Por Luciano Martins Costa, no Observatório da Imprensa:
Uma página inteira do jornal O Estado de S. Paulo traça, na edição de sexta-feira (12/9), um perfil malicioso da educadora e socióloga Maria Alice Setubal, conhecida como Neca Setubal, acionista do Banco Itaú e coordenadora da campanha da ex-ministra Marina Silva à Presidência da República. As três faces da personagem estão presentes na reportagem, mas o diário paulista se interessa especialmente por outro aspecto: o papel dela como principal financiadora individual da candidatura do PSB.
O conjunto de textos também informa que o Banco Itaú é um dos 20 maiores doadores entre pessoas jurídicas, com quase RS$ 11 milhões distribuídos entre os partidos até o fim de agosto, período coberto pelo levantamento. No que se refere ao financiamento direto dos candidatos à Presidência da República, o banco só havia dado dinheiro para a oposição: o senador Aécio Neves, do PSDB, e o ex-governador Eduardo Campos, candidato do PSB até sua morte num acidente de aviação, receberam R$ 2 milhões cada um, e até José Maria Eymael, do “nanico” PSDC, foi contemplado, com uma ajuda de R$ 50 mil. A candidatura da presidente Dilma Rousseff, do PT, não recebeu um centavo do Itaú.
Pessoalmente, Neca Setubal dirigiu todo seu apoio financeiro ao partido que assessora, enquanto o banco do qual é acionista apostou pesadamente no PSDB: além da ajuda direta a Aécio Neves, o partido recebeu do Banco Itaú nada menos do que R$ 3,07 milhões para distribuir entre outros de seus candidatos. Em segundo lugar na lista de beneficiários vem o PSB, que foi agraciado com R$ 2,15 milhões; na terceira posição fica o PMDB, que recebeu R$ 1,38 milhão. O Partido dos Trabalhadores ficou em quinto lugar na preferência do banco, com R$ 995 mil, abaixo do PSD.
Entre os textos que ocupam a página há uma referência à Cenpec, entidade dirigida por Neca Setubal, que foi beneficiada por convênios nos governos do ex-presidente Lula da Silva e de Dilma Rousseff, com verbas que totalizaram R$ 32,2 milhões. No conjunto, o material produz um efeito negativo tanto sobre a imagem da socióloga quanto sobre a reputação do banco, considerando-se o contexto belicoso que é criado no calor da disputa eleitoral.
Conspiração e jornalismo
A pergunta que não quer calar: que motivações teria o jornal paulista para colocar o Banco Itaú e a educadora Maria Alice Setubal numa circunstância claramente depreciativa, quando a escaramuça entre candidatos escala o setor financeiro entre os vilões nacionais?
O fato de terem sido destacados nada menos do que cinco jornalistas para fazer a reportagem, entre eles o principal analista de pesquisas da redação, indica que se trata de uma pauta prioritária.
Curioso observar que o diário paulista faz questão de mostrar a educadora como uma oportunista que se beneficia de convênios com governos do PT e passa a apoiar a oposição. Ao mesmo tempo, coloca o Itaú na situação dúbia de haver sido beneficiado, como os outros bancos dominantes, pela política de estímulo ao crédito dos governos petistas, e, em seguida, apostar no PSDB e no PSB.
Num contexto de alta carga emocional como é a reta final das disputas eleitorais, o jornal está fornecendo munição pesada para os marqueteiros da campanha de Dilma Rousseff.
Por que o interesse específico na figura da socióloga que é também acionista de um banco que foi durante anos credor e avalista do grupo que publica o jornal? Estaria o Estado de S.Paulo interessado em fazer jornalismo puro e simples, para variar?
O histórico recente do jornal, protagonista destacado do poderoso consórcio da mídia tradicional que vem atuando como uma agremiação política de oposição, autoriza o observador a buscar outra razões.
Segundo a Folha de S.Paulo, a tendência dos votos foi revertida nos últimos dias e a candidatura da presidente Dilma Rousseff se recupera rapidamente na faixa mais influente do eleitorado – a classe média com renda familiar entre cinco e dez salários mínimos – e oscilou duas vezes para cima na região Sul, onde passou de uma situação de empate com Marina Silva para uma vantagem de 7 pontos percentuais.
