Por Bepe Damasco, em seu blog:
No mundo da política e da administração pública, o alvoroço causado pelas mudanças de comando e pelos novos projetos e linhas de atuação a serem adotados pelos novos titulares muitas vezes ofusca as realizações e o legado dos que estão de saída. É de se lamentar o não reconhecimento público dos inúmeros méritos da longa passagem de Guido Mantega pelo Ministério da Fazenda (oito anos e nove meses, nenhum outro ministro da Fazenda ocupou o cargo por tanto tempo) por parte do PT, partidos aliados e setores progressistas e do campo democrático popular da sociedade. Tampouco, lemos ou ouvimos manifestações de expoentes do pensamento acadêmico desenvolvimentista, corrente ao qual este brasileiro nascido em Gênova, na Itália, se filia. Mesmo na blogosfera progressista só lembro de ter lido um post elogiando a obra do ex-ministro, assinado pelo bravo Rodrigo Vianna, no blog Escrevinhador.
A maior prova dos bons serviços prestados ao país por Guido é o fato de ter deixado o ministério sendo acusado de vilão das contas públicas por 10 entre 10 analistas ligados ao rentismo e ao PIG. Simples assim : se foi vidraça dessa gente por tantos anos, é porque combateu do lado certo, em defesa do mercado interno, da manutenção do emprego e da renda dos brasileiros. Isso o establishment financeiro-midiático não perdoa.
No início do segundo semestre de 2005, o governo Lula além de enfrentar o vendaval do mensalão, patinava na economia. O então ministro da Fazenda, Antônio Palocci, aplicava um receituário econômico muito semelhante aos governos tucanos, com base nos cortes orçamentários em todas áreas, juros altos para conter a inflação, pouca ênfase no fortalecimento do mercado interno de massas, enfim o que os economistas chamam de política fiscal restritiva. Palocci e o presidente do Banco Central da época, Henrique Meirelles, flertavam também com a joia da coroa dos mercados : a tese da independência do Banco Central.
O escândalo do caseiro derruba Palocci e Lula nomeia o professor da USP, Guido Mantega, para o cargo. Nesse primeiro mandato de Lula, Guido já fora ministro do Planejamento e presidente do BNDES. Guido e a nova ministra chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, sob a liderança de Lula, dão então uma guinada de 180 graus na política econômica do governo. Agora a prioridade é a geração de empregos, a defesa do poder de compra dos salários, a contenção dos juros e o investimento crescente em programas sociais, além do aumento exponencial das reservas internacionais do país, como colchão protetor contra eventuais ataques especulativos à nossa moeda e as turbulências no mundo econômico globalizado.
Mas foi na megacrise financeira internacional, que eclodiu com a quebra do banco Lehman Brothers, em 2008, que o ministro Mantega mostrou o quanto vale uma política econômica voltada para a garantia das conquistas do povo. Enquanto os países do capitalismo central, os responsáveis pela crise, optaram cegamente pelo caminho da radicalização da ortodoxia neoliberal, cortando milhões de postos de trabalho, provocando arrocho salarial e reduzindo drasticamente investimentos, gastos públicos e programas sociais, o Brasil fez o oposto, implementando as chamadas medidas anticíclicas.
Para salvar empregos e manter o mercado interno aquecido, Lula e Mantega não hesitaram em suprir a falta de crédito nos bancos privados com farta oferta de crédito pelos bancos públicos. Assim, Banco do Brasil, Caixa e BNDES tiveram um papel central para impedir que os efeitos mais deletérios da crise afetassem a população. Lula estava tão seguro dessa política que cunhou a expressão "marolinha", ao se referir ao que era considerada um tsunâmi nos países ricos.
Não deu outra : o Brasil foi o último país a ser afetado pela crise e o primeiro a sair dela. Tanto que, em 2010, último ano do segundo mandato do presidente Lula, o PIB do país apresentou um padrão chinês de crescimento, atingindo 7,5%. Também a política de isenções tributárias em vários áreas da economia foi outra ação importante para manter a economia aquecida e o consumo em alta. Embora pecasse por não cobrar contrapartidas obrigatórias por parte dos setores beneficiados e ter se desgastado com o passar do tempo, enfraquecendo a arrecadação tributária do país, essa política contribuiu para a conquista dos menores índices de desemprego da nossa história.
Como até hoje as grandes economias do planeta, que puxam o comércio internacional, ainda não se recuperaram da crise, apresentando, no máximo, sinais tímidos de reação, as contas públicas brasileiras foram sacrificadas para manter o nosso mercado interno e não penalizar a classe trabalhadora. O desarranjo atual do resultado fiscal do governo, tão explorado pela mídia de direita, é fruto da decisão política dos governos do PT de não sacrificar as pessoas. E o ministro Mantega teve grande influência na definição dessa estratégia.
Obrigado, ministro. Sucesso na sua vida profissional. Pelo que andei lendo, os alunos da USP é que saíram ganhando, pois o terão de volta nas salas de aula.
