Por Wladimir Pomar, no site Correio da Cidadania:
O ex-presidente FHC continua pontuando, apesar do descalabro em que deixou o Brasil. Como boquirroto, no entanto, em recente artigo ele nos brinda com o programa que as forças conservadoras estão colocando em ação. Segundo ele, é preciso começar mudando a visão de mundo segundo a qual o Ocidente estaria “em declínio” e que, de sua crise, os Brics, o mundo árabe e o ex-terceiro mundo teriam papel de destaque. Por quê? Porque isso não estaria acontecendo.
Para FHC os EUA salvaram seu sistema financeiro, afogaram o mundo em dólares e deram uma “arrancada forte na produção de energia barata”. Ou seja, FHC não entende que a “salvação” do sistema financeiro norte-americano e o afogamento do mundo pelos dólares é justamente o sinal mais evidente do declínio dos EUA. Fazem isso à custa da sua indústria e do trabalho. Mais de 50 milhões de norte-americanos vivendo abaixo da linha da pobreza é um dos sinais mais evidentes da ladeira em que ingressou seu “way of life”. E os problemas ambientais e sociais causados pela exploração do xisto estão rapidamente se transformando de barato em caro.
Estranhamente, FHC nada diz sobre a Europa saindo do declínio, já que lá não há qualquer sinal de fumaça. Ele prefere falar dos árabes “se estraçalhando”, sem lembrar que isso se deve, em grande medida, à interferência estadunidense, que armou os talibãs, Al Qaeda, ISIS e outros grupos que, como Frankenstein, se voltam contra seu criador. Ou diz, com desdém, que a Rússia “passou a ser produtora de matérias-primas”, ignorando os projetos de suas relações com a China e esquecendo que ele próprio, FHC, cumpriu o vergonhoso papel de transformar o Brasil na mesma condição.
De passagem, reconhece que “só a China foi capaz de dar ímpeto à sua economia”. Mas tira como única conclusão desse fato que “as próximas décadas” serão de “coexistência competitiva” entre os EUA e a China. Em virtude disso, partes da Europa se integrarão “ao sistema produtivo norte-americano”, enquanto as “potências emergentes”, como o Brasil, México e África do Sul, terão que buscar “espaços de integração comercial e produtiva para não perderem relevância”.
FHC sabe que o “sistema produtivo norte-americano” é o sistema corporativo de suas transnacionais globalizadas, enquanto o território estadunidense se encontra num perverso processo de desindustrialização. E que as corporações europeias travam uma competição incessante com as norte-americanas e japonesas, enquanto as “potências emergentes” estão justamente articulando-se através dos BRICS e outros acordos para enfrentar a competição destrutiva das corporações globais e não perder relevância. Apesar disso, omite que o Brasil perdeu relevância justamente durante seu governo, por se subordinar à lógica dessas corporações.
Porém, nada disso parece importar. A ótica consiste em fazer com que a politica externa brasileira mude de foco. Abra-se ao “Pacífico”; estreite “relações com os Estados Unidos e a Europa”; faça “múltiplos acordos comerciais”; não tema a “concorrência”; ajude o país a “se preparar para ela”; volte a “assumir seu papel na América Latina”; livre-se do “bolivarianismo prevalecente”; se engaje no “Arco do Pacífico”; se livre do abraço das “irracionalidades argentinas”; dê mais atenção ao “aumento da produtividade, sem redução dos programas sociais”; não restrinja o “aumento da produtividade ao chão das fábricas”; realize um “ousado programa de ampliação e renovação da infraestrutura”; dê “maior atenção à qualificação das pessoas” e “às suas condições de saúde, segurança e transporte”; abaixe “os impostos sem selecionar setores beneficiários”; e abra “mais a economia, sem temer a competição”.
Ou seja, por um lado, FHC sugere que a política externa volte a ser aquela que implantou durante seu período neoliberal, com o agravante de que considera o Pacífico um oceano norte-americano, sequer comentando que o eixo principal de desenvolvimento mundial se deslocou para o sudeste da Ásia, ou o Pacífico oriental. Por outro lado, sugere o contrário do que fez durante seus oito anos de governo. Não esqueçamos que nesse período o “chão das fábricas” foi em grande parte destroçado e desnacionalizado pela ação das corporações estrangeiras, a infraestrutura foi sucateada, o ensino profissional foi quase destruído, a educação e a saúde foram privatizadas e desqualificadas, os impostos continuaram elevados, e a economia foi totalmente aberta para os oligopólios internacionais. Ou seja, se sua política externa é de subordinação aos EUA e Europa, sua política interna será a mesma de quando foi presidente.
