Por Luciano Martins Costa, no Observatório da Imprensa:
Os jornais de quarta-feira (11/2) trazem alguns exemplos de como o filtro da mídia distorce a realidade a ponto de produzir contextos obscuros e, muitas vezes, contraditórios. A explicação é bastante simples: como o interesse do produto jornalístico não é informar, mas causar determinado estado de espírito, tudo de relevante que acontece é tratado com o mesmo viés, colocado numa forma de um mesmo padrão – mas as peças resultantes não se ajustam, ou, quando se encaixam, formam um desenho que não faz sentido.
Vamos exemplificar com algumas notícias do dia.
Primeiro, o movimento do novo presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), em seu esforço por ganhar relevância no cenário político: ao patrocinar uma votação que obriga o Executivo a honrar as emendas parlamentares, ele coloca o Parlamento em choque com as medidas que o empresariado (e a imprensa) vem defendendo – e com as quais o governo havia concordado; ao excluir o Partido dos Trabalhadores da comissão que deve planejar a reforma partidária-eleitoral, ele tira os governistas de um contexto controverso, porque sabe-se que o Congresso não quer uma reforma para valer.
Assim, o potencial de aumento das despesas públicas provocado pelo favor que o presidente da Câmara faz a seus pares cria argumentos para o Poder Executivo buscar recursos em outra fonte, como, por exemplo, na tributação de grandes fortunas, o que certamente favoreceria a popularidade da presidente da República. Ao mesmo tempo, limpa o terreno para uma reaproximação entre o governo e as lideranças sindicais. Por outro lado, sem cargos na comissão da reforma política, o PT assume o papel em que historicamente fica mais à vontade: o de oposição crítica.
Sabe-se que o deputado Cunha é basicamente um negociador, e que seus movimentos iniciais são parte da estratégia para estabelecer um patamar de poder a partir do qual poderá comandar aquela parcela do Congresso que os jornalistas chamam de “baixo clero” – que sobrevive politicamente à base de verbas obtidas com emendas ao orçamento.
O que não se sabe, mas pode-se conjecturar, é se o novo presidente da Câmara alimenta ambições maiores e que talvez esteja de olho na proposta de impeachment da presidente da República, que vem sendo estimulada pela imprensa.
Desculpas ignoradas
Outra notícia relacionada ao embate entre o Legislativo e o Palácio do Planalto dá conta de que o presidente da Câmara pretende convocar todos os ministros para darem explicações sobre seus planos de governo. O potencial de conflitos nesses encontros – que podem se transformar em interrogatórios constrangedores – colocaria em risco a aliança governista, e é preciso lembrar que a caneta dos cargos e verbas fica com o Executivo, o que poderia produzir um tiro pela culatra.
Além disso, mas sem esgotar a lista dos temas controversos trazidos à agenda pública pela imprensa, convém observar que o escândalo da Petrobras ficou subitamente ausente das manchetes. A decisão do Supremo Tribunal Federal, de arquivar o inquérito contra políticos paulistas do Partido Democratas e do PSDB no caso dos trens metropolitanos, ganha destaque e alimenta suposições de que a Justiça oferece tratamentos desiguais conforme a origem do delito.
Por mais que acredite no que lê, o cidadão pode achar suspeita a diferença entre os dois casos de corrupção. Num deles, o noticiário aponta diretamente para o núcleo político do governo federal e criminaliza a Petrobras; no outro, a imprensa criminaliza empresas supostamente corruptoras, inocenta o Metrô e a Companhia de Trens Metropolitanos e reduz tudo a um caso de cartel, fazendo de conta que o esquema funcionou por vinte anos sem a participação de políticos.
O processo iniciado com a Operação Lava Jato vai demorar muito tempo, e não há como manter o assunto nas manchetes diariamente, a não ser como exercício de campanha, com a administração seletiva de vazamentos do inquérito. Assim, a imprensa aproveita qualquer citação para requentar o assunto, criando um clima de apocalipse em relação à Petrobras.
Os jornalistas sabem que o processo ainda tem muito terreno pela frente, e quando estiver no fim, ainda será preciso determinar as responsabilidades de quem irá prover recursos para atender aos pedidos de indenização e compensações financeiras que vierem a ser atendidos pela Justiça.
