Por Altamiro Borges
Está em curso um acelerado processo de desnacionalização do ensino no Brasil. Faculdades e até escolas básicas estão sendo vendidas a grupos estrangeiros, que não têm qualquer compromisso com a educação brasileira e objetivam apenas o lucro. Na semana passada, o “Apollo Group”, maior empresa de ensino dos EUA, anunciou a compra de 75% da participação da Sociedade Técnica Educacional Lapa (Fael), por cerca de R$ 73 milhões. “A operação está alinhada à estratégia de diversificar os serviços e expandir os negócios para o Brasil, um dos países que têm investido mais em educação superior”, explicou Greg Cappelli, presidente-executivo da corporação estadunidense, ao jornal Valor.
Apesar do discurso adocicado sobre expansão e melhoria da qualidade do ensino, a multinacional visa mesmo é obter lucros elevados e rápidos. A expectativa é de retorno imediato dos dólares investidos na nova aquisição. Segundo o jornal, “o Apollo Group espera que o valor da operação seja diluído em seus resultados financeiros de 2015”. Além de ser dona da Universidade de Phoenix, nos Estados Unidos, a poderosa empresa tem programas educacionais na Europa, África, Austrália e Ásia. Esta não é a primeira operação de uma multinacional no setor da educação. No final do ano passado, o grupo britânico Pearson comprou as escolas de línguas Yázigi, Wizard e Skill, numa transação de R$ 1,95 bilhão.
Juan Manuel Romero, presidente da Pearson na América Latina, justificou o negócio bilionário elogiando o crescimento da “nova classe média” no Brasil. Para ele, o mercado do ensino de línguas está em expansão. “Menos de 3% dos brasileiros falam inglês com proficiência”, argumentou. Com a compra, o grupo britânico também ingressou no setor de franquias, que cresceu a uma média de 12% ao ano desde 2001. A Wizard foi a primeira escola a ter mais de mil unidades franqueadas pelo país. Três anos antes, a mesma multinacional – que edita o jornal “Financial Times”, considerado a bíblia dos neoliberais no mundo inteiro – já havia adquirido o sistema COC de ensino e uma fatia da editora Companhia das Letras.
Em agosto de 2013, outra transação bilionária já confirmava o processo de desnacionalização do ensino brasileiro. A multinacional Laureate, dos EUA, adquiriu por R$ 1 bilhão a FMU – que conta com 68 mil estudantes, que pagam em média mensalidade de R$ 650. O complexo é formado por três faculdades: FMU, Fisp e Fiam-Faam. Conforme festejou na época o jornal Valor, “fundada em 1968, a FMU era a noiva mais cortejada do setor... Os atrativos são a forte marca que o grupo tem em São Paulo e a presença em 40 campi distribuídos em pontos estratégicos da cidade. Além disso, a faculdade tem grande potencial para crescer no segmento de ensino a distância, modalidade na qual tem uma atuação tímida”.
Ainda segundo o jornal, que pertence aos grupos Globo e Folha e é dedicado à chamada elite empresarial, “a FMU é a 12ª aquisição feita pela Laureate no Brasil. Desde 2005, quando desembarcou no país, o grupo americano já investiu cerca de R$ 2 bilhões. Metade dessa cifra foi, portanto, destinada para a FMU. No ano passado, a Laureate registrou um faturamento de cerca de R$ 1 bilhão. A primeira aquisição do grupo americano no Brasil foi a Anhembi Morumbi, que tem pontos marcantes em comum com a FMU. Ambas as instituições de ensino atuam no mercado paulista há cerca de 40 anos e foram fundadas por professores que hoje têm idade na casa dos 80 anos”.
Além da desnacionalização, o setor da educação passa por um processo intenso de concentração – com fusões e incorporações que aumentam o poder dos monopólios privados no ensino. Em abril de 2013, o próprio Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) ficou temeroso com estas mudanças. Na ocasião, a incorporação do grupo Anhanguera pela Kroton Educacional fez soar o sinal de alerta. O negócio, avaliado em R$ 5 bilhões, criou uma gigante global do ensino, com quase 1 milhão de alunos no país – a Kroton tem 534.392 estudantes, e a Anhanguera, 428.779. Para o Cade, a fusão poderia elevar as mensalidades e reduzir a qualidade do ensino. O temor, porém, não durou muito. Valeu o poder dos monopólios!
