Por Luciano Martins Costa, no Observatório da Imprensa:
A imprensa brasileira retoma na sexta-feira (20/2) seus temas prediletos, na prática consagrada de atuar como força política acima dos partidos e das instituições. Mas não pode abandonar completamente a agenda da folia, porque o carnaval só acaba na madrugada de domingo, após o desfile das campeãs. Paralelamente, em algumas cidades os foliões empurraram o calendário católico e invadiram parte da Quaresma com seus blocos anárquicos.
Essa mistura de pautas, na qual os jornais balançam entre um cauteloso apoio ao ministro da Fazenda e a condenação explícita da presidente da República, e ao mesmo tempo precisam dar um ar de seriedade ao que é pura folia, traz à tona uma característica pouco observada do ambiente midiatizado: o triunfo da banalidade.
O peso igualitário entre os temas que fazem o material cotidiano da mídia é definido, na televisão e no rádio, pelo tom de voz e pelas expressões dos apresentadores, não pelo conteúdo.
Se tudo que merece a cobertura da imprensa é relevante, nada é essencial e tudo é banalidade. Por exemplo, a questão, levantada na quarta-feira de cinzas, sobre se as mulheres que desfilam como destaques nas escolas de samba usam artifícios para esconder o que se considera imperfeições em suas medidas corporais, não pode ser considerada banal, se os jornais investem nesse assunto o tempo de seus repórteres e o suporte de papel ou bytes necessário para torná-lo público. Por outro lado, o noticiário considerado sério, como a crônica da política e as informações sobre economia e negócios, é contaminado por uma metalinguagem que esconde a intencionalidade das edições.
Existe sempre um pressuposto que define a priori os protagonistas de cada notícia, e que funciona como uma tela de fundo para tudo que sai na imprensa. Mas há momentos em que o discurso hegemônico da mídia precisa sondar determinados atores antes de fixar em sua testa a etiqueta: adversário ou aliado. É o caso, por exemplo, do novo presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que num dia aparece como condutor de um processo de resgate da autonomia do Legislativo, e no dia seguinte é apresentado como líder de uma corrente fundamentalista da bancada religiosa, empenhado em fazer retroagir a agenda dos direitos humanos.
A “agenda positiva”
Já a presidente da República, identificada como inimiga a ser eliminada do campo político, pode-se dizer que chegou a gozar de algum beneplácito da imprensa, no começo de seu primeiro mandato, quando promoveu o que os jornalistas chamaram de “faxina moral”, por conta das denúncias de corrupção que atingiram alguns de seus ministros e auxiliares. Mas, no presente momento, os jornais tratam de vincular sua figura ao escândalo que atinge a Petrobras, embora seu nome não tenha aparecido, até aqui, nas notas que vazam das investigações.
De vez em quando, um ou outro jornal coloca suas lentes em iniciativas do Palácio do Planalto e considera que tal ou qual medida tem o objetivo de criar uma “agenda positiva” que se contraponha à enxurrada de notícias deletérias que sitia a presidente da República. O mais recente desses episódios foi o programa que pretende reduzir a burocracia para as pequenas empresas, e que será oficialmente lançado na semana que vem.
O projeto foi coordenado pelo ministro Guilherme Afif Domingos, que nem de longe representa o núcleo ideológico da aliança que apoia a presidente, e que, colocado à frente da Secretaria da Micro e Pequena Empresa, faz uma ponte entre o governo e o ambiente de negócios.
Ao carimbar a iniciativa como “uma ação de marketing”, a imprensa procura desqualificar o programa, ainda antes que seus detalhes sejam anunciados. Assim, o que pode ser um conjunto de medidas há muito reivindicado pelos empreendedores, acaba na vala comum da politicagem, porque o editor assim o deseja.
Avessa a aparições na mídia, a presidente da República paga o preço por falar ou por calar. Se cala, é porque seu governo não tem transparência. Se fala, é porque precisa criar uma “agenda positiva” para se contrapor ao escândalo da Petrobras e aos indicadores que revelam dificuldades nas contas públicas.
