segunda-feira, 16 de março de 2015

O tom golpista da marcha na Paulista

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Da Rede Brasil Atual:

O ódio ao Partido dos Trabalhadores e o apoio a um improvável impeachment da presidenta Dilma Rousseff, que nem mesmo os partidos políticos apoiam, e a indignação com a corrupção deram o tom das manifestações conservadoras na Avenida Paulista neste domingo (15). “O que vimos nas ruas brasileiras hoje foi um desfile de raivosos analfabetos políticos desde uma mulher pregando feminicídio, a faixas com suásticas, cartazes pedindo o fim de Paulo Freire (!!!!!) até atentado a bomba no diretório do PT, em Jundiaí”, escreveu a blogueira Maria Frô.

Ao fim da tarde, por volta de 18h, um grupo “linchou” e queimou, em meio a muitos xingamentos, um balão com imagem da presidenta Dilma na frente do prédio da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Um dos quatro caminhões que ocuparam a avenida e que tinha faixas em defesa da intervenção militar foi hostilizado por um grupo de manifestantes, que dizia não ser a favor do golpe.

Segundo o DataFolha, cerca de 210 mil pessoas reuniram-se na tarde deste domingo para protestar contra o governo e contra a corrupção. As camisas amarelas dominaram o cenário e ouviam-se gritos generalizados das frases “Fora Dilma” e “Fora PT”. Muitas das camisas amarelas eram da Seleção Brasileira, que trazia o emblema da CBF.

Vendedores ambulantes ofereciam aos manifestantes faixas de cabeça com estampa em defesa do impeachment. Em vários momentos, a multidão era tomada por histeria coletiva: “Fora PT”, “Prende essa corja”, afirmavam em coro. Vendedores também ofereciam cervejas de marcas importadas e cachorro quente a R$ 7. A Fiesp, que diz não apoiar o impeachment, criou um estande na frente da sua sede, com infraestrutura para os jornalistas que cobriam o evento.

O líder do movimento Revoltados On Line, Marcello Reis, afirmou que falou com Washington, que o orientou a pedir uma auditoria nas eleições de 2014 para presidente. “O grupo de Washington disse que houve fraude nessa eleição”, disse. Mais tarde, Reis voltou a atacar o partido e a presidenta Dilma: “Tenho nojo do PT, quando vejo a Dilma, tenho vontade de vomitar, tenho ódio quando vejo que roubaram nosso dinheiro; impeachment já”.

Os manifestantes cantaram o hino nacional, rezaram o Pai Nosso e também disseram em coro que “aqui não é lugar da Unasul” – referência à União das Nações Sul-Americanas, que neste sábado (14) pediu que os EUA anulem sanções à Venezuela. A reportagem da RBA contou pelo menos 56 execuções do hino nacional, nos quatro carros de som que inflavam a manifestação.

Enquanto as pessoas se aglomeravam na Paulista, caminhoneiros, que pararam as vias da Marginal Tietê, em São Paulo, perto do meio dia, chegavam à Paulista com ameaças: “Se não mudar, nós vamos parar o Brasil”, diziam.

Entre mais momentos de histeria e buzinaços, os manifestantes ironizavam também as ciclovias da Paulista, que são vermelhas não por preferência política do prefeito Fernando Haddad, mas por conta de padrão internacional para essas vias.

Perto do caminhão do Movimento Brasil Livre, a reportagem da RBA ouviu um manifestante dizer que o “Lula é dono da Friboi”. Muitas pessoas repetiam que é preciso “tirar o comunismo do país”. O excesso de pessoas na Paulista fez com que o sinal de internet ficasse difícil para a comunicação pelos smartphones dos manifestantes, o que de pronto também virou discurso contra o PT: “Mandaram cortar a internet, esse é um exemplo de que o PT dá golpe”, disse um dos participantes. Mais propenso à violência, um manifestante disse: “Se chegar alguém aqui de vermelho, vamos arrebentar de pancada”. Muitas vezes eram repetidas frases de que as eleições foram fraudadas. A repetição de frases foi uma constante durante a concentração.

Em meio à multidão, o bancário Saulo Santos disse à reportagem da RBA que “tem que acabar com o voto de cabresto no país”. Ele considera que as eleições não foram realizadas com espírito democrático. Ele disse também que apoia a reforma política, mas não soube especificar como ela deva ocorrer. “Precisa tirar a presidenta porque o PT é uma doença”, afirmou o bancário. Ele também disse que acha um absurdo o custo da máquina pública no Brasil.

Já o microempresário Otávio José Cardoso acredita que o impeachment é o melhor remédio para o país atualmente. “Dilma só não está sendo investigada (pela Operação Lava Jato) porque foi protegida; gente menos citada na operação está sendo investigada”, disse, destacando que também apoia a reforma política. Mas no caso da reforma, Cardoso explica que “o judiciário precisa ser mais eficiente”, repercutindo uma ideia que tem acompanhado a direita nos últimos tempos, que é a judicialização da política. Ele também compartilha com os outros manifestantes a ideia de que “estamos caminhando para uma ditadura comunista”.

A motorista de ônibus escolar Rosemari Horta defende a saída do PT do poder de “qualquer jeito”. Mas ao mesmo tempo ela destaca que não apoia “golpes”. Ele continua ao dizer que “o PT é o maior problema do país hoje”. Ela também explica à reportagem da RBA o que entende por reforma política, ideia que a princípio ela apoia: “A melhor reforma é trocar os políticos por pessoas mais honestas”.

O jovem de 18 anos Ariel K. (ele não quis informar o nome completo à reportagem) também bradava a favor do impeachment da presidenta Dilma. Ele disse que Dilma é culpada pela corrupção em qualquer hipótese, sabendo ou não do que acontecia na Petrobras. “Ela deve ser culpada por ter agido ou ser omissa”, disse, para em seguida repetir, como outros manifestantes, que é preciso acabar com o PT. “Tem que conscientizar o povo para votar melhor e ter alternância no poder”, defendeu. Ele disse que nas eleições do ano passado votou no Aécio, Serra e Alckmin, respectivamente para a Presidência, Senado e governador. Mas ele também disse que no estado de São Paulo não é necessária a alternância de poder, porque nesse caso não há cargo ocupado pelo Partido dos Trabalhadores.

A empresária do setor de transportes Miriam Jaqueline de Marco disse que veio de Rondônia apenas para participar do movimento. “Nós transportadores estamos falidos, a carga de impostos é muito alta, tem gente devolvendo caminhão por causa de dívida”, afirmou. “O impeachment é a única saída porque a Dilma não ganhou a eleição, houve fraude”, afirmou.

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