quarta-feira, 18 de março de 2015

Não há concessões na disputa ideológica

Por Dandara Lima, no site da UJS:

Não consigo entender o espanto dos companheiros de esquerda com o poder de fogo da Rede Globo nesse 15 de março.

A emissora em breve completará 50 anos. São 50 anos a serviço do imperialismo e da opressão às minorias. E não conseguiu seu lugar como a principal emissora do país sendo ingênua.

Aos poucos a Globo vem se apropriando, muito de leve, das nossas pautas de luta nos seus produtos. Relacionamentos LGBTTs vem ganhando espaço não porque seus executivos e produtores são progressistas, mas porque não dá mais para ignorar esse grupo. Colocar três personagens femininos fortes como protagonistas, entre eles uma mulher negra, na nova novela das 9 também.

A Globo reservou o domingo para exaltar a marcha conservadora, frisando que era um ato de “família”, ato de fundamentalistas contra a “ditadura gayzista”, a favor da redução da maioridade penal, de intervenção militar, contra programas sociais, e até mesmo contra a lei de feminicídio. A emissora não enfrentou a família tradicional brasileira nessa segunda-feira, ela defendeu seus interesses de mercado, já que vem perdendo audiência.

A emissora surgiu quando a Ditadura Militar completava um ano e serviu como um forte aparato ideológico daquele regime, após a redemocratização continuou a serviço da elite dominante.

Fazemos o possível e o impossível para desconstruir o discurso golpista da linha editorial dessa emissora, fazemos campanha e disputamos espaço nas redes para no mesmo dia aplaudi-la?

E isso se estende para outros veículos do PIG (Partido da Imprensa Golpista). Não podemos partir para o enfrentamento quando o PIG nos desagrada e bater palmas quando fazem algo que aprovamos.

Assumir a bandeira da Democratização da Mídia é se posicionar em uma guerra ideológica e, além disso, se posicionar do lado desfalcado da trincheira.

Somos o lado desfalcado da trincheira porque a população ainda enxerga o PIG como defensor da liberdade de expressão, e nós como censores quando tentamos dialogar sobre Democratização da Mídia (diálogo sem apoio do governo federal é bom frisar).

Confiamos demais no contraponto que podemos fazer na internet, e esquecemos que esse contraponto não atinge todo o país. O ideal seria uma TV estatal forte, tanto em informação quanto em entretenimento.

É muito conveniente o principal produto da Rede Globo, a novela das 9, trazer parcialmente algumas pautas progressistas no atual momento do país. E de acordo com a própria emissora, essa novela foi especialmente preparada para coincidir com o seu cinquentenário. E na sua estreia ela mostrou que consegue mobilizar os dois lados.

Outros veículos do PIG também conseguem essa mobilização. Jornais como Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo possuem colunistas progressistas para poderem vender a imagem de plurais. E por falar neles, Folha, Estado e O Globo amanheceram nesse dia 16, segunda-feira, comparando a manifestação do dia 15 com as Diretas Já. Inclusive a Globonews, durante sua cobertura ao vivo, teve a capacidade de questionar o número de manifestantes nas Diretas e afirmar que o dia 15 foi maior.

As capas desses jornais nessa segunda-feira eram assustadoramente semelhantes às de 64. Nós perdemos a disputa ideológica em 1964, perdemos (e feio) em 2013, e não podemos perder em 2015.

A campanha do ódio que estamos enfrentando foi cuidadosamente preparada por esses veículos, e não podemos, nem por um segundo, nos esquecer disso.

Representatividade importa, e muito! No entanto, como minoria, não vou aceitar ver as minhas bandeiras de luta sendo usadas por essa emissora golpista.

3 comentários:

  1. O ódio não nos pertence, colocaram em pauta para mobilizar maiorias. com sangue nos olhos, à lutar por privilégios de minorias. liberdade de Imprensa virou ferramenta partidária.

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  2. Pessoal, tem negro na foto. Porém esta foto é de Bauru (SP), não é Salvador. Tentem achar uma foto de Salvador, mas uma que não tenha negros.

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  3. Obrigado pela sugestão. A foto foi trocada.
    abraços

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