A exposição constante ao noticiário pode induzir o leitor crítico a concluir que nada disso é importante e que a banalidade, afinal, triunfou.
Essa mistura de pautas, na qual os jornais balançam entre um cauteloso apoio ao ministro da Fazenda e a condenação explícita da presidente da República, e ao mesmo tempo precisam dar um ar de seriedade ao que é pura folia, traz à tona uma característica pouco observada do ambiente midiatizado: o triunfo da banalidade.
O peso igualitário entre os temas que fazem o material cotidiano da mídia é definido, na televisão e no rádio, pelo tom de voz e pelas expressões dos apresentadores, não pelo conteúdo.
Se tudo que merece a cobertura da imprensa é relevante, nada é essencial e tudo é banalidade. Por exemplo, a questão, levantada na quarta-feira de cinzas, sobre se as mulheres que desfilam como destaques nas escolas de samba usam artifícios para esconder o que se considera imperfeições em suas medidas corporais, não pode ser considerada banal, se os jornais investem nesse assunto o tempo de seus repórteres e o suporte de papel ou bytes necessário para torná-lo público. Por outro lado, o noticiário considerado sério, como a crônica da política e as informações sobre economia e negócios, é contaminado por uma metalinguagem que esconde a intencionalidade das edições.
Existe sempre um pressuposto que define a priori os protagonistas de cada notícia, e que funciona como uma tela de fundo para tudo que sai na imprensa. Mas há momentos em que o discurso hegemônico da mídia precisa sondar determinados atores antes de fixar em sua testa a etiqueta: adversário ou aliado. É o caso, por exemplo, do novo presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que num dia aparece como condutor de um processo de resgate da autonomia do Legislativo, e no dia seguinte é apresentado como líder de uma corrente fundamentalista da bancada religiosa, empenhado em fazer retroagir a agenda dos direitos humanos.
A “agenda positiva”
Já a presidente da República, identificada como inimiga a ser eliminada do campo político, pode-se dizer que chegou a gozar de algum beneplácito da imprensa, no começo de seu primeiro mandato, quando promoveu o que os jornalistas chamaram de “faxina moral”, por conta das denúncias de corrupção que atingiram alguns de seus ministros e auxiliares. Mas, no presente momento, os jornais tratam de vincular sua figura ao escândalo que atinge a Petrobras, embora seu nome não tenha aparecido, até aqui, nas notas que vazam das investigações.
De vez em quando, um ou outro jornal coloca suas lentes em iniciativas do Palácio do Planalto e considera que tal ou qual medida tem o objetivo de criar uma “agenda positiva” que se contraponha à enxurrada de notícias deletérias que sitia a presidente da República. O mais recente desses episódios foi o programa que pretende reduzir a burocracia para as pequenas empresas, e que será oficialmente lançado na semana que vem.
O projeto foi coordenado pelo ministro Guilherme Afif Domingos, que nem de longe representa o núcleo ideológico da aliança que apoia a presidente, e que, colocado à frente da Secretaria da Micro e Pequena Empresa, faz uma ponte entre o governo e o ambiente de negócios.
Ao carimbar a iniciativa como “uma ação de marketing”, a imprensa procura desqualificar o programa, ainda antes que seus detalhes sejam anunciados. Assim, o que pode ser um conjunto de medidas há muito reivindicado pelos empreendedores, acaba na vala comum da politicagem, porque o editor assim o deseja.
Avessa a aparições na mídia, a presidente da República paga o preço por falar ou por calar. Se cala, é porque seu governo não tem transparência. Se fala, é porque precisa criar uma “agenda positiva” para se contrapor ao escândalo da Petrobras e aos indicadores que revelam dificuldades nas contas públicas.
A exposição constante ao noticiário pode induzir o leitor crítico a concluir que nada disso é importante e que a banalidade, afinal, triunfou.
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