Basta ver que, para realizar tal programa, FHC propõe a “redefinição das relações entre o governo e a sociedade, entre o Estado e o mercado”. Como? Despolitizando “as agências reguladoras”, estabilizando “os marcos regulatórios”, revigorando e estimulando “as parcerias público-privadas para investimentos fundamentais”. Ou seja, fazendo “com competência o que o governo petista paralisou” e o governo Dilma “vê-se obrigado a fazer”, mas “atabalhoadamente”, deixando de mobilizar o “setor privado, os investimentos na escala e na velocidade necessárias para o país dar um salto em matéria de infraestrutura e produtividade”.
O problema da infraestrutura e da produtividade consiste em que FHC não tem moral alguma para dar lição a ninguém. Seus governos foram um fracasso total e uma auditoria a respeito poderia levá-lo a ser qualificado como algo mais grave do que “atabalhoado”. Mas FHC, para justificar seus pontos de vista, vê-se constrangido a acusar os governos Lula e Dilma de “anti-privatistas e estatizantes”, algo que não tem comprovação empírica alguma. Pela esquerda, ambos têm sido qualificados como “privatistas” e “pouco estatizantes”, ambos acreditando que a burguesia, mesmo com juros reais de 5% ou mais, seria empreendedora industrial ao invés de jogar nas bolsas.
Certamente, ambos garantiram que as estatais não continuassem sendo privatizadas, o que deixaria o Estado sem qualquer instrumento de orientação econômica, mas o setor privado brasileiro há muito não se desenvolvia tanto como nos últimos 12 anos. A tal ponto que sua ânsia de lucros abusivos o levou a praticar a corrupção numa escala desmesurada, como está sendo demonstrado pela operação Lava-Jato. Portanto, se algo pode ser criticado nos governos Lula e Dilma é que deveriam ter fortalecido a ação controladora do Estado para criar maiores barreiras à corrupção, algo para o qual as agências reguladoras se mostraram incompetentes.
O objetivo de FHC é, porém, mais específico. Quase como advogado das corporações petrolíferas estrangeiras, reclama da definição do modelo de exploração do pré-sal, que garantiu a Petrobras como operadora única e participante acionária de 30% de qualquer consórcio de exploração dos poços da área. Embora o leilão de Libra tenha demonstrado que isso não afugenta os interessados, não reduz o potencial de investimentos em sua exploração, nem diminui os recursos que o Estado poderia obter com o regime de partilha, FHC teima em repetir que o modelo “é ruim para a Petrobras e péssimo para o país”. A Chevron e congêneres certamente agradecem.
A sanha doutoral de FCH não para por aí. Ensina que “tão necessário quanto recuperar o tempo perdido e acertar o passo nas obras de infraestrutura, será desentranhar da máquina pública e, sobretudo, nas empresas estatais”. Segundo ele, “felizmente nem todas cederam à sanha partidária”. Esquece que, em sua época, as estatais, além da privataria que as arrebanhou, não estiveram livres das indicações partidárias do PSDB e confraria.
No mesmo tom professoral, ele conclama o restabelecimento do “sentido de serviço público nas áreas sociais, de Educação, Saúde e reforma agrária, resguardando-as do uso para fins eleitorais, partidários ou corporativos”. Clama pela revalorização da “meritocracia”; pela “obsessão” no “cumprimento de metas” para um “salto na qualidade dos serviços públicos”; pela “cultura de planejamento”; pela “cobrança por desempenho e avaliação de resultados”, sem “marketismo”. É como se dissesse que, em sua experiência de governo, esteve isento do “sistema de cooptação, barganhas generalizadas, corrupção, despreparo administrativo e voluntarismo”. Haja “esquecimento”!
Assim, sem qualquer pudor, FHC quer “redesenhar a rota do país”, com “mudanças no governo”. Haveria “um grito parado no ar, um sentimento difuso, mas que está presente”, cabendo “às oposições expressá-lo e dar-lhe consequências políticas”. Essa “esperança” do ex-presidente parece estar sendo posta em prática pelo PMDB e outros partidos da base “aliada” e da oposição ao governo Dilma. Eles o estão emparedando para cumprir o programa desenhado por FHC. E estão avançando na reforma política de seus sonhos, para evitar que os trabalhadores e o povo tenham voz e participação, e se contentem com o voto como expressão máxima da democracia. Estamos ingressando no rumo do retrocesso.
O ex-presidente FHC continua pontuando, apesar do descalabro em que deixou o Brasil. Como boquirroto, no entanto, em recente artigo ele nos brinda com o programa que as forças conservadoras estão colocando em ação. Segundo ele, é preciso começar mudando a visão de mundo segundo a qual o Ocidente estaria “em declínio” e que, de sua crise, os Brics, o mundo árabe e o ex-terceiro mundo teriam papel de destaque. Por quê? Porque isso não estaria acontecendo.
