segunda-feira, 13 de abril de 2015

Do ato político na Veja ao ato na Globo

Por Anderson Bahia, no site da UJS:

Na véspera do segundo turno, em 2014, a bandeira da UJS foi exibida no Jornal Nacional em longa matéria sobre o ato que realizamos em frente a Editora Abril, responsável pela Veja. No dia 26 desse mês, nos somaremos a várias organizações para pautar a Globo. Por que isso?

A decisão por ambas iniciativas está longe de representar um atentado à liberdade de imprensa. Ao contrário. A ausência de regulamentação dos dispositivos constitucionais que abordam a comunicação deixa a mídia privada à vontade para descumpri-la e até construir até golpes políticos no Brasil.

Há três dias da eleição, a Veja lançou capa com uma acusação mentirosa contra Dilma e Lula. Amplificada por outros veículos, o objetivo seria reverter o resultado eleitoral em favor de Aécio. Tal qual a Globo fizera com Collor na disputa com Lula, em 1989. Como sabemos, o projeto naugragou.

O fracasso da investida conservadora ano passado se deve a alguns fatores superados, sobretudo, nos últimos 10 anos. Um dos principais é queda vertiginosa da audiência da mídia tradicional, a partir do advento e massificação das novas tecnologias. Outro fator é a infinidade de conteúdos e opiniões diversas na internet, em detrimento do pensamento único pregado pela mídia privada. E além disso, a perda de credibilidade desses veículos a partir das denúncias de manipulações, mentiras e distorções que cresceram a medida que eles priorizaram fazer oposição desenfreada aos governos Dilma e Lula, secundarizando o jornalismo.

O protesto da UJS na Veja foi a materialização desse último aspecto no contexto da eleição. Ecoou as milhares de vozes que já não dizem “amém” para os panfletos semanais da direita e nem para seus aliados da radiodifusão. Foi uma das respostas necessárias diante do recrudescimento da narrativa golpista da mídia, que teve um giro naquela ocasião e com mais uma derrota eleitoral não mais arrefeceu.

Outras iniciativas relevantes ocorreram entre aqueles três dias. A primeira e mais forte partiu da própria candidata Dilma, que utilizou seu programa de TV para fazer um duro pronunciamento contra o golpismo do semanário. Ao longo de todo sábado, a hastag #GolpeNoJN subiu aos trending topic´s mundial no Twitter denunciando a matéria que viria no telejornal da Globo, na tentativa de ser a pancada fatal contra a reeleição da presidenta. Fora a série de postagens dos blogueiros progressistas mais acessados do país fazendo a mesma coisa.

Apesar da iminência do golpe e de todas essas movimentações necessárias, houve quem questionou o ato. Demos margem para vitimizar a mídia e isso ser utilizado para aumentar a antipatia contra Dilma e por a eleição a perder, disseram alguns. Há que tenha feito uma avaliação de que o brasileiro não está acostumado a atitudes “radicais” e por isso hostilizaria o ato e a própria presidenta. Refutamos o suposto radicalismo porque utilizamos apenas tinta e papel no protesto. E mais ainda a versão que de certa forma nega o histórico de luta do povo brasileiro. A Cabanagem, a campanha da Legalidade, a resistência à Ditadura Militar, a campanha pelas Direitas, as mobilizações contra o neoliberalismo e até a greve recente no Paraná estão aí para provar a disposição do brasileiro em lutar contra o arbítrio.

Mas passada a eleição, o acirramento político só aumentou. Assim como também a inclinação golpista dos meios de comunicação tradicionais. A Globo volta a ter protagonismo e lidera a busca pela desestabilização da presidenta. Para piorar, a composição mais conservadora do Congresso Nacional em 50 anos mostra a que veio e impõe sua pauta ao país. Passaram a admissibilidade da redução da maioridade penal na CCJ da Câmara dos Deputados e nessa semana aprovaram, na mesma Casa, o PL 4330 que expande a terceirização no mercado de trabalho.

A continuidade desse cenário empurra a “perplexidade imobilista” para bem longe. Dezenas de organizações do movimento social já convocaram para o dia 26, em São Paulo, uma manifestação pacífica e descontraída na passagem dos 50 anos da TV Globo. Partimos do entendimento de que a grande mídia não elabora a agenda política do país, mas a legitima ou a deslegitima ao bel-prazer do seu reacionarismo.

Mesmo com os flagrantes crimes cometidos diariamente pelos operadores de concessões públicas de rádio e TV, a pauta a ser levada para as ruas não pede a cassação de suas outorgas. Iremos repetir a denúncia da vocação golpista da Globo, cujo fortalecimento se dá por investimentos da Ditadura Militar, e destacar a importância de democratizar os meios de comunicação no Brasil.

Diante da necessidade de colocar povo na rua pautando os avanços, esse ato unifica diversos setores da sociedade e tende a ser uma bela saída na defesa da democracia.

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