Por Mino Carta, na revista CartaCapital:
Levy, está claro, não é o único homem de negócios convocado pela presidenta, e aí pergunto aos meus perplexos botões quais seriam as razões de tais escolhas. Sem demovê-los da perplexidade, também eles mergulham em roteiros imaginativos. Aparece Dilma a romper com o PT para reeditar a conciliação das elites de roupa nova. Pasmem, se for do seu agrado.
Entendo que, assim como a editora de Piketty foi incapaz de se dar conta da inadequação dos convocados para debater com seu autor, Dilma e Lula não entenderam o alcance do seu poder e o usam em benefício de fórmulas caducas. Os passos dados adiante até ontem, graças às políticas de inclusão social praticadas nos últimos 12 anos não são considerados, bem como o apoio incondicional de Severina e Maria das Dores. O desencanto com um partido como o PT, que tanto prometeu e não cumpriu, justifico por parte de Dilma, em cuja lisura e honestidade aposto a vida. Cadê, porém, a inovação política? Onde fica a confiança em quem a elegeu ao cabo de uma contenda tão acirrada? Ou vinga a leniência tradicional, se não for coisa pior, a precipitar a genuflexão ao deus mercado?
Há outra questão. Até que ponto adianta hoje oferecer satisfações à casa-grande? Não se iludam os manobristas, o ódio de classe não admite conciliações. Graças a Lula e Dilma, ficou superado o momento da composição entre o primogênito do barão e o irmão deserdado, instado à rebeldia pelo desapontamento e pelo rancor, eventualmente esquerdista de ocasião. Entrou no jogo uma liderança popular autêntica, protagonista inédito. Se esta recua, dá-se o desastre. A tragédia está desenhada.
Depois de debater com André Lara Resende e Paulo Guedes, em São Paulo, na semana passada, Thomas Piketty confessou a CartaCapital: “Não sabia que teria de me encontrar com homens de negócios”. De fato, os organizadores da singular tertúlia atiraram Piketty a uma cilada, não fosse ele capaz de impagável ironia voltairiana.
O herói destas minhas primeiras linhas é autor de um livro formidável, O Capital no Século XXI, best seller mundial que acaba de ser publicado no Brasil, exposição de um teorema implacável: o capitalismo atinge nesta quadra fatal do mundo seu objetivo final. Ou seja, dilatar ao extremo a desigualdade social. Não era isto que Adam Smith pretendia, mas o homem é um bicho inconfiável e cuidou de frustrar suas intenções.
Inúmeros cidadãos nativos que se dizem economistas são, de verdade, homens de negócios. Alguns, excelentes no mister de enricar. Por exemplo, os envolvidos no escândalo da privatização das Comunicações, entre eles André Lara Resende. Quanto a Paulo Guedes, sócio destacado do Instituto Millenium, é infatigável inquisidor de todo projeto de inclusão social. Creio que a própria editora brasileira da obra de Piketty tenha agido em relação ao seu autor movida apenas pela perspectiva do bom negócio.
Nada disso me espanta. Surpreende-me que a presidenta Dilma esteja agora a compor um governo de homens de negócios. Em busca de explicações, solto a imaginação. Se o objetivo for reconstituir os esquemas adotados no começo do governo Lula, a dedução é inevitável: o próprio aprova. Ou não seria mesmo o inspirador, assessorado na ação por Antonio Palocci, o grande operador daquele início de governo?
Ah, os operadores... Surge na memória a figura de Serjão Motta, dotado de habilidades que no Brasil conferem poder infinito a quem as tem. Entre P.C. Farias, personagem escrachada, e Palocci, vítima de vez em quando de transparente provincianismo, campeia Serjão, mais eficaz do que Júpiter ao lançar raios e urdir manobras.
Mesmo assim, a imaginação me leva a figurar Palocci em busca dos senhores do Bradesco para sugerir, em conversa amena, o nome de uma de suas velhas relações, Joaquim Levy, homem do banco, de onde, aparentemente, cogita-se extrair à força o presidente em pessoa, Luiz Carlos Trabuco, para sagrá-lo ministro da Fazenda. Ora, ora, o banco não deve perder Trabuco, treinado longamente para a missão pelo Grão-Mestre Lázaro Brandão. E que tal, então, o Levy? Ele sabe tudo de contenção de despesas.
