Por Paulo Moreira Leite, em seu blog:
Vamos deixar o estilo de lado, que talvez seja um tanto sombrio demais. O tom é panfletário? Sem dúvida - mas estamos falando de propaganda, certo? Também podemos dizer, avaliando o roteiro com um tom um pouquinho pedante na voz, que o problema das relações entre os bancos privados, os governos de cada país e a prosperidade das famílias “é mais complexo” do que se vê na tela.
Vamos combinar: quando fica difícil sustentar uma divergência frontal, sempre se pode dizer, a respeito de qualquer coisa, que ela é “mais complexa” do que parece - até um exercício de matemática elementar do ensino fundamental.
Ainda assim, a verdade é que a independência do Banco Central assegura um poder fora de todo controle democrático, aos bancos e ao sistema financeiro. Você pode ir até a urna e escolher o governo que quiser, com o projeto que achar melhor. Um Banco Central independente pode desfazer tudo isso e seguir o caminho posto. Seus dirigentes têm um mandato por tempo determinado, com a soberania intocável de um ministro do Supremo Tribunal Federal. Eles não deliberam sobre a Justiça, a culpa, a inocência. Decidem sobre o emprego, o salário, a renda.
Se você examinar a triste situação da Europa nos dias de hoje verá que pertence ao reino das grandes mistificações da política brasileira de 2014 a visão que aponta Marina Silva — a candidata que defende independência do Banco Central — como expressão dos protestos de junho de 2013.
Suas alianças, seus assessores e especialmente a autonomia do BC não tem nada a ver com os protestos, que guardam várias semelhanças com o descontentamento do Velho Mundo, que inclui acampamentos nas grandes capitais, ocupação de edifícios públicos, boicote aos partidos políticos e assim por diante.
São elementos que Marina procura capitalizar com a conversinha de Nova Política mas pouco tem a ver com a realidade de sua campanha.
Gostem ou não os aliados de Marina, a autonomia do Banco Central Europeu foi um instrumento indispensável para que o sistema financeiro saísse preservado da crise de 2008 no Velho Mundo, levando a população a enfrentar uma recessão prolongada, que o mundo não conhecia desde 1929. Centro de gravidade da crise mundial, a União Européia abriga o maior PIB do planeta, o maior mercado consumidor, as sociedades com renda melhor distribuída, e mesmo assim não consegue sair do lugar.
No centro da crise, encontra-se o Banco Central Europeu, que é independente dos eleitores dos países-membros e funciona como um colegiado autônomo. Manda sim mais que os presidentes de cada país, como diz a propaganda de Dilma, e foi assim que o Velho Mundo afundou e permanece prostrado. Se você acha que estou exagerando, consulte os Prêmios Nobel Joseph Stiglitz e Paul Krugman, que sabem muito mais do que eu.
Instalado na presidência do Banco Central no momento da crise, intocável pela autonomia regulamentar, o francês Jean-Louis Trichet administrou a bancarrota do velho mundo sem peso na consciência. Enquanto milhões de cidadãos, especialmente jovens, iam à rua em protestos contra o desemprego, o corte nos gastos públicos e em investimentos, o BCE permanecia impassível e praticava uma política contrária.
Gostem ou não os aliados de Marina, a autonomia do Banco Central Europeu foi um instrumento indispensável para que o sistema financeiro saísse preservado da crise de 2008 no Velho Mundo, levando a população a enfrentar uma recessão prolongada, que o mundo não conhecia desde 1929. Centro de gravidade da crise mundial, a União Européia abriga o maior PIB do planeta, o maior mercado consumidor, as sociedades com renda melhor distribuída, e mesmo assim não consegue sair do lugar.
No centro da crise, encontra-se o Banco Central Europeu, que é independente dos eleitores dos países-membros e funciona como um colegiado autônomo. Manda sim mais que os presidentes de cada país, como diz a propaganda de Dilma, e foi assim que o Velho Mundo afundou e permanece prostrado. Se você acha que estou exagerando, consulte os Prêmios Nobel Joseph Stiglitz e Paul Krugman, que sabem muito mais do que eu.
Instalado na presidência do Banco Central no momento da crise, intocável pela autonomia regulamentar, o francês Jean-Louis Trichet administrou a bancarrota do velho mundo sem peso na consciência. Enquanto milhões de cidadãos, especialmente jovens, iam à rua em protestos contra o desemprego, o corte nos gastos públicos e em investimentos, o BCE permanecia impassível e praticava uma política contrária.
A população gritava por seus direitos. O desemprego dos jovens bateu em 25% e até mais. Os serviços públicos viraram fumaça.
O argumento do BCE, próximo do delírio, é que se deveria tomar cuidado com a alta da inflação, que nunca chegou a 1%.
Impotentes, sem instrumentos para interferir na economia, mesmo que quisessem, os governos europeus foram derrubados pela austeridade de Trichet. Caíram como peças de dominó, na Grécia e na Espanha, em Portugal e na Itália. Seus sucessores pouco puderam fazer, enquanto os eleitores descobriam que haviam votado por uma coisa - mas o BC determinava outra. A política se reduzira a um faz-de-conta incapaz de interferir no núcleo de decisões econômicas, dominado pela troika, constituída pelo BCE, pelo FMI e pela Comissão Européia.
Aqueles países que foram exemplo de civilização não se levantaram até hoje. A França foi a penúltima a rolar pelo despenhadeiro. Maior potência continental, a Alemanha se encontra agarrada nas bordas.
O destino da crise, no Brasil, foi outro. Nos primeiros meses, o BC até elevou os juros, atendendo a pressão dos mercados - mas seus dirigentes, por vontade ou por conveniência, se uniram ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva no esforço para criar estímulos para garantir a retomada do crescimento, permitindo que as empresas fizessem empréstimos, o consumidor voltasse as compras e os empregos ficassem garantidos. O resto da história nos conhecemos: ainda que seis anos depois a economia esteja caminhando de lado - e é possível apontar varias causas para isso - o desemprego segue baixo e os salários foram preservados.
Dá para entender por que o pessoal quer autonomia do Banco Central também no Brasil, certo?
Impotentes, sem instrumentos para interferir na economia, mesmo que quisessem, os governos europeus foram derrubados pela austeridade de Trichet. Caíram como peças de dominó, na Grécia e na Espanha, em Portugal e na Itália. Seus sucessores pouco puderam fazer, enquanto os eleitores descobriam que haviam votado por uma coisa - mas o BC determinava outra. A política se reduzira a um faz-de-conta incapaz de interferir no núcleo de decisões econômicas, dominado pela troika, constituída pelo BCE, pelo FMI e pela Comissão Européia.
Aqueles países que foram exemplo de civilização não se levantaram até hoje. A França foi a penúltima a rolar pelo despenhadeiro. Maior potência continental, a Alemanha se encontra agarrada nas bordas.
O destino da crise, no Brasil, foi outro. Nos primeiros meses, o BC até elevou os juros, atendendo a pressão dos mercados - mas seus dirigentes, por vontade ou por conveniência, se uniram ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva no esforço para criar estímulos para garantir a retomada do crescimento, permitindo que as empresas fizessem empréstimos, o consumidor voltasse as compras e os empregos ficassem garantidos. O resto da história nos conhecemos: ainda que seis anos depois a economia esteja caminhando de lado - e é possível apontar varias causas para isso - o desemprego segue baixo e os salários foram preservados.
Dá para entender por que o pessoal quer autonomia do Banco Central também no Brasil, certo?
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