Alvo de pancadas permanentes desde 2005, quando Roberto Jefferson fez a denúncia da AP 470, o desempenho do PT no Congresso brasileiro é pouco estudado pelo cidadão comum. Lamentável.
Conforme levantamento do Núcleo de Estudos sobre o Congresso, do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Rio de Janeiro, um dos mais respeitados do país, o Partido dos Trabalhadores foi a legenda que teve o maior número de parlamentares classificados entre os 10 melhores da Câmara de Deputados e do Senado Federal.
Está lá, na revista: entre os senadores, os petistas classificaram 3 entre os melhores, marca que nenhuma legenda atingiu: Lindenberg Farias, que ficou em 2o; Anibal Diniz, que foi o 4o; e Gleisi Hoffmann, em 10o.
Entre os deputados foram cinco sobre dez. Gabriel Guimarães, Angelo Venhoni, Alessandro Molon, Claudio Puty e Amaury Teixeira. Para usar uma expressão típica dos campos de futebol, o Partido fez barba e cabelo no ranking.
Considerando o tratamento cotidiano que o PT costuma receber dos principais veículos de comunicação - a começar pela própria Veja - esses números são uma nova comprovação do caráter seletivo e tendencioso da cobertura política oferecida aos leitores brasileiros. Aposto que você nunca tinha ouvido falar de muitos desses deputados. Também tenho certeza de que em alguns casos, você até tinha ouvido falar - porque são nomes incluídos em escândalos, nos quais sua culpa nunca foi demonstrada com consistência.
Nem vou discutir os critérios que levaram a este resultado, que envolvem 9 eixos de atuação definidos pela revista. É possível, até, discordar de alguns desses critérios, coerentes com o ideário da revista. Mas é obrigatório concordar com o professor Fabiano Santos, coordendar do estudo, colunista regular do Valor Econômico e um dos mais aplicados estudiosos do Legislativo no país, quando ele escreve que “de posse desses dados é possivel analisar comparativamente a atividade de deputados e senadores.”
Para Fabiano, os dados permitem ao eleitor ” avaliar em que medida os parlamentares se aproximam - ou se afastam - de seus pontos de vista.”
Esses dados são acima de tudo a demonstração, num patamar que chega ao escândalo, do desserviço que a mídia presta ao regime democrático.
Se é correto cobrir as notícias ruins - obviamente - também é necessário olhar para outros aspectos da atividade política, que envolvem o interesse direto do eleitor. O olhar enviesado é uma forma de enfraquecer e sabotar o funcionamento da democracia, ensina um dos principais estudiosos da midia nos EUA, James Fallows. Cria mitos e lendas que só ajudam a criminalizar a atividade política. Afasta o leitor dos temas de interesse público para favorecer questões de interesse privado.
E agora nós podemos falar da nota zero de Aécio Neves. Quem acredita que ele foi considerado o pior senador de 2014 porque estava ocupado na campanha presidencial deve recordar que vários senadores bem classificados tiveram de enfrentar campanhas duríssimas em seus Estados - e foram capazes de cuidar das obrigações do mandato, sem prejuízo da campanha.
Cabe lembrar que a classificação de Aécio no ranking - 74o lugar - não foi divulgada pela edição impressa da revista. É vergonhoso, considerando sua estatura de candidato presidencial, o que tornava a divulgação de uma informação dessa relevância uma decisão obrigatória. Alguém pode imaginar que o desempenho de Aécio como senador não interessava a seus leitores?
Surpresa? Nem tanto. É mais um caso de antológico de jornalismo pautado pelo mandamento de um inesquecível ministro do PSDB: “O que é bom a gente mostra, o que é ruim a gente esconde.”
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