Por Luciano Martins Costa, no Observatório da Imprensa:
O escândalo da Petrobras chega ao final do primeiro capítulo, com o indiciamento de uma dúzia de executivos e empresários, sem que o noticiário tenha afetado a confiança dos brasileiros no governo de Dilma Rousseff. Esse é o principal episódio da série intitulada Lava Jato, mas não foi o assunto escolhido pelos jornais de circulação nacional para suas manchetes nas edições de quarta-feira (10/12): os editores acharam mais importante reproduzir uma declaração do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que aconselha a troca da diretoria da estatal.
No processo, a Petrobras é citada como vítima de um cartel montado por suas maiores fornecedoras, sob a coordenação de agentes públicos e políticos, com parte do dinheiro destinada a alimentar o caixa de partidos. Essa característica do processo não fica clara no noticiário, porque as informações são vazadas com o objetivo prioritário de fazer barulho, não de esclarecer. A profusão de elementos sem um fio condutor que ajude o leitor a entender a história tem o propósito de produzir um certo estado de espírito, não o de desvendar a trama.
Concluído o indiciamento dos principais operadores, a imprensa deverá desviar o foco de atenção para o outro grupo de suspeitos: aquele formado por políticos e agentes públicos, cujo julgamento, em caso de denúncia, ficará a cargo do Supremo Tribunal Federal.
A declaração do procurador-geral – até certo ponto surpreendente – tem origem nas tensões antecipadas por essa futura etapa do processo. Rodrigo Janot demonstra ser mais influenciado pelo clima do noticiário do que pelos autos. Ao se referir à tese de que o caso “convulsiona” o país, ele apenas repete afirmações de editoriais e artigos que não encontram respaldo na realidade: pesquisas divulgadas no último fim de semana mostram que a sociedade brasileira acompanha o escândalo sem emocionalismo, e que a maioria considera positivo o fato de que, finalmente, casos envolvendo políticos e empresários não acabem engavetados.
O que pode estar “convulsionado” é o ambiente institucional midiatizado, onde vivem o procurador-geral e outros protagonistas dessa história.
Criadores de fetiches
É preciso entender essa alienação que se manifesta na declaração do procurador-geral, no contexto de uma ruptura ainda mais profunda, aquela que separa o Estado, com seus agentes e instituições, da sociedade à qual ele deveria servir.
Embora a questão seja complexa demais para ser tratada pela imprensa superficial e partidária, até mesmo editores assoberbados por muitas horas diárias de trabalho podem compreender o contexto: a desintegração entre uma sociedade mergulhada na cultura caótica de massa e o conjunto institucional ordenado e submetido aos pressupostos de legalidade e legitimidade.
Agentes públicos, assim como jornalistas a serviço das corporações de mídia, costumam limitar seu campo de visão ao ambiente das instituições, mas se imaginam representantes ou porta-vozes do ecossistema fluido e diversificado da sociedade.
Como numa caricatura do instigante conjunto de ensaios do pensador italiano Umberto Eco, jornalistas e agentes públicos se comportam como críticos-aristocráticos, os apocalípticos, transformando conceitos em fetiche e, com isso, construindo um universo de ficção em lugar da realidade. Não surpreende, portanto, que o procurador-geral tenha visto no noticiário manipulado pela imprensa uma sociedade “convulsionada”.
Na recente celebração realizada em São Paulo em torno de um ranking de jornalistas admirados (ver aqui), muitos colunistas, editores e repórteres bem postados na mídia tradicional foram ao palco manifestar preocupação com o suposto risco de uma volta da censura. Como o alienado senhor de Sancho Pança, eles precisam de seus moinhos de vento para justificar moralmente o jornalismo que praticam.
Vistos pelo ângulo mais aberto da sociedade, tanto a “convulsão social” citada pelo procurador-geral quanto a “ditadura bolivariana” que assombra jornalistas são fantasmagorias. O problema é que, ao reduzir a dinâmica social aos parâmetros fetichistas que eles mesmos criam, agentes públicos e a imprensa impõem ao país uma visão apocalíptica e destrambelhada da realidade.