O herói destas minhas primeiras linhas é autor de um livro formidável, O Capital no Século XXI, best seller mundial que acaba de ser publicado no Brasil, exposição de um teorema implacável: o capitalismo atinge nesta quadra fatal do mundo seu objetivo final. Ou seja, dilatar ao extremo a desigualdade social. Não era isto que Adam Smith pretendia, mas o homem é um bicho inconfiável e cuidou de frustrar suas intenções.
Inúmeros cidadãos nativos que se dizem economistas são, de verdade, homens de negócios. Alguns, excelentes no mister de enricar. Por exemplo, os envolvidos no escândalo da privatização das Comunicações, entre eles André Lara Resende. Quanto a Paulo Guedes, sócio destacado do Instituto Millenium, é infatigável inquisidor de todo projeto de inclusão social. Creio que a própria editora brasileira da obra de Piketty tenha agido em relação ao seu autor movida apenas pela perspectiva do bom negócio.
Nada disso me espanta. Surpreende-me que a presidenta Dilma esteja agora a compor um governo de homens de negócios. Em busca de explicações, solto a imaginação. Se o objetivo for reconstituir os esquemas adotados no começo do governo Lula, a dedução é inevitável: o próprio aprova. Ou não seria mesmo o inspirador, assessorado na ação por Antonio Palocci, o grande operador daquele início de governo?
Ah, os operadores... Surge na memória a figura de Serjão Motta, dotado de habilidades que no Brasil conferem poder infinito a quem as tem. Entre P.C. Farias, personagem escrachada, e Palocci, vítima de vez em quando de transparente provincianismo, campeia Serjão, mais eficaz do que Júpiter ao lançar raios e urdir manobras.
Mesmo assim, a imaginação me leva a figurar Palocci em busca dos senhores do Bradesco para sugerir, em conversa amena, o nome de uma de suas velhas relações, Joaquim Levy, homem do banco, de onde, aparentemente, cogita-se extrair à força o presidente em pessoa, Luiz Carlos Trabuco, para sagrá-lo ministro da Fazenda. Ora, ora, o banco não deve perder Trabuco, treinado longamente para a missão pelo Grão-Mestre Lázaro Brandão. E que tal, então, o Levy? Ele sabe tudo de contenção de despesas.
Levy, está claro, não é o único homem de negócios convocado pela presidenta, e aí pergunto aos meus perplexos botões quais seriam as razões de tais escolhas. Sem demovê-los da perplexidade, também eles mergulham em roteiros imaginativos. Aparece Dilma a romper com o PT para reeditar a conciliação das elites de roupa nova. Pasmem, se for do seu agrado.
Entendo que, assim como a editora de Piketty foi incapaz de se dar conta da inadequação dos convocados para debater com seu autor, Dilma e Lula não entenderam o alcance do seu poder e o usam em benefício de fórmulas caducas. Os passos dados adiante até ontem, graças às políticas de inclusão social praticadas nos últimos 12 anos não são considerados, bem como o apoio incondicional de Severina e Maria das Dores. O desencanto com um partido como o PT, que tanto prometeu e não cumpriu, justifico por parte de Dilma, em cuja lisura e honestidade aposto a vida. Cadê, porém, a inovação política? Onde fica a confiança em quem a elegeu ao cabo de uma contenda tão acirrada? Ou vinga a leniência tradicional, se não for coisa pior, a precipitar a genuflexão ao deus mercado?
Há outra questão. Até que ponto adianta hoje oferecer satisfações à casa-grande? Não se iludam os manobristas, o ódio de classe não admite conciliações. Graças a Lula e Dilma, ficou superado o momento da composição entre o primogênito do barão e o irmão deserdado, instado à rebeldia pelo desapontamento e pelo rancor, eventualmente esquerdista de ocasião. Entrou no jogo uma liderança popular autêntica, protagonista inédito. Se esta recua, dá-se o desastre. A tragédia está desenhada.
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