Por Luciano Martins Costa, no Observatório da Imprensa:
A semana que se encerra marcou uma mudança interessante na agenda da imprensa brasileira: reduziu-se o predomínio do tema corrupção, houve uma tentativa de emplacar na temática geral uma suposta tendência do governo petista para o estilo bolivariano de fazer política e, lentamente, equilibra-se o noticiário sobre economia.
O leitor e a leitora educados na arte de interpretar o discurso jornalístico se dão conta de que a mídia tradicional parece se dividir em dois blocos. Num deles, mais ruidoso e favorecido na composição das primeiras páginas, pontificam os pitbulls, a versão contemporânea dos “marronzinhos”, marionetes manipuladas pelo núcleo de opinião dos jornais para vocalizar a mensagem do dono. Para quem não se lembra ou não sabia, Marronzinho era o codinome de um jornalista de Osasco, na região metropolitana de São Paulo, financiado por candidatos conservadores para atacar oponentes nas campanhas eleitorais nos anos 1980. Os colunistas destemperados de hoje são os herdeiros desse jornalismo panfletário.
No outro bloco aparecem jornalistas especializados, economistas e outros profissionais que se dedicam a destrinchar a realidade nacional sob o ponto de vista de suas peculiaridades. De modo geral, o que distingue os dois grupos é o fato de que os pitbullsfalam de tudo, com uma linguagem desabrida, quase sempre ofensiva e grosseira, enquanto os integrantes do grupo dos especialistas tratam exclusivamente de seu ramo profissional.
A tentativa de emplacar a tese de que o próximo mandato da presidente Dilma Rousseff teria aspectos do conflituoso estilo venezuelano de governar foi levada até a entrevista coletiva concedida por ela e publicada pelos diários de papel nas edições de sexta-feira (7/11).
Na resposta a uma pergunta provocativa sobre o mote que a imprensa tentou emplacar nos debates políticos, a presidente ridicularizou a ideia de um “bolivarianismo brasileiro” e elogiou um texto do correspondente da Folha de S.Paulo em Caracas, Samy Adghirni (ver aqui), um repórter jovem com vasta experiência em conflitos como a Primavera Árabe e crises humanitárias.
Um crise estranha
O correspondente da Folha personifica, como alguns poucos, o tipo de jornalista que ainda pode reverter o processo de deterioração da imprensa no Brasil. No lado oposto, o campo dos arruaceiros da mídia, também se encontram profissionais de todo tipo, inclusive economistas, sociólogos, supostos filósofos e até um astrólogo. Algumas demissões ocorridas na Folha de S. Paulo nesta semana parecem abater uma parte desse contingente, o que pode significar muito ou nada, se imaginarmos que o diário paulista está preocupado em melhorar sua credibilidade e não apenas cortar custos.
A leitura crítica de qualquer um dos jornais de circulação nacional, na sexta-feira (7), pode induzir o cidadão ou a cidadã a concluir que a imprensa está sob um surto de esquizofrenia: de um lado, colunistas que repetem o discurso do catastrofismo; de outro, articulistas que demonstram não haver descontrole ou uma crise grave na economia brasileira. Entre um e outro grupo, algumas reportagens ajudam a refletir sobre onde estaria a verdade objetiva.
Descartando-se a exploração de dados parciais sobre o combate à miséria, que não sobreviveu à divulgação de indicadores do IBGE, o que temos é o seguinte: o desemprego caiu de 7% para 6,8% no segundo trimestre deste ano, mesmo com o crescimento da população ocupada. Na projeção de alguns especialistas ouvidos pela imprensa, o Brasil está muito próximo do pleno emprego. Também é interessante observar que dois terços das vagas foram criadas no Nordeste, onde também cresceu muito a formalização do emprego.
O leitor vira algumas páginas e se dá conta de que uma das maiores gestoras de finanças dos Estados Unidos levantou mais de US$ 2 bilhões para investimento na América Latina. Cerca de 60% desse montante será destinado ao Brasil, para aplicação nos setores de saúde, educação, infraestrutura logística e portuária, varejo, consumo e lazer. Outros fundos gigantes estão seguindo a mesma estratégia, apostando em projetos de longo prazo no Brasil e em outros países da região – entre os quais aqueles que a mídia brasileira chama de “bolivarianos”.
É possível que os ativos brasileiros estejam depreciados, o que atrai o investidor estrangeiro, mas o dinheiro real não parece contaminado pelo pessimismo das manchetes.
