quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Sarney na Cultura e o boato nas redes

Por Renato Rovai, em seu blog:

Ontem à noite pessoas sérias e que em tese deveriam estar vacinadas contra a forma como a mídia brasileira se comporta, repercutiram e se apavoraram com uma nota de um blogue de um pianista do jornal o Estado de S. Paulo. O blogueiro afirmava que Lula havia sugerido o nome de José Sarney para ministro da Cultura de Dilma, que Dilma já o havia convidado e que o ex-presidente havia aceitado.

A nota, como se costuma dizer na linguagem de internet, bombou na rede e causou comoção. Ontem à noite ao menos umas dezena de pessoas me procurou por inbox para saber mais detalhes do assunto. Umas tantas outras, como ontem foi dia de aula na Cásper Líbero, me indagaram sobre o tema pessoalmente. E o autor do texto deve ter visto seu blogue ter audiência como nunca dantes no quartel de Abrantes.

Não serei leviano (ops, isso não tem nada a ver com o Aécio) de dizer que o blogueiro em questão fez isso para aparacer. Mas hoje não é incomum a invenção de boatos e a criação de fatos que não ficam em pé à menor checagem. Esses posts são produzidos apenas para ganhar cliques. Ou seja, audiência.

Quem conhece um pouco de política, de Lula, de PT, de Dilma e de formação de ministérios nunca entraria na barca furada do blogueiro Alvaro Siviero. Seguem alguns dos motivos, em ordem numérica, para não haver dúvida alguma de que é sempre bom como leitor e como multiplicador de notícias se ater primeiro aos fatos do que os boatos.

1) Nem se vivêssemos no país dos recitais o primeiro ministro a ser escolhido por um presidente da República seria o da Cultura. Simplesmente porque trata-se de um ministério que tem uma das menores arrecadações da Esplanada. E montagem de governo é quase um quebra-cabeça, principalmente quando de se tem uma base aliada hostil. Dilma terá de conversar com vários partidos antes de sair anunciando nomes do primeiro escalão ou ir convidado pessoas para cargos. A única exceção pode ser o ministério da Economia. Depois de conversar com todo mundo, provavelmente ela vai tentar deixar o ministério da Cultura fora das divisões partidárias, porque sabe que o setor é bastante refratário a esse tipo de indicação. E como se trata de um ministério menor (infelizmente) ela vai tentar evitar problemas com ele.

2) Lula indicou Juca Ferreira para coordenar a área de cultura da campanha de Dilma e muita gente garante que defendia o nome dele para compor o governo de Dilma já em 2011, quando a presidenta escolheu Ana de Hollanda. Por que agora indicaria Sarney depois da boa participação de Juca na campanha?

3) Sarney já anunciou sua saída da vida pública e seu grupo controla um importante ministério, o das Minas e Energia, o que lhe dará ainda bastante poder se vier a permanecer no controle daquela pasta. Por vaidade ele trocaria um ministério como o das Minas e Energia pelo da Cultura? Você acha que isso faz sentido?

4) Com todo carinho do mundo, mas talvez por ser um pianista fazendo uma nota com pretensões jornalísticas, o som ficou mais claro. O blogueiro diz que Sarney fez uma declaração de que poderia ser presidente da Academia Brasileira de Letras e ministro, rasgas elogios ao governo do maranhense na Cultura e depois termina com um seja bem-vido. Hã…

Sinceramente, eu não sei o que é pior, se é o Estado de S. Paulo permitir a reprodução de uma nota dessas associando a notícia à marca da empresa que perde reputação com este tipo de boataria, ou se é esse tipo de nota bobagem viralizar entre pessoas bem informadas depois de tudo que já vimos de jogo rasteiro da mídia tradicional.

A internet não permite ingenuidade. Tudo tem que ser colocado à prova. E nesta prova a nota do blogueiro do Estadão levou zero.

2 comentários:


  1. Ontem saíram postagens o dia inteiro no Facebook, mostrando Sarney na urna e dizendo que ele votou em Aécio.
    Será que tem a ver com a postagem do blogueiro citado?

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  2. Com todo o respeito, sei de muitos setores da esquerda brasileira que gostariam de ver um "funkeiro" no Ministério da Cultura.

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