domingo, 15 de março de 2015

2014, a campanha que não terminou

Por Fernando Brito, no blog Tijolaço:

Quem sou eu para recusar às pessoas o direito de protestar contra governos, logo eu que já protestei contra o do Geisel, o do Figueiredo, o do Sarney e o do FHC?

Muito menos adianta praticar o auto-engano de dizer que são meia dúzia de gatos pingados. Meia dúzia de gatos pingados são os facínoras que aparecem como “organizadores” destes atos, mas não são líderes de coisa alguma, apenas personagens que se prestam para fazer o “agito” .

Estes grupos só brotam como brotam os cogumelos: sobre matéria em decomposição.

Protesto é,de toda forma, normal e compatível com o posicionamento histórico destas camadas, o qual o PT – talvez por sua própria origem pequeno-burguesa – demorou a perceber e pouco percebeu.

O grave é que não é um protesto, não se trata da tensão política normal da democracia, onde as partes – no poder ou fora dele – querem crescer, fortalecer-se e disputar, amanhã, pelo voto, melhores posições ou mesmo o núcleo do poder.

É a continuação da campanha eleitoral de 2014, que a mídia e as forças políticas derrotadas não deixaram se acabar.

Ela continuou, nas redes, na mídia e no discurso dos candidatos derrotados. E ainda mais no “separatismo” paulista que, como é natural, se repete nos setores mais aquinhoados pelo país afora e que portam aquela mesma ideologia da “locomotiva que puxa vagões pesados”.

Lotados de pobres, naturalmente.

Mas “terminou” do lado do governo, que emudeceu, recolheu-se e passou a cuidar da política como se ela fosse simples fruto de “medidas administrativas”.

E, quando foi á TV, foi com um tom de “desculpas”, incabível, em lugar de afirmativo.

E chegamos com isso ao paradoxo das milhares de pessoas que foram às ruas sexta e hoje.

Os contra o Governo, que aparentemente apoiam sua política e os a favor do Governo que repelem muitas de suas decisões.

Os vitoriosos das eleições parecem que se envergonham da vitória e os derrotados proclamam a “maioria da minoria”.

Em condições normais, a força da legitimidade que a eleição confere seria o suficiente para implantar ajustes, mesmo algo amargos.

Mas não vivemos uma situação de normalidade no Brasil, onde o debate político está interditado pela ideia simplória de que a imoralidade política nasceu agora e se restringe ao governo e pelo catastrofismo que é empurrado sobre todos, faz tempo.

O Governo Dilma – e não de agora, já antes, com Lula – abriu mão do debate e do enfrentamento no campo das ideias, confiando na afluência econômica que transformava todos em classe média.

Um parte dela, talvez, esteja na rua, hoje.

Resta saber se receberá mais atenção do governo do que a que esteve na sexta-feira, debaixo do temporal pluvial e midiático, sem arredar pé.

O Governo precisa mais de política, comunicação e causas claras do que de ajuste fiscal.

Se não, vai estar fazendo apenas um “vale” para o arrocho que virá depois.

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