O irônico da história é que os pitbulls pessimistas agem contra os interesses do capital produtivo, que gera empregos e movimenta a economia.
O leitor e a leitora educados na arte de interpretar o discurso jornalístico se dão conta de que a mídia tradicional parece se dividir em dois blocos. Num deles, mais ruidoso e favorecido na composição das primeiras páginas, pontificam os pitbulls, a versão contemporânea dos “marronzinhos”, marionetes manipuladas pelo núcleo de opinião dos jornais para vocalizar a mensagem do dono. Para quem não se lembra ou não sabia, Marronzinho era o codinome de um jornalista de Osasco, na região metropolitana de São Paulo, financiado por candidatos conservadores para atacar oponentes nas campanhas eleitorais nos anos 1980. Os colunistas destemperados de hoje são os herdeiros desse jornalismo panfletário.
No outro bloco aparecem jornalistas especializados, economistas e outros profissionais que se dedicam a destrinchar a realidade nacional sob o ponto de vista de suas peculiaridades. De modo geral, o que distingue os dois grupos é o fato de que os pitbullsfalam de tudo, com uma linguagem desabrida, quase sempre ofensiva e grosseira, enquanto os integrantes do grupo dos especialistas tratam exclusivamente de seu ramo profissional.
A tentativa de emplacar a tese de que o próximo mandato da presidente Dilma Rousseff teria aspectos do conflituoso estilo venezuelano de governar foi levada até a entrevista coletiva concedida por ela e publicada pelos diários de papel nas edições de sexta-feira (7/11).
Na resposta a uma pergunta provocativa sobre o mote que a imprensa tentou emplacar nos debates políticos, a presidente ridicularizou a ideia de um “bolivarianismo brasileiro” e elogiou um texto do correspondente da Folha de S.Paulo em Caracas, Samy Adghirni (ver aqui), um repórter jovem com vasta experiência em conflitos como a Primavera Árabe e crises humanitárias.
Um crise estranha
O correspondente da Folha personifica, como alguns poucos, o tipo de jornalista que ainda pode reverter o processo de deterioração da imprensa no Brasil. No lado oposto, o campo dos arruaceiros da mídia, também se encontram profissionais de todo tipo, inclusive economistas, sociólogos, supostos filósofos e até um astrólogo. Algumas demissões ocorridas na Folha de S. Paulo nesta semana parecem abater uma parte desse contingente, o que pode significar muito ou nada, se imaginarmos que o diário paulista está preocupado em melhorar sua credibilidade e não apenas cortar custos.
A leitura crítica de qualquer um dos jornais de circulação nacional, na sexta-feira (7), pode induzir o cidadão ou a cidadã a concluir que a imprensa está sob um surto de esquizofrenia: de um lado, colunistas que repetem o discurso do catastrofismo; de outro, articulistas que demonstram não haver descontrole ou uma crise grave na economia brasileira. Entre um e outro grupo, algumas reportagens ajudam a refletir sobre onde estaria a verdade objetiva.
Descartando-se a exploração de dados parciais sobre o combate à miséria, que não sobreviveu à divulgação de indicadores do IBGE, o que temos é o seguinte: o desemprego caiu de 7% para 6,8% no segundo trimestre deste ano, mesmo com o crescimento da população ocupada. Na projeção de alguns especialistas ouvidos pela imprensa, o Brasil está muito próximo do pleno emprego. Também é interessante observar que dois terços das vagas foram criadas no Nordeste, onde também cresceu muito a formalização do emprego.
O leitor vira algumas páginas e se dá conta de que uma das maiores gestoras de finanças dos Estados Unidos levantou mais de US$ 2 bilhões para investimento na América Latina. Cerca de 60% desse montante será destinado ao Brasil, para aplicação nos setores de saúde, educação, infraestrutura logística e portuária, varejo, consumo e lazer. Outros fundos gigantes estão seguindo a mesma estratégia, apostando em projetos de longo prazo no Brasil e em outros países da região – entre os quais aqueles que a mídia brasileira chama de “bolivarianos”.
É possível que os ativos brasileiros estejam depreciados, o que atrai o investidor estrangeiro, mas o dinheiro real não parece contaminado pelo pessimismo das manchetes.
O irônico da história é que os pitbulls pessimistas agem contra os interesses do capital produtivo, que gera empregos e movimenta a economia.
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