Por Luciano Martins Costa, no Observatório da Imprensa:
Já se afirmou aqui, em algumas ocasiões, que a imprensa brasileira não guarda mais uma relação orgânica com o jornalismo. Essa assertiva tem provocado protestos de jornalistas, alguns dos quais, sobreviventes nas grandes redações, atuam quase como guerrilheiros em trincheiras da boa conduta profissional.
De fato, afirmações genéricas sobre o engajamento da mídia tradicional no terreno político partidário tendem a destacar o joio, e eventualmente o observador esquece que também há algum trigo no capinzal.
A metáfora tem fundamento no fato de que o joio sempre brota em meio ao trigal, e nas culturas chamadas orgânicas pode ser usado para atrair fungos, ajudando a controlar certas pragas. Nesse caso, porém, o agricultor sabe exatamente onde estão as fileiras da gramínea venenosa, e arranca a planta daninha que invade as leiras de trigo. O perigo acontece na colheita, porque misturar o joio e o trigo pode dar a perder todo o trabalho.
Quando se diz que não há mais uma relação orgânica da imprensa com o jornalismo, também se está a afirmar que a imprensa perde sua justificativa moral quando abandona o propósito da objetividade e substitui a abordagem complexa pelo atalho linear entre o fato e a opinião que lhe interessa. Transformada massivamente em uma instituição comprometida com um viés hegemônico, a mídia se transforma em uma cultura de joio, com algumas touceiras de trigo aqui e ali.
Esse é o contexto no qual se encaixa a frase da presidente da República sobre o ânimo dos jornais em promover investigações paralelamente ao trabalho das instituições oficiais: a investigação jornalística só tem valor no campo do jornalismo de qualidade, onde predomina a busca da objetividade e não a colheita conveniente de versões com finalidade política. A demonstração mais clara desse desvio é a seletividade na produção de escândalos conforme o perfil político dos protagonistas.
A corrupção é fenômeno histórico, e vem à luz graças à autonomia que foi concedida aos órgãos policiais nos últimos anos, mas a imprensa esconde alguns casos e escancara outros conforme seus interesses.
A pauta constrangida
As queixas dos colegas jornalistas que se sentem injustiçados pela crítica genérica têm razão de ser, se considerarmos que eles representam uma exceção na cultura geral do antijornalismo. Por isso, é conveniente fazer um parênteses na análise diária da imprensa para observar como as empresas de comunicação se transformaram em produtoras massivas de joio, mas precisam de vez em quando oferecer ao público um punhado de trigo.
A boa semente pode ser encontrada, eventualmente, em artigos e colunas que, mal ou bem, servem para resguardar o que resta de credibilidade aos meios de comunicação hegemônicos. Mas não há hipótese de o leitor ou telespectador encontrar tais visões que se contrapõem à opinião predominante exibidas com destaque nas primeiras páginas dos jornais ou nos blocos mais extensos dos noticiários da televisão. Esses objetores sobrevivem em suas trincheiras, fazendo eventualmente um tímido contraponto ao material grosseiramente manipulado que alimenta as manchetes.
Pode-se imaginar a cautela que precisam ter os jornalistas conscienciosos numa reunião de pauta, para não ofender o pensamento dominante. Em uma redação como a do Globoou do Estado de S.Paulo, por exemplo, há relatos de confrontações que resvalam para o desrespeito pessoal e a humilhação pública. Na Folha de S.Paulo, um repórter experiente confidencia que evita as reuniões para não se submeter a propostas de pautas indecorosas.
E onde se esconde esse jornalismo que ainda se preocupa com aquelas qualidades que definem a boa imprensa? Na maioria dos casos, ele se enfurna em cadernos temáticos, onde algumas questões importantes podem se abordadas com mais profundidade. Na maioria das empresas de comunicação, há um editor especial para tais publicações periódicas, que têm um processo à parte para a coleta de apoio publicitário.
