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Na boca da presidenta da República ou do ministro da Justiça são até compreensíveis declarações louvando a independência e a autonomia do Judiciário, Ministério Público e da Polícia Federal. É mesmo importante confrontar a situação atual com os tempos do engavetador-geral da República da era tucana. No entanto, quem dera essas instituições levassem ao pé da letra o mantra "doa a quem doer." Boa parte dos procuradores do MP, juízes de todas as instâncias do Judiciário e delegados da PF são mais do que independentes e autônomos em relação ao governo federal. Agem, na realidade, como braços da direita e do antipetismo visceral no aparelho de Estado brasileiro. Por outro lado, estão longe de serem independentes dos interesses políticos, eleitorais e golpistas da oposição, bem como do monopólio midiático.
A Operação Lava Jato é um retrato sem retoques do conluio Judiciário/MP/PF/PIG. Ela afronta a céu aberto premissas do Código de Processo Penal e fundamentos da democracia, mas voa em céu de brigadeiro porque encontra rala resistência da sociedade organizada. E as transgressões ocorrem de forma gradual, mas consistente. Fico imaginando, numa espécie de passo a passo, o teor de conversas informais entre delegados, procuradores e juízes da Lava Jato. As coisas devem funcionar mais ou menos assim :
"Permitiram que fizéssemos corpo mole, mandássemos para os escaninhos judiciários ou arquivássemos os processos envolvendo tucanos, como a privataria, o mensalão,o trensalão, etc. Não é novidade para ninguém que só nos interessamos em indiciar, processar e prender petistas. Missão cumprida, seguimos em frente."
"Deitamos e rolamos na campanha eleitoral. Não poupamos esforços para derrotar a Dilma. Dos vazamentos proibidos por lei para incriminar o PT nos momentos cruciais da campanha ao nosso ativismo nas redes sociais pró-Aécio, fizemos a nossa parte nessa guerra eleitoral. Como pouca gente reclamou, fomos adiante."
"Com o apoio inestimável da mídia amiga, levamos para as manchetes dos jornais como se fossem verdades absolutas depoimentos de criminosos confessos, sem quaisquer provas. Desde de que prejudiquem o PT, é claro. Isso nos motivou ainda mais. Seguiu o jogo."
"Fizemos exatamente como denunciou o ministro Marco Aurélio, do Supremo, invertemos a roda : prendemos primeiro e investigamos depois. Se não topassem a delação premiada, prorrogávamos as prisões provisórias e preventivas. Ah, e não pode ser qualquer delação. Só vale se atingir o PT. A imprensa, os tucanos e os conservadores em geral adoraram. Era hora de acelerar."
"Ainda assim, tornou-se necessário aumentar a pressão. Para isso, tratamos os executivos das empreiteiras como criminosos de alta periculosidade. Simples assim : os que não aceitam a delação premiada enfrentam as piores condições carcerárias. Nem direito a banheiro nas celas eles têm. Quem sabe assim tomam jeito e colaboram.Continuávamos avançando."
"Informações obtidas através da delação premiada são protegidas por sigilo legal. Mas isso não importa. Desde o início da Lava Jato mandamos essa exigência para o espaço. E ninguém protesta. Até o procurador-geral da República se cala. Acertamos em cheio o PT nessa. Viramos essa página."
"Nesse clima de vale tudo, foi fácil levarmos na marra para depor o Vacari, secretário de Finanças do PT. Só os blogueiros sujos reclamaram. Pouca gente percebeu que ele nunca se negara a depor. Foi genial a ideia de pular o muro da casa dele. Ganhamos todos os holofotes dos parceiros da mídia. Está claro : quem manda somos nós. Fé em Deus e pé na tábua."
"O ministro Barbosa nos deu uma mão, em pleno carnaval, no protesto contra o encontro dos advogados das empreiteiras com o ministro da Justiça. No fundo, sabemos que esse tipo de reunião é absolutamente legal e corriqueiro em qualquer governo. Mas não interessa à Lava Jato. Queremos a cabeça do ministro. Ponto final. Não tínhamos tempo a perder. Tocamos em frente."
"Enquanto não pegamos Lula e Dilma, optamos pelo estrangulamento da economia do país. Por isso, estamos propondo que as empreiteiras paguem quase 5 bi de multas e ressarcimentos e sejam proibidas de participar de obras públicas. Com certeza, assim elas quebram, fechando mais de 500 mil postos de trabalho. Com tanto gente sem trabalho, fica mais fácil derrubar a Dilma, não é ? Aliás, as empresas que prestam serviço à Petrobras já estão demitindo a rodo. Até a vitória !"
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