No mundo da política e da administração pública, o alvoroço causado pelas mudanças de comando e pelos novos projetos e linhas de atuação a serem adotados pelos novos titulares muitas vezes ofusca as realizações e o legado dos que estão de saída. É de se lamentar o não reconhecimento público dos inúmeros méritos da longa passagem de Guido Mantega pelo Ministério da Fazenda (oito anos e nove meses, nenhum outro ministro da Fazenda ocupou o cargo por tanto tempo) por parte do PT, partidos aliados e setores progressistas e do campo democrático popular da sociedade. Tampouco, lemos ou ouvimos manifestações de expoentes do pensamento acadêmico desenvolvimentista, corrente ao qual este brasileiro nascido em Gênova, na Itália, se filia. Mesmo na blogosfera progressista só lembro de ter lido um post elogiando a obra do ex-ministro, assinado pelo bravo Rodrigo Vianna, no blog Escrevinhador.
A maior prova dos bons serviços prestados ao país por Guido é o fato de ter deixado o ministério sendo acusado de vilão das contas públicas por 10 entre 10 analistas ligados ao rentismo e ao PIG. Simples assim : se foi vidraça dessa gente por tantos anos, é porque combateu do lado certo, em defesa do mercado interno, da manutenção do emprego e da renda dos brasileiros. Isso o establishment financeiro-midiático não perdoa.
No início do segundo semestre de 2005, o governo Lula além de enfrentar o vendaval do mensalão, patinava na economia. O então ministro da Fazenda, Antônio Palocci, aplicava um receituário econômico muito semelhante aos governos tucanos, com base nos cortes orçamentários em todas áreas, juros altos para conter a inflação, pouca ênfase no fortalecimento do mercado interno de massas, enfim o que os economistas chamam de política fiscal restritiva. Palocci e o presidente do Banco Central da época, Henrique Meirelles, flertavam também com a joia da coroa dos mercados : a tese da independência do Banco Central.
O escândalo do caseiro derruba Palocci e Lula nomeia o professor da USP, Guido Mantega, para o cargo. Nesse primeiro mandato de Lula, Guido já fora ministro do Planejamento e presidente do BNDES. Guido e a nova ministra chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, sob a liderança de Lula, dão então uma guinada de 180 graus na política econômica do governo. Agora a prioridade é a geração de empregos, a defesa do poder de compra dos salários, a contenção dos juros e o investimento crescente em programas sociais, além do aumento exponencial das reservas internacionais do país, como colchão protetor contra eventuais ataques especulativos à nossa moeda e as turbulências no mundo econômico globalizado.
Mas foi na megacrise financeira internacional, que eclodiu com a quebra do banco Lehman Brothers, em 2008, que o ministro Mantega mostrou o quanto vale uma política econômica voltada para a garantia das conquistas do povo. Enquanto os países do capitalismo central, os responsáveis pela crise, optaram cegamente pelo caminho da radicalização da ortodoxia neoliberal, cortando milhões de postos de trabalho, provocando arrocho salarial e reduzindo drasticamente investimentos, gastos públicos e programas sociais, o Brasil fez o oposto, implementando as chamadas medidas anticíclicas.
Para salvar empregos e manter o mercado interno aquecido, Lula e Mantega não hesitaram em suprir a falta de crédito nos bancos privados com farta oferta de crédito pelos bancos públicos. Assim, Banco do Brasil, Caixa e BNDES tiveram um papel central para impedir que os efeitos mais deletérios da crise afetassem a população. Lula estava tão seguro dessa política que cunhou a expressão "marolinha", ao se referir ao que era considerada um tsunâmi nos países ricos.
Não deu outra : o Brasil foi o último país a ser afetado pela crise e o primeiro a sair dela. Tanto que, em 2010, último ano do segundo mandato do presidente Lula, o PIB do país apresentou um padrão chinês de crescimento, atingindo 7,5%. Também a política de isenções tributárias em vários áreas da economia foi outra ação importante para manter a economia aquecida e o consumo em alta. Embora pecasse por não cobrar contrapartidas obrigatórias por parte dos setores beneficiados e ter se desgastado com o passar do tempo, enfraquecendo a arrecadação tributária do país, essa política contribuiu para a conquista dos menores índices de desemprego da nossa história.
Como até hoje as grandes economias do planeta, que puxam o comércio internacional, ainda não se recuperaram da crise, apresentando, no máximo, sinais tímidos de reação, as contas públicas brasileiras foram sacrificadas para manter o nosso mercado interno e não penalizar a classe trabalhadora. O desarranjo atual do resultado fiscal do governo, tão explorado pela mídia de direita, é fruto da decisão política dos governos do PT de não sacrificar as pessoas. E o ministro Mantega teve grande influência na definição dessa estratégia.
Obrigado, ministro. Sucesso na sua vida profissional. Pelo que andei lendo, os alunos da USP é que saíram ganhando, pois o terão de volta nas salas de aula.
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