Por Felipe Bianchi, de La Paz, no blog ComunicaSul:
“Se perdermos o processo de mudanças sociais que existe no Brasil, perderemos muito em toda a América Latina”, decretou Valeria Silva, nesta sexta-feira (10), em La Paz, Bolívia. A historiadora, cientista política e representante da Generación Evo, “fenômeno” que tem agrupado de forma massiva a juventude engajada na transformação pelo qual passa a nação andina, avalia que “a volta do neoliberalismo significa o fim da soberania do povo brasileiro”.
Conforme defende a jovem - Valéria tem 24 anos e concorre, nas eleições gerais de 2014, a uma vaga como deputada suplente pelo Movimiento al Socialismo (MAS) –, o Brasil é referência no continente pela sua incidência internacional. “O que acontece no país reflete em todos os vizinhos”, argumenta. “Hoje não temos presença ou ingerência estrangeira no Brasil, na Bolívia, na Venezuela, no Equador. Se o Brasil voltar a flertar com o imperialismo, o que fatalmente acontecerá caso a direita triunfe, tenham certeza de que tentarão derrubar a todos”.
Yeanet Villegas Oblitas, comunicadora da Confederação Sindical Única dos Trabalhadores Camponeses da Bolívia (CSUTCB) e apresentadora do canal Bolívia TV, faz análise similar. Para ela, a interrupção do projeto popular brasileiro é um golpe à integração latino-americana. “Se não tivermos o Brasil ao nosso lado, perderemos em todos os sentidos. Boa parte da integração do continente, política, econômica e cultural, passa pela importância do Brasil, principalmente pelas transformações promovidas por Lula e, depois, por Dilma Rousseff”, aponta. A volta do neoliberalismo seria trágica para todo o continente”.
Evo, Lula e o gás
Valeria Silva recorda o episódio envolvendo o governo de Evo Morales e a Petrobras para exemplificar a importância da solidariedade entre os governos e povos de ambos os países. “O neoliberalismo fez contratos péssimos, que praticamente entregavam nosso gás aos compradores. O que o próprio Evo explicou para o povo boliviano foi que vendíamos o gás com determinados componentes que saíam praticamente de graça. Então, pediu a Lula para renegociarem e que o país vizinho pagasse um preço justo, levando em conta todos os componentes que estavam adquirindo. Lula, que consideramos um irmão de nossa gente, concordou e disse a revisão era justa, de fato. Na mesma linha política veio o governo Dilma, que manteve o acordo. No caso de uma guinada neoliberal, dificilmente os contratos serão renegociados.
“Somos internacionalistas”, declara a jovem boliviana. “Para nós, a revolução só é possível com articulação regional e o Brasil é imprescindível para os processos de mudança na Bolívia e em todos os países que desejam um mundo não unipolar, nem bipolar, mas multipolar”.
Se Aécio Neves vencer, avalia, "ressurgirão temas como bases militares estadunidenses no país e as fronteiras voltarão a se manchar de sangue, com perseguições em uma suposta guerra contra o narcotráfico que a própria direita controla". Derrotar o neoliberalismo “não é votar apenas por suas famílias ou porque agora suas casas têm luz, mas votar por todos os povos latino-americanos e por todos os mortos vitimados pelo imperialismo”.
Movimentos sociais celebram ‘poder popular’
Mais que um governo que alavanca a economia, promove a redistribuição da renda e minimiza o abismo econômico entre as classes sociais (até o Fundo Monetário Internacional – FMI reconhece o crescimento e o acerto ao nacionalizar os recursos naturais), representantes do movimento social do país avaliam que, desde 2006, a Bolívia vem mudando paradigmas no mundo da política por um fator especial: a construção do ‘poder popular’.
“Para a ciência política, o que ocorre hoje no país é inexplicável”, afirma Valeria Silva “As lógicas políticas da Bolívia de hoje são inversas às lógicas tradicionais. Para nós, para o próprio governo, o político não tem que perguntar à base, pois o poder está na base, não na Assembleia”.
