quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Qual é, afinal, a agenda da oposição?

Por Ricardo Kotscho, no blog Balaio do Kotscho:

Por absoluta falta de assunto, a imprensa e as oposições em geral poderiam dar férias coletivas aos seus colaboradores. Cada vez que termino de ler o tedioso noticiário do dia, lembro-me da célebre frase do filósofo Ronald Golias, um gênio que faz muita falta nos dias atuais: "A humanidade não está se comportando bem..."

Ontem, ao retornar de breve recesso, tratei aqui das desventuras da primeira semana do governo Dilma 2 e suas perspectivas pouco animadoras para 2015, praticamente concentradas no acerto das contas públicas entregue às mãos de tesoura do ministro Joaquim Levy.

Hoje, quarta-feira, quando olho para o lado oposto do espectro político partidário-midiático, o cenário também não é nada animador. Mais de dois meses após a sua quarta derrota consecutiva em eleições presidenciais, a oposição continua mais perdida do que cachorro em dia de mudança. Atira para todos os lados, mas não acerta uma bala no alvo capaz de lhe render manchetes e o respeito dos eleitores.

Quer apenas impedir que a presidente Dilma inicie seu segundo governo e, se possível, derrubá-la. Para isso, vale tudo: pedir mais CPIs da Petrobras, vazar novas denúncias, apelar aos seus aliados no Supremo Tribunal Federal comandado pelo onipresente Gilmar Mendes, hoje o principal líder da oposição real, ao lado da grande mídia familiar, enquanto o impagável Eduardo Cunha não assume a presidência da Câmara.

Seus principais líderes, o mineiro Aécio Neves e o paulista José Serra, simplesmente sumiram de cena, assim como o paranaense Álvaro Dias, eterno porta-voz da turma sempre à disposição de câmeras e microfones.

Aécio e Serra limitam-se a dar alguns pitacos reativos a cada discurso ou ação do governo, em notas oficiais ou plantadas em colunas amigas. Estão a reboque de figuras menores e mais assanhadas como os Agripinos, Goldmans, Bolsonaros, Imbassahys, Freires, Lobões, e todas estas figurinhas carimbadas do colunismo do pensamento único do Instituto Millemium, que parecem saídas da Velha República, com aquelas imponentes barbas, calvas cultivadas e cabeleiras brilhantinadas, adornadas por suas meigas coleguinhas.

O fato é que, até agora, esta oposição brasileira _ ao contrário, por exemplo, do que acontece com os republicanos, que disputam palmo a palmo com os democratas as discussões de projetos importantes no Congresso americano _ ainda não conseguiu produzir sequer uma agenda alternativa para o país, em nenhuma área, e se limita a alimentar uma guerra permanente contra o governo petista para evitar nova derrota em 2018.

Por isso, batem em Dilma, mas querem mesmo é atingir Lula, se possível mata-lo politica ou fisicamente, para que ele não ouse se candidatar de novo. É só isso que lhe interessa. O país que se dane. A única agenda da oposição é evitar que Dilma governe e Lula volte. Ficar vinte anos fora do poder, para estes antigos donos da pátria, é simplesmente inadmissível. Por mais fraco que possa ser o governo reeleito, a oposição é ainda pior.

O PSDB até tem um centro de altos estudos, o Instituto Teotônio Vilela, mas ali você não vai encontrar nada além de artigos e entrevistas dos tucanões de sempre. Na aba de "notícias", só duas foram publicadas este ano, ambas na terça-feira: uma sobre programas sociais do governo tucano do Paraná e outra de parlamentares do partido criticando o discurso de posse de Dilma Rousseff na semana passada.

Antes disso, a última notícia de 2014 fora publicada no dia 9 de dezembro, reproduzindo uma matéria de O Globo, sobre a proposta de atualização do programa partidário apresentada por Aécio Neves.

Enquanto isso, a velha mídia oligárquica vai ocupando o lugar que deveria ser dos partidos de oposição. Mesmo perdendo audiência e circulação, obrigada a entregar o comando editorial a terceiros ou a retirar bustos de seus fundadores do saguão de prédios que vão aos poucos se esvaziando de redações, os barões da imprensa não perdem a empáfia.

Isso não é bom para a democracia brasileira. Tanto quanto um governo Dilma 2 melhor do que o Dilma 1, precisamos de uma oposição mais responsável, propositiva e consequente do que esta que está aí, rancorosa, sectária e cada vez mais medíocre.

Se o PT está em crise, não é esta nova versão da UDN quem vai nos salvar.

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