A mídia tradicional ignora o histórico da corrupção e trata de amplificar qualquer suspeita sobre personagens ligados de alguma forma ao governo. O caso do geólogo Guilherme Estrella, ex-diretor de Exploração da estatal, é exemplar: a acusação que lhe foi feita pelo Jornal Nacional, da TV Globo, ganhou destaque imediato; o desmentido e o pedido de desculpas da emissora (ver aqui) foram praticamente ignorados pela mídia.
É assim que funciona.
Vamos exemplificar com algumas notícias do dia.
Primeiro, o movimento do novo presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), em seu esforço por ganhar relevância no cenário político: ao patrocinar uma votação que obriga o Executivo a honrar as emendas parlamentares, ele coloca o Parlamento em choque com as medidas que o empresariado (e a imprensa) vem defendendo – e com as quais o governo havia concordado; ao excluir o Partido dos Trabalhadores da comissão que deve planejar a reforma partidária-eleitoral, ele tira os governistas de um contexto controverso, porque sabe-se que o Congresso não quer uma reforma para valer.
Assim, o potencial de aumento das despesas públicas provocado pelo favor que o presidente da Câmara faz a seus pares cria argumentos para o Poder Executivo buscar recursos em outra fonte, como, por exemplo, na tributação de grandes fortunas, o que certamente favoreceria a popularidade da presidente da República. Ao mesmo tempo, limpa o terreno para uma reaproximação entre o governo e as lideranças sindicais. Por outro lado, sem cargos na comissão da reforma política, o PT assume o papel em que historicamente fica mais à vontade: o de oposição crítica.
Sabe-se que o deputado Cunha é basicamente um negociador, e que seus movimentos iniciais são parte da estratégia para estabelecer um patamar de poder a partir do qual poderá comandar aquela parcela do Congresso que os jornalistas chamam de “baixo clero” – que sobrevive politicamente à base de verbas obtidas com emendas ao orçamento.
O que não se sabe, mas pode-se conjecturar, é se o novo presidente da Câmara alimenta ambições maiores e que talvez esteja de olho na proposta de impeachment da presidente da República, que vem sendo estimulada pela imprensa.
Desculpas ignoradas
Outra notícia relacionada ao embate entre o Legislativo e o Palácio do Planalto dá conta de que o presidente da Câmara pretende convocar todos os ministros para darem explicações sobre seus planos de governo. O potencial de conflitos nesses encontros – que podem se transformar em interrogatórios constrangedores – colocaria em risco a aliança governista, e é preciso lembrar que a caneta dos cargos e verbas fica com o Executivo, o que poderia produzir um tiro pela culatra.
Além disso, mas sem esgotar a lista dos temas controversos trazidos à agenda pública pela imprensa, convém observar que o escândalo da Petrobras ficou subitamente ausente das manchetes. A decisão do Supremo Tribunal Federal, de arquivar o inquérito contra políticos paulistas do Partido Democratas e do PSDB no caso dos trens metropolitanos, ganha destaque e alimenta suposições de que a Justiça oferece tratamentos desiguais conforme a origem do delito.
Por mais que acredite no que lê, o cidadão pode achar suspeita a diferença entre os dois casos de corrupção. Num deles, o noticiário aponta diretamente para o núcleo político do governo federal e criminaliza a Petrobras; no outro, a imprensa criminaliza empresas supostamente corruptoras, inocenta o Metrô e a Companhia de Trens Metropolitanos e reduz tudo a um caso de cartel, fazendo de conta que o esquema funcionou por vinte anos sem a participação de políticos.
O processo iniciado com a Operação Lava Jato vai demorar muito tempo, e não há como manter o assunto nas manchetes diariamente, a não ser como exercício de campanha, com a administração seletiva de vazamentos do inquérito. Assim, a imprensa aproveita qualquer citação para requentar o assunto, criando um clima de apocalipse em relação à Petrobras.
Os jornalistas sabem que o processo ainda tem muito terreno pela frente, e quando estiver no fim, ainda será preciso determinar as responsabilidades de quem irá prover recursos para atender aos pedidos de indenização e compensações financeiras que vierem a ser atendidos pela Justiça.
A mídia tradicional ignora o histórico da corrupção e trata de amplificar qualquer suspeita sobre personagens ligados de alguma forma ao governo. O caso do geólogo Guilherme Estrella, ex-diretor de Exploração da estatal, é exemplar: a acusação que lhe foi feita pelo Jornal Nacional, da TV Globo, ganhou destaque imediato; o desmentido e o pedido de desculpas da emissora (ver aqui) foram praticamente ignorados pela mídia.
É assim que funciona.
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