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Está em curso um acelerado processo de desnacionalização do ensino no Brasil. Faculdades e até escolas básicas estão sendo vendidas a grupos estrangeiros, que não têm qualquer compromisso com a educação brasileira e objetivam apenas o lucro. Na semana passada, o “Apollo Group”, maior empresa de ensino dos EUA, anunciou a compra de 75% da participação da Sociedade Técnica Educacional Lapa (Fael), por cerca de R$ 73 milhões. “A operação está alinhada à estratégia de diversificar os serviços e expandir os negócios para o Brasil, um dos países que têm investido mais em educação superior”, explicou Greg Cappelli, presidente-executivo da corporação estadunidense, ao jornal Valor.
Apesar do discurso adocicado sobre expansão e melhoria da qualidade do ensino, a multinacional visa mesmo é obter lucros elevados e rápidos. A expectativa é de retorno imediato dos dólares investidos na nova aquisição. Segundo o jornal, “o Apollo Group espera que o valor da operação seja diluído em seus resultados financeiros de 2015”. Além de ser dona da Universidade de Phoenix, nos Estados Unidos, a poderosa empresa tem programas educacionais na Europa, África, Austrália e Ásia. Esta não é a primeira operação de uma multinacional no setor da educação. No final do ano passado, o grupo britânico Pearson comprou as escolas de línguas Yázigi, Wizard e Skill, numa transação de R$ 1,95 bilhão.
Juan Manuel Romero, presidente da Pearson na América Latina, justificou o negócio bilionário elogiando o crescimento da “nova classe média” no Brasil. Para ele, o mercado do ensino de línguas está em expansão. “Menos de 3% dos brasileiros falam inglês com proficiência”, argumentou. Com a compra, o grupo britânico também ingressou no setor de franquias, que cresceu a uma média de 12% ao ano desde 2001. A Wizard foi a primeira escola a ter mais de mil unidades franqueadas pelo país. Três anos antes, a mesma multinacional – que edita o jornal “Financial Times”, considerado a bíblia dos neoliberais no mundo inteiro – já havia adquirido o sistema COC de ensino e uma fatia da editora Companhia das Letras.
Em agosto de 2013, outra transação bilionária já confirmava o processo de desnacionalização do ensino brasileiro. A multinacional Laureate, dos EUA, adquiriu por R$ 1 bilhão a FMU – que conta com 68 mil estudantes, que pagam em média mensalidade de R$ 650. O complexo é formado por três faculdades: FMU, Fisp e Fiam-Faam. Conforme festejou na época o jornal Valor, “fundada em 1968, a FMU era a noiva mais cortejada do setor... Os atrativos são a forte marca que o grupo tem em São Paulo e a presença em 40 campi distribuídos em pontos estratégicos da cidade. Além disso, a faculdade tem grande potencial para crescer no segmento de ensino a distância, modalidade na qual tem uma atuação tímida”.
Ainda segundo o jornal, que pertence aos grupos Globo e Folha e é dedicado à chamada elite empresarial, “a FMU é a 12ª aquisição feita pela Laureate no Brasil. Desde 2005, quando desembarcou no país, o grupo americano já investiu cerca de R$ 2 bilhões. Metade dessa cifra foi, portanto, destinada para a FMU. No ano passado, a Laureate registrou um faturamento de cerca de R$ 1 bilhão. A primeira aquisição do grupo americano no Brasil foi a Anhembi Morumbi, que tem pontos marcantes em comum com a FMU. Ambas as instituições de ensino atuam no mercado paulista há cerca de 40 anos e foram fundadas por professores que hoje têm idade na casa dos 80 anos”.
Além da desnacionalização, o setor da educação passa por um processo intenso de concentração – com fusões e incorporações que aumentam o poder dos monopólios privados no ensino. Em abril de 2013, o próprio Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) ficou temeroso com estas mudanças. Na ocasião, a incorporação do grupo Anhanguera pela Kroton Educacional fez soar o sinal de alerta. O negócio, avaliado em R$ 5 bilhões, criou uma gigante global do ensino, com quase 1 milhão de alunos no país – a Kroton tem 534.392 estudantes, e a Anhanguera, 428.779. Para o Cade, a fusão poderia elevar as mensalidades e reduzir a qualidade do ensino. O temor, porém, não durou muito. Valeu o poder dos monopólios!
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