Para FHC os EUA salvaram seu sistema financeiro, afogaram o mundo em dólares e deram uma “arrancada forte na produção de energia barata”. Ou seja, FHC não entende que a “salvação” do sistema financeiro norte-americano e o afogamento do mundo pelos dólares é justamente o sinal mais evidente do declínio dos EUA. Fazem isso à custa da sua indústria e do trabalho. Mais de 50 milhões de norte-americanos vivendo abaixo da linha da pobreza é um dos sinais mais evidentes da ladeira em que ingressou seu “way of life”. E os problemas ambientais e sociais causados pela exploração do xisto estão rapidamente se transformando de barato em caro.
Estranhamente, FHC nada diz sobre a Europa saindo do declínio, já que lá não há qualquer sinal de fumaça. Ele prefere falar dos árabes “se estraçalhando”, sem lembrar que isso se deve, em grande medida, à interferência estadunidense, que armou os talibãs, Al Qaeda, ISIS e outros grupos que, como Frankenstein, se voltam contra seu criador. Ou diz, com desdém, que a Rússia “passou a ser produtora de matérias-primas”, ignorando os projetos de suas relações com a China e esquecendo que ele próprio, FHC, cumpriu o vergonhoso papel de transformar o Brasil na mesma condição.
De passagem, reconhece que “só a China foi capaz de dar ímpeto à sua economia”. Mas tira como única conclusão desse fato que “as próximas décadas” serão de “coexistência competitiva” entre os EUA e a China. Em virtude disso, partes da Europa se integrarão “ao sistema produtivo norte-americano”, enquanto as “potências emergentes”, como o Brasil, México e África do Sul, terão que buscar “espaços de integração comercial e produtiva para não perderem relevância”.
FHC sabe que o “sistema produtivo norte-americano” é o sistema corporativo de suas transnacionais globalizadas, enquanto o território estadunidense se encontra num perverso processo de desindustrialização. E que as corporações europeias travam uma competição incessante com as norte-americanas e japonesas, enquanto as “potências emergentes” estão justamente articulando-se através dos BRICS e outros acordos para enfrentar a competição destrutiva das corporações globais e não perder relevância. Apesar disso, omite que o Brasil perdeu relevância justamente durante seu governo, por se subordinar à lógica dessas corporações.
Porém, nada disso parece importar. A ótica consiste em fazer com que a politica externa brasileira mude de foco. Abra-se ao “Pacífico”; estreite “relações com os Estados Unidos e a Europa”; faça “múltiplos acordos comerciais”; não tema a “concorrência”; ajude o país a “se preparar para ela”; volte a “assumir seu papel na América Latina”; livre-se do “bolivarianismo prevalecente”; se engaje no “Arco do Pacífico”; se livre do abraço das “irracionalidades argentinas”; dê mais atenção ao “aumento da produtividade, sem redução dos programas sociais”; não restrinja o “aumento da produtividade ao chão das fábricas”; realize um “ousado programa de ampliação e renovação da infraestrutura”; dê “maior atenção à qualificação das pessoas” e “às suas condições de saúde, segurança e transporte”; abaixe “os impostos sem selecionar setores beneficiários”; e abra “mais a economia, sem temer a competição”.
Ou seja, por um lado, FHC sugere que a política externa volte a ser aquela que implantou durante seu período neoliberal, com o agravante de que considera o Pacífico um oceano norte-americano, sequer comentando que o eixo principal de desenvolvimento mundial se deslocou para o sudeste da Ásia, ou o Pacífico oriental. Por outro lado, sugere o contrário do que fez durante seus oito anos de governo. Não esqueçamos que nesse período o “chão das fábricas” foi em grande parte destroçado e desnacionalizado pela ação das corporações estrangeiras, a infraestrutura foi sucateada, o ensino profissional foi quase destruído, a educação e a saúde foram privatizadas e desqualificadas, os impostos continuaram elevados, e a economia foi totalmente aberta para os oligopólios internacionais. Ou seja, se sua política externa é de subordinação aos EUA e Europa, sua política interna será a mesma de quando foi presidente.
Basta ver que, para realizar tal programa, FHC propõe a “redefinição das relações entre o governo e a sociedade, entre o Estado e o mercado”. Como? Despolitizando “as agências reguladoras”, estabilizando “os marcos regulatórios”, revigorando e estimulando “as parcerias público-privadas para investimentos fundamentais”. Ou seja, fazendo “com competência o que o governo petista paralisou” e o governo Dilma “vê-se obrigado a fazer”, mas “atabalhoadamente”, deixando de mobilizar o “setor privado, os investimentos na escala e na velocidade necessárias para o país dar um salto em matéria de infraestrutura e produtividade”.
