Por Bepe Damasco, em seu blog:
Primeiro é importante assinalar que a concepção técnica, a edição e os recursos gráficos do programa são primorosos. Ponto para João Santana. Está correto também exibir em ritmo frenético as realizações do governo Dilma, para tentar compensar minimamente o boicote do monopólio midiático dos últimos quatro anos. Contudo, se o cenário mudou, se o quadro eleitoral foi sacudido pela disparada de Marina nas pesquisas, por que diabos o programa tem de continuar rigorosamente o mesmo, na mesma linha, no mesmo tom ?
Não defendo que o programa deva deixar de informar o eleitor sobre os inúmeros programas sociais exitosos do governo Dilma, as obras fundamentais para a infraestrutura do país e a geração de emprego. Tampouco que abandone as comparações com os países do capitalismo central e com a era FHC. Isso deve ser mantido até o final. Mas não custa o programa dedicar metade do seu tempo ao confronto com Marina, apontando suas enormes contradições, incoerências e inconsistências.
A parte do eleitorado que pretende votar em Marina porque acredita nas suas boas intenções e qualidades, precisa ficar sabendo de sua ligação com os banqueiros, do seu fundamentalismo religioso, de sua visão retrógrada na área do comportamento. Os que até agora se deixaram levar pelo discurso vazio e empobrecido da "nova política" merecem tomar conhecimento de que não existe nada mais velho e conservador do que a independência do Banco Central preconizada pela candidata, pois significa juros altos, recessão e desemprego, com a banca e os rentistas passando a dar as cartas da política econômica.
As pessoas devem ser alertadas de que o discurso mudancista da candidata do PSB é apenas um biombo eleitoreiro para esconder o retrocesso social que um eventual governo de Marina provocaria. É só olhar os economistas neoliberais e tucanos que a cercam e aconselham. No que se refere a projetos estratégicos para o país, a situação é ainda mais grave. Sem meias palavras, quem não prioriza o pré-sal se coloca contra os interesses estratégicos da nação. Quem pretende ignorar a matriz hidrelétrica da produção de energia do país, na prática, sabota o desenvolvimento econômico e social do Brasil.
No tocante à governabilidade, deve se tornar de domínio público os riscos de um governo com bancada reduzida de parlamentares e sem apoios consistentes no Congresso Nacional. Nesse aspecto, a candidata se encontra diante de uma encruzilhada. Se eleita, ou jogará o país numa crise permanente ou promoverá o maior toma-lá-dá-cá da história republicana.
Senão vejamos. Quantos deputados o PSB elegerá ? Com certeza, um número pouco expressivo de parlamentares. Não lhe restará outra saída que não seja atrair o PSDB como principal aliado. Só que as expectativas sobre a eleição de deputados e senadores tucanos são as piores da história do partido. Aí não restará alternativa à Marina fora da negociação no varejo com os partidos menores, sedentos por um naco de poder.
Em síntese, penso que, desde já, o programa eleitoral da presidenta Dilma tem a obrigação de enfrentar esse debate. Só com o esclarecimento dos eleitores será possível frear o avanço de Marina nas pesquisas.
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