Por Emir Sader, no site Carta Maior:
Mas esse processo afetou também os partidos tradicionais da esquerda. Alguns aderiram a variantes do neoliberalismo – como os social democratas ou nacionalistas –, outros foram diretamente afetados pelo fim da URSS – em particular os partidos comunistas. Nesse marco movimentos sociais e mesmo ONGs participaram ativamente da resistência ao neoliberalismo ascendente.
Com as novas temáticas e essas transformações no campo político-partidário, surgiram também novos enfoques teóricos, que passaram a se centra na “sociedade civil” em lugar de abordagens de classes sociais, com um forte viés anti-Estado, anti-partido, anti-politica. O próprio Fórum Social Mundial foi organizado nesse movimento, proibindo a participação de partidos e se localizando no campo da “sociedade civil”.
O partido verde de maior projeção internacional, o alemão, protagonizou o caso mais significativo. Porque teve mais apoio eleitoral, ocupou cargos mais importantes – o de Ministro e Vice-Ministro de Relacoes Exteriores, com Joschka Fischer, de 1998 a 2005, no governo de Gerhard Schroeder – e aí pôde evidenciar mais claramente como realismo politico levou os verdes alemães a desempenhar um papel muito negativo. Fischer apoiou a todas as aventuras militares norte-americanas, incluídas todas as do governo de George Bush.
Na Franca, sem ocupar cargos de governo, os verdes, sob a liderança de Daniel Cohn-Bendit, se descaracterizaram completamente, até mesmo como força de esquerda. Aqui mesmo no Brasil, a imagem de Fernando Gabeira seguiu trajetória similar e ainda pior, tornando-se aliado estreito dos governos e candidaturas tucanas.
Não é portanto novidade que Marina Silva, aquela que parecia diferenciar-se dos outros lideres verdes ao fazer parte do governo de esquerda no Brasil, terminasse reproduzindo a mesma descaracterização. Seu passado verde já nem deixou marcar na sua plataforma atual – pro capital financeiro e pro capital estrangeiro. E’ apenas mais um exemplo de que os verdes, quando se destacam da esquerda, terminam, pela via da equidistância da esquerda e da direita, despolitizando-se e fazendo o jogo da direita.
Caros Miro e Emir, me desculpem, mas tenho que discordar da avaliação do Emir (que admiro muito) no post acima: "Ecologistas vão para a direita".
ResponderExcluirEu sou um "verde" desde que voltei dos meus estudos na Bélgica no final dos anos 70. Depois disto procurei compreender melhor o conceito de sustentabilidade, que estrutura o pensamento verde. Depois de compreender melhor o conceito de sustentabilidade cheguei a conclusão que a economia liberal e a defesa do meio ambiente seriam praticamente excludentes. Hoje eu tenho certeza de que o pensamento mais a direita (economia liberal) não permite uma gestão social sustentável. Piketty demonstra isto de forma clara em seu livro "O capitalismo do século XXI". Sendo assim, não é possível ao mesmo tempo defendermos a sustentabilidade e uma proposta de governo baseada na economia liberal. Na minha opinião os "verdes" que se alinham com os partidos e pensamento da direita ou são meros aproveitadores ou de fato não sabem o que é sustentabilidade. Um abraço, Julio Grillo