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Como era de se esperar, o semanário Veja lançou a sua última cartada, na tentativa de derrotar o avanço das forças progressistas no segundo turno da eleição. Mantendo a estratégia manjada de factoide, a revista da família Civita antecipou a divulgação de sua capa com uma denúncia “bomba”, atacando as duas principais lideranças responsáveis pelas conquistas e avanços do Brasil nos últimos 12 anos: o ex-presidente Lula e a presidenta Dilma Rousseff.
A histeria da Veja tem uma explicação: os números das pesquisas de intenção de voto divulgadas nesta quinta-feira (23) pelo Datafolha e Ibope apontam a candidata Dilma com uma vantagem de 6 e 8 pontos percentuais, respectivamente, sobre o candidato tucano Aécio Neves.
Em desespero diante do que se avizinha nas urnas no domingo (26), o semanário adiantou a divulgação da capa, que normalmente é feita aos sábados, para a noite desta quinta (23). A publicação diz ter posse de uma gravação em que o doleiro Alberto Youssef, preso na Operação Lava Jato, da Polícia Federal, teria dito a um ainda misterioso delegado que Lula e Dilma sabiam da corrupção dentro da Petrobras.
De acordo com a revista, que irá às bancas neste sábado (25), o doleiro, que assinou um acordo de delação premiada para conseguir redução de pena, foi questionado sobre o nível de comprometimento de autoridades no esquema que ele fazia. “O Planalto sabia de tudo”, teria dito. O misterioso delegado pergunta a quem ele se referia. “Lula e Dilma”, teria respondido Youssef.
O dito jornalista Robson Bonin, que assina a matéria, confessa seu crime. “O doleiro não apresentou – e nem lhe foram pedidas – provas do que disse. Por enquanto, nesta fase do processo, o que mais interessa aos delegados é ter certeza de que o depoente atuou diretamente ou pelo menos presenciou ilegalidades”.
A declaração do doleiro réu, que tenta escapar de pena, a Veja insufla. Mas o advogado de Youssef, Antonio Figueiredo Basto, tratou de desmenti-la. Ele afirma que o doleiro prestou depoimento à Polícia Federal de Curitiba na última terça-feira (14), mas disse não ter conhecimento da informação citada pela revista.
“Eu nunca ouvi nada que confirmasse isso [que Lula e Dilma sabiam do esquema de corrupção na Petrobras]. Não conheço esse depoimento, não conheço o teor dele. Estou surpreso”, afirmou Basto ao jornal O Globo.
Youssef prestou vários depoimentos no mesmo dia, sempre acompanhado de advogados da equipe de Basto, mas ninguém ouviu uma só palavra do que foi publicado pela Veja.
“Conversei com todos da minha equipe e nenhum fala isso. Estamos perplexos e desconhecemos o que está acontecendo. É preciso ter cuidado porque está havendo muita especulação”, pontuou o advogado.
A justa preocupação do advogado – que não é e nunca foi a preocupação da Veja– se deve ao fato de que tal afirmação demandaria provas, caso contrário, além de violar o benefício da delação, que exige a apresentação de comprovação, o seu cliente estaria infringindo lei por calúnia, injúria e difamação, acarretando em outro processo.
De forma criminosa e embalada pelo velho estilo golpista da grande mídia, a Vejapublica “reportagem” às vésperas da eleição sem apresentar provas que possam embasar tal afirmação, condição fundamental para uma reportagem. Aliás, esta é a conduta da revista ao longo da sua história marcada pela infração de todo e qualquer código de ética do jornalismo existente no mundo e do direito à informação, previsto na Constituição Federal de 1988.
A revista não esconde que a intenção é o golpe. O seu colunista Reinaldo Azevedo já fala em derrubar Dilma no segundo mandato. “(…) Se Dilma for reeleita e se for verdade o que diz o doleiro, devemos recorrer às leis da democracia – não a revoluções e a golpes – para impedir que governe”, disse ele.
Prevendo o resultado das urnas, Azevedo dá a receita aos tucanos e seus aliados sugerindo o pedido de impeachment de Dilma com base em suposta declaração do doleiro meliante.
Sem influência, diz Temer
O vice-presidente Michel Temer (PMDB), também vice na chapa de reeleição de Dilma, disse durante visita ao interior de São Paulo, que o factoide da Veja tem pouco impacto sobre as urnas. "Evidentemente que, quando sai uma coisa um dia antes da eleição, chama um pouco a atenção. Por que saiu um dia antes da eleição? É uma indagação que temos que fazer", questionou Temer.
