quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Minas tem escola em prédio de motel

Por Luiz Carlos Azenha, no blog Viomundo:

As portas das salas têm aquela abertura usada para preservar a intimidade dos casais na hora de servir bebidas e refeições do serviço de quarto. Guardam os números dos apartamentos frequentados no passado por casais de Teófilo Otoni, a cidade mineira de 150 mil habitantes que fica no vale do rio Mucuri.

É a Escola Estadual de Liberdade, localizada às margens da BR 116, em Lajinha, região rural. Desde 2011 ela funciona aqui.

Antes disso, a escola já enfrentava problemas de infraestrutura e condições inadequadas.

A partir de 2006, funcionou nas salas de catequese de uma igreja católica.

Como as salas começaram a apresentar problemas estruturais, a Secretaria de Estado de Educação optou por alugar o espaço de um antigo motel, mas não realizou todas obras necessárias para transformar a estrutura do local.

A denúncia é do SindUte, o Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais.

O sindicato é conhecido por ter conseguido furar o bloqueio informativo do grupo político do senador Aécio Neves em Minas Gerais, que acusa de ter amordaçado a imprensa regional nos últimos 12 anos.

Foi numa greve que durou quase quatro meses que isso se concretizou. O SindUte imprimia folhetos em Belo Horizonte e os distribuía a professores que vinham de longe participar das assembleias.

No imenso estado de Minas Gerais, com 853 municípios, os professores voltavam para suas cidades e, através dos alunos, faziam os panfletos chegarem aos pais.

Assim, o sindicato conseguiu mobilizar não apenas professores, mas alunos e pais para denunciar a situação da educação no Estado.

Hoje, tanto nos discursos e debates quanto na propaganda eleitoral, o candidato Aécio Neves invariavelmente menciona “a melhor educação fundamental” ou a “melhor educação básica” como sendo a de Minas Gerais.

Segundo o SindUte, o uso puro e simples do resultado do IDEB — o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica — não retrata a situação complexa da educação mineira.

Quem não vive no Estado, nem tem filhos nas escolas públicas mineiras, segundo o SindUte pode ficar com a impressão de que Minas é uma exceção à regra quando se trata das carencias do sistema educacional.

O sindicato denuncia, entre outras coisas, que faltam 1 milhão de vagas no Ensino Médio mineiro; que, ao contrário do que propagandeou o governo, os professores não recebem décimo quarto salário; que um grande número de escolas de ensino fundamental é carente de bibliotecas, laboratórios e quadras esportivas.

O SindUte alega que, se de fato Minas Gerais tivesse a melhor educação básica e a melhor Saúde do Brasil, como diz a campanha de Aécio Neves, o candidato do ex-governador, Pimenta da Veiga, não teria sido derrotado de forma acachapante, no primeiro turno, pelo petista Fernando Pimentel.

Para dar exemplos, o sindicato aponta para duas escolas que desmentem a propaganda enganosa: em Teófilo Otoni, a escola que ocupa o prédio improvisado onde funcionou um motel; em Uberaba, a escola que funciona no segundo piso de um shopping center, ao lado de três tanques com 60 mil litros de combustível, em um posto de gasolina. Ambas abrigam alunos do ensino fundamental.

O sindicato autor das denúncias tem outras características importantes. É liderado por mulheres e é descentralizado.

Dado o tamanho de Minas, é essencial para o sucesso do sindicato ter representações regionais fortes.

É o caso de Uberaba.

As duas professoras que entrevistamos lá dizem que o exemplo da escola que compartilha espaço com um posto de gasolina não é exceção.

Pode, sim, ser um caso extremo, mas se dá em uma cidade que é um dos mais importantes polos de desenvolvimento de Minas Gerais. Uma cidade rica, numa região rica.

As professoras ficaram revoltadas com o comportamento do ex-governador Aécio Neves no debate do SBT.

Acreditam que, ao debater com a candidata Dilma Rousseff, o senador desrespeitou as mulheres.

Maria Aparecida devolve: Aécio “é um pavão” e “mentiroso”:

Não é uma surpresa, já que segundo elas Aécio e aliados descumpriram promessas feitas aos professores.

Além disso, segundo Maria Helena, o governo mineiro criou uma norma - que ela considera bizarra - de exigir carteira profissional dos estudantes que frequentam os cursos noturnos, contribuindo assim para a evasão escolar:

Mas, acima de tudo, as professoras estão preocupadas com a situação da Escola Francisco Cândido Xavier, criada em dezembro de 2010, que vai completar quatro anos de funcionamento em condições precárias.

Um novo prédio está em construção no bairro. Elas esperam que fique pronto, conforme o prometido, até a metade de 2015.

Enquanto isso, os 456 alunos utilizam um galpão como quadra de esportes e ficam trancafiados no recreio em um corredor que também serve de pátio, refeitório e cozinha.

Ao final do vídeo abaixo, dona Maria Lúcia, avó de Carolina, de 19 anos de idade, estudante do período noturno, diz que o grande problema do momento é a falta de água:

Como as salas-de-aula foram improvisadas em salas de escritório, a escola não tem banheiros independentes.

Cada sala tem o seu.

Se um aluno usa o banheiro numa emergência, até que a professora ou professor mande buscar água os colegas enfrentam o mau cheiro.

Para a avó da aluna — e para as professoras do SindUte — trata-se de uma situação de emergência.

* Com fotos do SindUte e edição de Márcia Cunha




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