Ela explica que o MAS é um amplo conglomerado de movimentos sociais funcionando em um sistema partidário, “a via que escolhemos para por em marcha nosso projeto”. O principal componente que dá unidade à diversidade de atores, segundo Valeria Silva, é o anti-imperialismo – vale lembrar que, ao longo do histórico de golpes, regimes ditatoriais e governos entreguistas, os povos indígenas foram sistematicamente marginalizados e excluídos até a chegada de Evo Morales, de origem aymara, ao Palacio Quemado.
A Generación Evo, inclusive, “uma explosão inesperada e espontânea” na conjuntura das eleições de 2014, de acordo com Valéria Silva, ganhou o reconhecimento do presidente em plena CNN. Questionado sobre quem virá depois de Evo Morales, caso reeleito, o presidente foi enfático: “Talvez ainda não tenhamos um sucessor, mas recentemente apareceu a Generación Evo. Jovens do campo e da cidade com ótimo discurso e que devem formar grandes lideranças”.
Observadores populares acompanharão eleições
Yeanet Villegas Oblitas avalia que o poder popular é o motor da gestão assumida por Evo Morales e Álvaro García Linera (vice-presidente), em 2006 e, justamente por isso, tem criado “hegemonia” no campo político nacional.
Em entrevista coletiva na quinta-feira (9), a CSUTCB reuniu delegações de países como Chile, Brasil e Argentina para discutir suas atuações como observadores populares durante o processo eleitoral de 2014 - o país vai às urnas no domingo, 12 de outubro, data que marca o Dia Nacional da Descolonização.
A modalidade, batizada como ‘veedores populares’, soma lutadores sociais de diversas organizações do continente aos observadores internacionais de órgãos como a Unasul, a Organização das Nações Unidas (ONU) e o Parlamento Andino, fortalecendo as instituições democráticas e exemplificando o protagonismo dado aos movimentos sociais na política boliviana.
“Se perdermos o processo de mudanças sociais que existe no Brasil, perderemos muito em toda a América Latina”, decretou Valeria Silva, nesta sexta-feira (10), em La Paz, Bolívia. A historiadora, cientista política e representante da Generación Evo, “fenômeno” que tem agrupado de forma massiva a juventude engajada na transformação pelo qual passa a nação andina, avalia que “a volta do neoliberalismo significa o fim da soberania do povo brasileiro”.
Conforme defende a jovem - Valéria tem 24 anos e concorre, nas eleições gerais de 2014, a uma vaga como deputada suplente pelo Movimiento al Socialismo (MAS) –, o Brasil é referência no continente pela sua incidência internacional. “O que acontece no país reflete em todos os vizinhos”, argumenta. “Hoje não temos presença ou ingerência estrangeira no Brasil, na Bolívia, na Venezuela, no Equador. Se o Brasil voltar a flertar com o imperialismo, o que fatalmente acontecerá caso a direita triunfe, tenham certeza de que tentarão derrubar a todos”.
Yeanet Villegas Oblitas, comunicadora da Confederação Sindical Única dos Trabalhadores Camponeses da Bolívia (CSUTCB) e apresentadora do canal Bolívia TV, faz análise similar. Para ela, a interrupção do projeto popular brasileiro é um golpe à integração latino-americana. “Se não tivermos o Brasil ao nosso lado, perderemos em todos os sentidos. Boa parte da integração do continente, política, econômica e cultural, passa pela importância do Brasil, principalmente pelas transformações promovidas por Lula e, depois, por Dilma Rousseff”, aponta. A volta do neoliberalismo seria trágica para todo o continente”.
