segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Chaves, o Chaplin cucaracha

Por Cynara Menezes, no blog Socialista Morena:

Assisti Chaves pela primeira vez na adolescência, com meus irmãos mais novos (e minha mãe também sempre foi fã). Voltei a assisti-lo quando tive meu filho mais velho, aos 20 e poucos anos. E, mais uma vez, quando nasceu o caçula, seis anos atrás. Que belas desculpas tive para ver o Chaves e o Chapolin… Até hoje me faz dar boas risadas diante da TV, mesmo sozinha.

Os personagens criados por Roberto Bolaños (1929-2014) são, ao mesmo tempo, inteligentes e hilários. Engana-se quem vê o humor de Chaves como raso. Ao contrário, o texto é muito interessante e cheio de picardia. Quem se dedicasse a analisar sociologicamente a turma do Chaves e a compará-lo à sociedade capitalista ia encontrar um prato cheio: o miserável (Chaves), a burguesa (Dona Florinda/Florinda Meza), o explorador (seu Barriga/Edgar Vivar), o desempregado (seu Madruga/Ramon Valdés)… O romance do professor Girafales (Rubén Aguirre) com dona Florinda ironiza as melodramáticas novelas mexicanas.

Como o vagabundo de Chaplin, Chaves é um excluído. Seu nome original, Chavo del Ocho, quer dizer que ele é o menino que mora no número 8 da vila, ou seja, num barril – assim como dona Clotilde (Angelines Fernandes) é a “bruxa do 71″. Chaves encanta seus fãs pela imensa ternura misturada com a graça de fazer as coisas errado “sem querer querendo”, exatamente como o vagabundo de Chaplin fazia. É adorável e engraçado, mas tem uma tristeza implícita no olhar, como se fosse a versão criança e “cucaracha” do vagabundo chapliniano. Até chapéu usa.

Seu outro personagem famoso, o Chapolin Colorado, é um herói perdedor. O anti-herói americano. Já imaginaram um super-homem fracote? Um Batman desastrado? Um Homem-Aranha falível? Chapolin é assim. (Seria Chapolin um trocadilho/homenagem a Chaplin? Só muda uma letra…)

Em um dos meus episódios favoritos, Chapolin aparece na vila onde vive a turma do Chaves e os dois personagens interpretados por Bolaños contracenam. O final é emocionante: Chaves pega uma “pílula de polegarina” de Chapolin que o faz diminuir de tamanho e, com biscoitos gigantes na mão, diz que é a maior refeição que já teve na vida… Lágrimas e risos.

Outro episódio inesquecível é uma das reconstituições históricas hilárias feitas por Bolaños e seus atores na parte teatral dos episódios. É aquela cena bíblica do rei Salomão com as duas mães e o bebê que disputam. Bolaños é o rei Salomão e Chiquinha (Maria Antonieta de las Nieves) faz a rainha de Sabá. Ao dizer que vai cortar a criança em duas e dar cada uma das metades para uma das mulheres, o rei/Chaves ouve da rainha/Chiquinha: “Comunismo!!!!”

Em minhas viagens pela América Latina, por onde andei conheci fãs de Chaves e sua turma, sempre relembrando o bordão de Quico (Carlos Villagrán): “Chusma! Chusma! Chusma!” (gentalha! gentalha! gentalha!). Todos mostravam simpatia e carinho pelo personagem, que só chegou ao Brasil em 1984, mas que tinha sido criado no México em 1971 e circulava pelos demais países da América Latina desde então. Ou seja, quem tem entre 0 e 55 anos de idade no continente vê ou viu o Chaves. Mas o personagem tem fãs de todas as idades, como minha mãe ouo poeta Manoel de Barros. Basta assistir.

Situo Bolaños/Chaves entre os grandes da comédia universal, ao lado não só de Chaplin como do conterrâneo Cantinflas, de Buster Keaton ou de Jerry Lewis. Todos eles carregam em si esse clown ingênuo, desajeitado e hilariante que Roberto Bolaños imortalizou no mexicano Chaves. Adeus, Bolaños. Sua criação é um clássico e ainda fará gargalhar gerações.

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