Teorias conspiratórias são fontes interessantes na investigação jornalística, mas a verdade deve ser bem mais simples: a imprensa hegemônica pode estar revendo suas apostas.
O conjunto de textos também informa que o Banco Itaú é um dos 20 maiores doadores entre pessoas jurídicas, com quase RS$ 11 milhões distribuídos entre os partidos até o fim de agosto, período coberto pelo levantamento. No que se refere ao financiamento direto dos candidatos à Presidência da República, o banco só havia dado dinheiro para a oposição: o senador Aécio Neves, do PSDB, e o ex-governador Eduardo Campos, candidato do PSB até sua morte num acidente de aviação, receberam R$ 2 milhões cada um, e até José Maria Eymael, do “nanico” PSDC, foi contemplado, com uma ajuda de R$ 50 mil. A candidatura da presidente Dilma Rousseff, do PT, não recebeu um centavo do Itaú.
Pessoalmente, Neca Setubal dirigiu todo seu apoio financeiro ao partido que assessora, enquanto o banco do qual é acionista apostou pesadamente no PSDB: além da ajuda direta a Aécio Neves, o partido recebeu do Banco Itaú nada menos do que R$ 3,07 milhões para distribuir entre outros de seus candidatos. Em segundo lugar na lista de beneficiários vem o PSB, que foi agraciado com R$ 2,15 milhões; na terceira posição fica o PMDB, que recebeu R$ 1,38 milhão. O Partido dos Trabalhadores ficou em quinto lugar na preferência do banco, com R$ 995 mil, abaixo do PSD.
Entre os textos que ocupam a página há uma referência à Cenpec, entidade dirigida por Neca Setubal, que foi beneficiada por convênios nos governos do ex-presidente Lula da Silva e de Dilma Rousseff, com verbas que totalizaram R$ 32,2 milhões. No conjunto, o material produz um efeito negativo tanto sobre a imagem da socióloga quanto sobre a reputação do banco, considerando-se o contexto belicoso que é criado no calor da disputa eleitoral.
Conspiração e jornalismo
A pergunta que não quer calar: que motivações teria o jornal paulista para colocar o Banco Itaú e a educadora Maria Alice Setubal numa circunstância claramente depreciativa, quando a escaramuça entre candidatos escala o setor financeiro entre os vilões nacionais?
O fato de terem sido destacados nada menos do que cinco jornalistas para fazer a reportagem, entre eles o principal analista de pesquisas da redação, indica que se trata de uma pauta prioritária.
Curioso observar que o diário paulista faz questão de mostrar a educadora como uma oportunista que se beneficia de convênios com governos do PT e passa a apoiar a oposição. Ao mesmo tempo, coloca o Itaú na situação dúbia de haver sido beneficiado, como os outros bancos dominantes, pela política de estímulo ao crédito dos governos petistas, e, em seguida, apostar no PSDB e no PSB.
Num contexto de alta carga emocional como é a reta final das disputas eleitorais, o jornal está fornecendo munição pesada para os marqueteiros da campanha de Dilma Rousseff.
Por que o interesse específico na figura da socióloga que é também acionista de um banco que foi durante anos credor e avalista do grupo que publica o jornal? Estaria o Estado de S.Paulo interessado em fazer jornalismo puro e simples, para variar?
O histórico recente do jornal, protagonista destacado do poderoso consórcio da mídia tradicional que vem atuando como uma agremiação política de oposição, autoriza o observador a buscar outra razões.
Segundo a Folha de S.Paulo, a tendência dos votos foi revertida nos últimos dias e a candidatura da presidente Dilma Rousseff se recupera rapidamente na faixa mais influente do eleitorado – a classe média com renda familiar entre cinco e dez salários mínimos – e oscilou duas vezes para cima na região Sul, onde passou de uma situação de empate com Marina Silva para uma vantagem de 7 pontos percentuais.
Teorias conspiratórias são fontes interessantes na investigação jornalística, mas a verdade deve ser bem mais simples: a imprensa hegemônica pode estar revendo suas apostas.
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