Evo, Lula e o gás
Valeria Silva recorda o episódio envolvendo o governo de Evo Morales e a Petrobras para exemplificar a importância da solidariedade entre os governos e povos de ambos os países. “O neoliberalismo fez contratos péssimos, que praticamente entregavam nosso gás aos compradores. O que o próprio Evo explicou para o povo boliviano foi que vendíamos o gás com determinados componentes que saíam praticamente de graça. Então, pediu a Lula para renegociarem e que o país vizinho pagasse um preço justo, levando em conta todos os componentes que estavam adquirindo. Lula, que consideramos um irmão de nossa gente, concordou e disse a revisão era justa, de fato. Na mesma linha política veio o governo Dilma, que manteve o acordo. No caso de uma guinada neoliberal, dificilmente os contratos serão renegociados.
“Somos internacionalistas”, declara a jovem boliviana. “Para nós, a revolução só é possível com articulação regional e o Brasil é imprescindível para os processos de mudança na Bolívia e em todos os países que desejam um mundo não unipolar, nem bipolar, mas multipolar”.
Se Aécio Neves vencer, avalia, "ressurgirão temas como bases militares estadunidenses no país e as fronteiras voltarão a se manchar de sangue, com perseguições em uma suposta guerra contra o narcotráfico que a própria direita controla". Derrotar o neoliberalismo “não é votar apenas por suas famílias ou porque agora suas casas têm luz, mas votar por todos os povos latino-americanos e por todos os mortos vitimados pelo imperialismo”.
Movimentos sociais celebram ‘poder popular’
Mais que um governo que alavanca a economia, promove a redistribuição da renda e minimiza o abismo econômico entre as classes sociais (até o Fundo Monetário Internacional – FMI reconhece o crescimento e o acerto ao nacionalizar os recursos naturais), representantes do movimento social do país avaliam que, desde 2006, a Bolívia vem mudando paradigmas no mundo da política por um fator especial: a construção do ‘poder popular’.
“Para a ciência política, o que ocorre hoje no país é inexplicável”, afirma Valeria Silva “As lógicas políticas da Bolívia de hoje são inversas às lógicas tradicionais. Para nós, para o próprio governo, o político não tem que perguntar à base, pois o poder está na base, não na Assembleia”.
Ela explica que o MAS é um amplo conglomerado de movimentos sociais funcionando em um sistema partidário, “a via que escolhemos para por em marcha nosso projeto”. O principal componente que dá unidade à diversidade de atores, segundo Valeria Silva, é o anti-imperialismo – vale lembrar que, ao longo do histórico de golpes, regimes ditatoriais e governos entreguistas, os povos indígenas foram sistematicamente marginalizados e excluídos até a chegada de Evo Morales, de origem aymara, ao Palacio Quemado.
A Generación Evo, inclusive, “uma explosão inesperada e espontânea” na conjuntura das eleições de 2014, de acordo com Valéria Silva, ganhou o reconhecimento do presidente em plena CNN. Questionado sobre quem virá depois de Evo Morales, caso reeleito, o presidente foi enfático: “Talvez ainda não tenhamos um sucessor, mas recentemente apareceu a Generación Evo. Jovens do campo e da cidade com ótimo discurso e que devem formar grandes lideranças”.
Observadores populares acompanharão eleições
Yeanet Villegas Oblitas avalia que o poder popular é o motor da gestão assumida por Evo Morales e Álvaro García Linera (vice-presidente), em 2006 e, justamente por isso, tem criado “hegemonia” no campo político nacional.
Em entrevista coletiva na quinta-feira (9), a CSUTCB reuniu delegações de países como Chile, Brasil e Argentina para discutir suas atuações como observadores populares durante o processo eleitoral de 2014 - o país vai às urnas no domingo, 12 de outubro, data que marca o Dia Nacional da Descolonização.
A modalidade, batizada como ‘veedores populares’, soma lutadores sociais de diversas organizações do continente aos observadores internacionais de órgãos como a Unasul, a Organização das Nações Unidas (ONU) e o Parlamento Andino, fortalecendo as instituições democráticas e exemplificando o protagonismo dado aos movimentos sociais na política boliviana.
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