Em um governo, a coordenação das expectativas é arma tão ou mais relevante que a caneta.
É particularmente relevante na condução da política macroeconômica - daí a razão de, tantas vezes, ter criticado aqui a insuficiência do discurso do Ministro da Fazenda Guido Mantega.
A política econômica é composta por uma série de medidas. E é tão mais eficaz quanto menor for a resistência dos agentes econômicos.
Obviamente, as medidas devem necessariamente guardar uma lógica entre si. Mas não basta: é fundamental que essa lógica seja explicada de maneira didática aos agentes econômicos. Entendendo a lógica, haverá maior adesão e menor resistência aos objetivos pretendidos.
Na Fazenda, a eficiência da palavra do Ministro é peça central em uma política econômica, Ainda mais em um ambiente anacrônico como o brasileiro, com a aliança entre bancos de investimento e grupos de mídia contra qualquer tentativa de racionalizar a taxa de juros.
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Mas a comunicação é essencial também para as grandes políticas públicas conduzidas por Ministérios ou estatais.
Quando os governantes têm objetivos claros, e esses objetivos são transmitidos para a opinião pública, cria-se a onda a favor que ajuda no enfrentamento dos interesses econômicos e políticos menores - que dominam o dia a dia da política.
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Não se trata meramente de distribuir releases ou montar campanhas publicitárias.
Trata-se de entender e difundir a lógica dos projetos, os desdobramentos, usar a informação como esclarecimento e como prestação de contas, como afirmação e como mobilização da opinião pública.
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Por isso mesmo, deveria ser ponto central, em cada grande projeto de governo, em cada política pública, a apresentação de um plano de comunicação, explicitando objetivos e metas.
Não se vá ao extremo da ingenuidade política e criar a profusão de indicadores do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).
No Brasil, o uso de indicadores é bem utilizado por ONGs sérias, como Viva São Paulo e outras. Ajuda na fiscalização e na crítica consistente. Mas é utilizada como arma de boicote pelos grupos de mídia em geral - mais interessados em destacar os insucessos do que os avanços.
Por isso mesmo, os indicadores precisam ser poucos e didáticos, essenciais no objetivo de prestar contas, mas suficientemente pedagógicos para evitar utilizações maliciosas.
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A obrigação de um projeto de comunicação, além disso, obrigará os gestores a se desdobrarem na legitimação de seus projetos. Há que se avaliar os benefícios diretos e indiretos, as chamadas externalidades positivas e negativas, pesar os pontos de vulnerabilidade e de legitimação.
Mais que isso, cada projeto tem que ser pensado de forma sistêmica, buscando pontos de complementaridade e sinergia com outros projetos do governo ou da sociedade civil.
A própria discussão do projeto ajudará a filtrar aqueles desnecessários.
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No caso de obras distribuídas - como o PAC - a comunicação ganhará especial realce se estimular a fiscalização pela sociedade civil. Hoje em dia, os sistemas de GPS permitem identificar a localização de cada fotografia.
Com a enorme multiplicidade de grandes, médias e pequenas obras públicas espalhadas por todo o país, convocar a população para fiscalizá-las seria um passo gigantesco em direção à transparência e à cidadania.
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