quarta-feira, 8 de outubro de 2014

FHC e o ódio à democracia

Do site Brasil Debate:

O filósofo Jaques Rancière em seu livro “O ódio à democracia”, recém-lançado no Brasil, lança luz sobre a resistência das elites às aspirações de poder da população. Segundo ele, as oligarquias, seus ideólogos e especialistas julgam conhecer os mecanismos adequados para a condução de um governo democrático. Quando a legitimidade popular colide com o consenso oligárquico, trata-se da ignorância. “Se a ciência não consegue impor sua legitimidade é por causa da ignorância. Se o progresso não progride é por causa dos retardatários.”

No fundo, a grande aspiração da oligarquia é “governar sem povo, isto é, sem divisão do povo: governar sem política. E permite ao ‘governo científico’ exorcizar a velha aporia: como a ciência pode governar aqueles que não a entendem?”.

Em entrevista concedida ao Portal UOL, Fernando Henrique Cardoso afirmou que o PT cresceu nos grotões porque tem voto dos “desinformados”.

Como sociólogo ou como ex-presidente da República, tal declaração é lamentável. FHC deveria ter mais respeito pela democracia e pelos 41,6% de eleitores brasileiros que votaram em Dilma no primeiro turno.

Ao chamar algumas regiões brasileiras de “grotões” e dizer que sua população é “desinformada”, FHC parece considerar o voto dessas pessoas como ilegítimo. Ao fazê-lo, ignora que muitas dessas pessoas decidem seu voto com base naquilo que existe de mais concreto: suas vidas. Seria isso desinformação do povo? Ou elitismo e regionalismo por parte de FHC?

Como mostra André Singer (em “Os sentidos do lulismo. Reforma gradual e pacto conservador”, Companhia das Letras, 2012), ao longo de muitos anos, esse eleitor pobre, desqualificado por FHC, foi uma das importantes bases eleitorais de partidos conservadores, como o PSDB.

Entretanto, o grande avanço das políticas sociais (ver AQUI) levou o Estado às camadas mais simples da população. Isso ofereceu a este grupo social uma melhora substancial no padrão de vida, naturalmente criando um senso de identificação com um projeto que pela primeira vez os olhava e os beneficiava.

A dimensão regional também assume papel importante. O PIB per capita tem crescido mais nas regiões Norte e Nordeste (ver AQUI), que são as regiões mais pobres no Brasil. Ao contrário de desinformadas, pode-se dizer o contrário: as pessoas dessa região estão muito bem-informadas sobre a melhora objetiva de suas condições de vida.

Portanto, chamar o voto do pobre de desinformação é negar a identificação do povo com um projeto, ou seja, negar sua capacidade de identificar seus interesses, além de ser incompatível com uma sociedade republicana e democrática.

6 comentários:

  1. "(...)apoiam o PT, é porque são menos informados" E os que apoiam o PSDB o que são? Mais desinformados?

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  2. O comentário sobre a declaração de FHC, pressupõe, nesta, boa fé e racionalidade.
    Há muito que a boa fé passa longe de qualquer ação do cara, e, quanto à racionalidade, sei não.

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  3. Desinformada é a população que vota em governantes medíocres como Beto Richa e Alkmim.
    Desinformada pelo intenso trabalho feito pela mídia nativa em desconstruir a política.
    Os eleitores desse pessoal, em destaque os dois citados, não votam no candidato; votam contra as mudanças que poderiam beneficiá-los. Coisa de doido.

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  4. Ao eleger Dilma estaremos dizendo "sim" a um projeto de sociedade que inclui política e economicamente pessoas historicamente incluídas de forma perversa como pobres, negros, mulheres, entre outros.

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  5. Esse FHC infelizmente é um fracassado pois seus anéis nos dedos não valeram de nada a não ser para um punhado de amiguinhos da elite na qual ele FHC FRACASSADO faz parte.

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  6. Pobre e desinformado é ele acerca do seu próprio país.Um vende pátrias não merece sequer o respeito do povo brasileiro que verdadeiramente ama este chão.Me dá pena.

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