Para o vice-presidente, o que a Veja chama de "novas denúncias" é assunto velho, pois a campanha explora o tema de forma recorrente na campanha. "Eu não acredito em impacto na votação porque já se consolidou essa diferença de 6% a 8%. Não acredito que isso mude, é um tema recorrente", afirmou.
Rabelo: "Sordidez terrorista"
Em entrevista ao Portal Vermelho, o presidente nacional do PCdoB, Renato Rabelo, definiu a publicação como “sórdida”. “A tentativa de golpe na democracia perpetrada pela revista Veja na sua capa nos momentos finais da campanha presidencial chegou ao cume da sordidez e da afronta”, pontuou Rabelo.
“Isso demonstra que essa revista se tornou um panfleto provocador e terrorista da elite conservadora e obscurantista, contra as forças democráticas progressistas e populares do Brasil. A revista chega ao limite do desespero e isso é um obstáculo ao avanço da democracia em nosso país”, completou o dirigente comunista.
O presidente do PT de São Paulo, Emidio de Souza, também repeliu a revista Veja e afirmou que a publicação é estratégia para impulsionar a campanha tucana. “É um desserviço ao bom jornalismo e à democracia, uma revista querer, a 48 horas de uma eleição, trazer uma matéria deste naipe. É um desserviço, uma falta de imparcialidade, ou melhor, é uma parcialidade total na disputa eleitoral. Eu acho que a Veja perde um pouco mais do pouco que lhe resta de credibilidade”, disse o dirigente ao portal Terra.
Profissionais de jornalismos também avaliaram a ação do semanário dos Civita. Eduardo Guimarães, do Blog da Cidadania, analisa: “A teoria de Veja é a seguinte: como a eleição supostamente estaria ‘apertada’, qualquer denúncia que não puder ser rebatida a tempo por Dilma pode levar os mais suscetíveis a mudar de voto”.
O jornalista blogueiro Altamiro Borges, do Centro de Mídia Barão de Itararé, também concorda com Guimarães e afirma que Veja mente para tentar influir no voto dos brasileiros. “Este novo golpe também deveria fazer com que o governo repensasse sua política de publicidade. Não tem cabimento bancar anúncios milionários numa publicação asquerosa e irresponsável, que atenta semanalmente contra a democracia e o livre voto dos brasileiros”, asseverou.
O jornalista e editor do Portal Vermelho, José Reinaldo Carvalho, publicou em seu blog: “A matéria sensacionalista e mentirosa da revista da família Civita tem para evitar o fracasso eleitoral do PSDB o mesmo efeito de um placebo no combate ao câncer. É uma bala de prata inócua”. Para ele, “a derrota anunciada do candidato neoliberal e conservador Aécio Neves é mais um episódio da agonia lenta das forças que querem o retorno do Brasil à nefasta era FHC – o condomínio formado pelo PSDB, o DEM, o PSB, a Rede e a mídia privada e monopolista”.
José Reinaldo afirma que, apesar do esforço golpista, a publicação não vai mudar o resultado das urnas. “A reeleição da presidenta Dilma no próximo domingo corresponde às tendências objetivas do desenvolvimento do curso político no Brasil e a uma arraigada consciência que o povo brasileiro vai adquirindo em favor da democracia, do desenvolvimento nacional e do progresso social. Não seria uma tentativa fajuta de golpe midiático de última hora que reverteria este processo”, pontuou.
Até o jornalista Kennedy Alencar, comentarista da rádio CBN, da Globo, e do Jornal do SBT, afirma que tal publicação demanda provas, o que não foi apresentado pela Veja.
O ex-presidente Lula foi visionário ao declarar esta semana que a histeria da direita neste segundo turno é a mesma que antecedeu ao suicídio de Getúlio Vargas, em 1954. De fato, os lacerdistas de hoje não são diferentes dos que atentaram contra Getúlio.
O último debate entre os presidenciáveis acontece nesta sexta-feira (23), comandado pela Rede Globo. Será que a família Marinho também vai recorrer ao caminho dos Civita e praticar o golpismo feito contra Lula, na eleição com o Collor em 1989?
Não temos ilusões e nem esperamos comportamento democrático dos que sempre se comportaram como vendilhões da Pátria e apoiadores da repressão e capital financeiro. Mas, assim como os lacerdistas, a elite reacionária pagará um preço muito alto por atentar contra o povo e a democracia.
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