O problema da infraestrutura e da produtividade consiste em que FHC não tem moral alguma para dar lição a ninguém. Seus governos foram um fracasso total e uma auditoria a respeito poderia levá-lo a ser qualificado como algo mais grave do que “atabalhoado”. Mas FHC, para justificar seus pontos de vista, vê-se constrangido a acusar os governos Lula e Dilma de “anti-privatistas e estatizantes”, algo que não tem comprovação empírica alguma. Pela esquerda, ambos têm sido qualificados como “privatistas” e “pouco estatizantes”, ambos acreditando que a burguesia, mesmo com juros reais de 5% ou mais, seria empreendedora industrial ao invés de jogar nas bolsas.
Certamente, ambos garantiram que as estatais não continuassem sendo privatizadas, o que deixaria o Estado sem qualquer instrumento de orientação econômica, mas o setor privado brasileiro há muito não se desenvolvia tanto como nos últimos 12 anos. A tal ponto que sua ânsia de lucros abusivos o levou a praticar a corrupção numa escala desmesurada, como está sendo demonstrado pela operação Lava-Jato. Portanto, se algo pode ser criticado nos governos Lula e Dilma é que deveriam ter fortalecido a ação controladora do Estado para criar maiores barreiras à corrupção, algo para o qual as agências reguladoras se mostraram incompetentes.
O objetivo de FHC é, porém, mais específico. Quase como advogado das corporações petrolíferas estrangeiras, reclama da definição do modelo de exploração do pré-sal, que garantiu a Petrobras como operadora única e participante acionária de 30% de qualquer consórcio de exploração dos poços da área. Embora o leilão de Libra tenha demonstrado que isso não afugenta os interessados, não reduz o potencial de investimentos em sua exploração, nem diminui os recursos que o Estado poderia obter com o regime de partilha, FHC teima em repetir que o modelo “é ruim para a Petrobras e péssimo para o país”. A Chevron e congêneres certamente agradecem.
A sanha doutoral de FCH não para por aí. Ensina que “tão necessário quanto recuperar o tempo perdido e acertar o passo nas obras de infraestrutura, será desentranhar da máquina pública e, sobretudo, nas empresas estatais”. Segundo ele, “felizmente nem todas cederam à sanha partidária”. Esquece que, em sua época, as estatais, além da privataria que as arrebanhou, não estiveram livres das indicações partidárias do PSDB e confraria.
No mesmo tom professoral, ele conclama o restabelecimento do “sentido de serviço público nas áreas sociais, de Educação, Saúde e reforma agrária, resguardando-as do uso para fins eleitorais, partidários ou corporativos”. Clama pela revalorização da “meritocracia”; pela “obsessão” no “cumprimento de metas” para um “salto na qualidade dos serviços públicos”; pela “cultura de planejamento”; pela “cobrança por desempenho e avaliação de resultados”, sem “marketismo”. É como se dissesse que, em sua experiência de governo, esteve isento do “sistema de cooptação, barganhas generalizadas, corrupção, despreparo administrativo e voluntarismo”. Haja “esquecimento”!
Assim, sem qualquer pudor, FHC quer “redesenhar a rota do país”, com “mudanças no governo”. Haveria “um grito parado no ar, um sentimento difuso, mas que está presente”, cabendo “às oposições expressá-lo e dar-lhe consequências políticas”. Essa “esperança” do ex-presidente parece estar sendo posta em prática pelo PMDB e outros partidos da base “aliada” e da oposição ao governo Dilma. Eles o estão emparedando para cumprir o programa desenhado por FHC. E estão avançando na reforma política de seus sonhos, para evitar que os trabalhadores e o povo tenham voz e participação, e se contentem com o voto como expressão máxima da democracia. Estamos ingressando no rumo do retrocesso.
O mais interessante é que o cínico plagiador FHC não implemenntou nem meio por cento do que ele hoje apregoa. É um doente terminal.
ResponderExcluirCaro Anônimo,
ResponderExcluirDiante de tamanho esquecimento proposital, valeria recomendar a (re)leitura da obra PRIVATARIA TUCANA. Quem sabe ele refrescasse sua cabeça oca, e lembrar-lhe que a História há de enquadrá-lo como o maior entreguista do patrimônio público desde 1500... Nem os reis e principes colonizadores do Brasil ousaram tanto. Sugaram muito,tiveram vida nababesca às custas de nosso ouro, porém, seja feita justiça, alargaram as fronteiras desse gigante adormecido. Tinham visão de futuro, ao contrário desse lesa-pátria.