No processo, a Petrobras é citada como vítima de um cartel montado por suas maiores fornecedoras, sob a coordenação de agentes públicos e políticos, com parte do dinheiro destinada a alimentar o caixa de partidos. Essa característica do processo não fica clara no noticiário, porque as informações são vazadas com o objetivo prioritário de fazer barulho, não de esclarecer. A profusão de elementos sem um fio condutor que ajude o leitor a entender a história tem o propósito de produzir um certo estado de espírito, não o de desvendar a trama.
Concluído o indiciamento dos principais operadores, a imprensa deverá desviar o foco de atenção para o outro grupo de suspeitos: aquele formado por políticos e agentes públicos, cujo julgamento, em caso de denúncia, ficará a cargo do Supremo Tribunal Federal.
A declaração do procurador-geral – até certo ponto surpreendente – tem origem nas tensões antecipadas por essa futura etapa do processo. Rodrigo Janot demonstra ser mais influenciado pelo clima do noticiário do que pelos autos. Ao se referir à tese de que o caso “convulsiona” o país, ele apenas repete afirmações de editoriais e artigos que não encontram respaldo na realidade: pesquisas divulgadas no último fim de semana mostram que a sociedade brasileira acompanha o escândalo sem emocionalismo, e que a maioria considera positivo o fato de que, finalmente, casos envolvendo políticos e empresários não acabem engavetados.
O que pode estar “convulsionado” é o ambiente institucional midiatizado, onde vivem o procurador-geral e outros protagonistas dessa história.
Criadores de fetiches
É preciso entender essa alienação que se manifesta na declaração do procurador-geral, no contexto de uma ruptura ainda mais profunda, aquela que separa o Estado, com seus agentes e instituições, da sociedade à qual ele deveria servir.
Embora a questão seja complexa demais para ser tratada pela imprensa superficial e partidária, até mesmo editores assoberbados por muitas horas diárias de trabalho podem compreender o contexto: a desintegração entre uma sociedade mergulhada na cultura caótica de massa e o conjunto institucional ordenado e submetido aos pressupostos de legalidade e legitimidade.
Agentes públicos, assim como jornalistas a serviço das corporações de mídia, costumam limitar seu campo de visão ao ambiente das instituições, mas se imaginam representantes ou porta-vozes do ecossistema fluido e diversificado da sociedade.
Como numa caricatura do instigante conjunto de ensaios do pensador italiano Umberto Eco, jornalistas e agentes públicos se comportam como críticos-aristocráticos, os apocalípticos, transformando conceitos em fetiche e, com isso, construindo um universo de ficção em lugar da realidade. Não surpreende, portanto, que o procurador-geral tenha visto no noticiário manipulado pela imprensa uma sociedade “convulsionada”.
Na recente celebração realizada em São Paulo em torno de um ranking de jornalistas admirados (ver aqui), muitos colunistas, editores e repórteres bem postados na mídia tradicional foram ao palco manifestar preocupação com o suposto risco de uma volta da censura. Como o alienado senhor de Sancho Pança, eles precisam de seus moinhos de vento para justificar moralmente o jornalismo que praticam.
Vistos pelo ângulo mais aberto da sociedade, tanto a “convulsão social” citada pelo procurador-geral quanto a “ditadura bolivariana” que assombra jornalistas são fantasmagorias. O problema é que, ao reduzir a dinâmica social aos parâmetros fetichistas que eles mesmos criam, agentes públicos e a imprensa impõem ao país uma visão apocalíptica e destrambelhada da realidade.
Apesar da vitória nos dois turnos, vem sendo preciso enfrentar os abutres todos os dias... Depois que o governo vencer o 3º turno, a prorrogação e a cobrança de pênaltis, será hora de impor aos raivosos adversários a derrota definitiva, tomando-lhes as Bandeiras, os símbolos, os estandartes. Evidentemente o objetivo não será humilhar ninguém mas, apenas, deixá-los sem discurso.
ResponderExcluirBANDEIRAS DA DIREITA. Algumas delas encontram eco nos medos e anseios da Classe C, que precisa ser reconquistada pelo governo, especialmente a do Centro-Sul do país. O governo pode se apossar de algumas delas como já fez antes? Como fazê-lo? É importante debater a questão? É o que o texto do link abaixo procura fazer: refletir a respeito.
http://reino-de-clio.com.br/Pensando%20BR5.html