso que tenha, na balança do governante, o Fator B.
Não, não falo do Fator P, Fator Previdenciário, que calcula aposentadorias por tempo, contribuição, idades e também está em pauta nesta campanha.
O Fator B ao qual me refiro é o Fator Bondade. Não haverá sistema econômico, regime de governo, posição ideológica, projeto político, que contemple um governo neste milênio atormentado, que mereça alguma simpatia ou atenção se não priorizar o ser Humano, sua felicidade, seu bem estar, deixando em segundo plano a voracidade do lucro, a malignidade das ambições de poucos privilegiados, que atuem em detrimento de milhões de vidas humanas.
Por esse singelo motivo, não me representa quem não tem programa, nem coerência, nem ideologia e cujo único projeto é ganhar, custe o que custar, ligue-se a quem se ligar, colocando como prioridade na balança a equação perversa que soma o Fator L, de Lucro desmedido em detrimento do bem estar do povo, + o Fator I, de Indiferença com as vidas humanas, + o Fator P, de privilégios para muito poucos.
Também não me representa quem terceiriza às seitas pentecostais razões do progresso científico (células tronco), do casamento entre homossexuais e a questão da mulher, quando o aborto é a quinta causa de morte feminina neste templo da hipocrisia chamado Brasil, onde a mulher rica (somente ela) pode abortar em segurança na sexta e, no domingo, ir orar na igreja de sua devoção.
Todos esses motivos só reafirmam minha confiança na continuidade do programa empreendido por Dilma Rousseff, minha candidata.
Belíssimo texto; parafraseando o Chico...quem é essa mulher cuja filha sempre que escreve me faz chorar?
ResponderExcluirCara Hildegard. Depois do debate de ontem (28/09/2014), na TV Record, esse texto adquiriu um caráter visionário: a direita "desceu do muro" e, descaradamente, sente-se à vontade para expor seu entreguismo, seus preconceitos, sua hipocrisia, sua ganância pelo poder. Você deveria escrever mais sobre a conjuntura. Obrigada por sua honestidade e firmeza. Obrigada pela delicadeza da citação poética tão apropriada para deslindar as turbulências provocadas pelas armações de golpistas contrárias aos aos interesses dos trabalhadores e do Brasil.
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