Segundo o editor de um desses produtos, o principal desafio, nesse caso, não é driblar a pressão dos editorialistas, mas administrar o conflito de interesses com o departamento comercial. Esses cadernos são como uma touceira de trigo no campo de joio em que se transformou a imprensa brasileira.
De fato, afirmações genéricas sobre o engajamento da mídia tradicional no terreno político partidário tendem a destacar o joio, e eventualmente o observador esquece que também há algum trigo no capinzal.
A metáfora tem fundamento no fato de que o joio sempre brota em meio ao trigal, e nas culturas chamadas orgânicas pode ser usado para atrair fungos, ajudando a controlar certas pragas. Nesse caso, porém, o agricultor sabe exatamente onde estão as fileiras da gramínea venenosa, e arranca a planta daninha que invade as leiras de trigo. O perigo acontece na colheita, porque misturar o joio e o trigo pode dar a perder todo o trabalho.
Quando se diz que não há mais uma relação orgânica da imprensa com o jornalismo, também se está a afirmar que a imprensa perde sua justificativa moral quando abandona o propósito da objetividade e substitui a abordagem complexa pelo atalho linear entre o fato e a opinião que lhe interessa. Transformada massivamente em uma instituição comprometida com um viés hegemônico, a mídia se transforma em uma cultura de joio, com algumas touceiras de trigo aqui e ali.
Esse é o contexto no qual se encaixa a frase da presidente da República sobre o ânimo dos jornais em promover investigações paralelamente ao trabalho das instituições oficiais: a investigação jornalística só tem valor no campo do jornalismo de qualidade, onde predomina a busca da objetividade e não a colheita conveniente de versões com finalidade política. A demonstração mais clara desse desvio é a seletividade na produção de escândalos conforme o perfil político dos protagonistas.
A corrupção é fenômeno histórico, e vem à luz graças à autonomia que foi concedida aos órgãos policiais nos últimos anos, mas a imprensa esconde alguns casos e escancara outros conforme seus interesses.
A pauta constrangida
As queixas dos colegas jornalistas que se sentem injustiçados pela crítica genérica têm razão de ser, se considerarmos que eles representam uma exceção na cultura geral do antijornalismo. Por isso, é conveniente fazer um parênteses na análise diária da imprensa para observar como as empresas de comunicação se transformaram em produtoras massivas de joio, mas precisam de vez em quando oferecer ao público um punhado de trigo.
A boa semente pode ser encontrada, eventualmente, em artigos e colunas que, mal ou bem, servem para resguardar o que resta de credibilidade aos meios de comunicação hegemônicos. Mas não há hipótese de o leitor ou telespectador encontrar tais visões que se contrapõem à opinião predominante exibidas com destaque nas primeiras páginas dos jornais ou nos blocos mais extensos dos noticiários da televisão. Esses objetores sobrevivem em suas trincheiras, fazendo eventualmente um tímido contraponto ao material grosseiramente manipulado que alimenta as manchetes.
Pode-se imaginar a cautela que precisam ter os jornalistas conscienciosos numa reunião de pauta, para não ofender o pensamento dominante. Em uma redação como a do Globoou do Estado de S.Paulo, por exemplo, há relatos de confrontações que resvalam para o desrespeito pessoal e a humilhação pública. Na Folha de S.Paulo, um repórter experiente confidencia que evita as reuniões para não se submeter a propostas de pautas indecorosas.
E onde se esconde esse jornalismo que ainda se preocupa com aquelas qualidades que definem a boa imprensa? Na maioria dos casos, ele se enfurna em cadernos temáticos, onde algumas questões importantes podem se abordadas com mais profundidade. Na maioria das empresas de comunicação, há um editor especial para tais publicações periódicas, que têm um processo à parte para a coleta de apoio publicitário.
Segundo o editor de um desses produtos, o principal desafio, nesse caso, não é driblar a pressão dos editorialistas, mas administrar o conflito de interesses com o departamento comercial. Esses cadernos são como uma touceira de trigo no campo de joio em que se transformou a imprensa brasileira.
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