Por Dario Pignotti, de Buenos Aires, no site Carta Maior:
Seguindo a receita aplicada para sabotar a reeleição de Dilma Rousseff em 2014, quando publicou uma notícia falsa três dias antes do segundo turno, o noticiário semanal da Editora Abril escreveu uma série de acusações rocambolescas contra a família da presidenta Cristina Kirchner.
"Veja" contou com a cumplicidade do grupo empresarial jornalístico Clarín, que encabeça o plano desestabilizador contra o governo portenho.
A campanha de difamação se agravou durante o verão passado, após a confusa morte do promotor Carlos Nisman (a Justiça ainda não determinou se foi assassinato ou suicídio), um homem vinculado ao poder sionista, e que recebia instruções da embaixada norte-americana, tal como foi demonstrado em documentos revelado por Wikileaks.
Em meados de um março asfixiante para os portenhos (foram registradas as temperaturas mais altas das últimas décadas), os ouvintes da popular Rádio Mitre, do Grupo Clarín, começaram a ser bombardeados com notícias procedentes da “prestigiosa revista brasileira Veja”, segundo comentou o jornalista Marcelo Bonelli.
O famoso Bonelli (espécie de Carlos Alberto Sardenberg argentino) dedicou uma ampla cobertura radiofônica à edição online de Veja, na que foram envolvidos Máximo Kirchner, filho de Cristina, a embaixadora argentina na OEA, Nilda Garré, e um pacto imaginário formado também por Irã e Venezuela.
Com essa notícia, Veja e Clarín começaram seus movimentos, evidentemente coordenados, para intoxicar a agenda política argentina, e em consequência a agenda internacional.
No dia seguinte ao da repercussão das matérias da Veja na Rádio Mitre, as bancas da elegante Calle Florida, principal boulevard de Buenos Aires, exibiam as edições impressas do jornal El Clarín, com várias matérias onde eram citadas as mentiras que chegavam do Brasil.
A manobra contou também com a ajuda de parlamentares da direita argentina, cujas declarações contribuíam para que a história sobre Máximo Kirchner fosse disseminada em outros meios.
Todos os elementos citados nos levam a considerar que não existe ingenuidade neste caso. Não se trata de uma informação gerada por Veja que o Clarín difundiu inocentemente, e sim de uma estratégia conjunta, de longo prazo e objetivos políticos com projeção internacional.
Foi surpreendente a eficácia da coordenação demonstrada pelos grupos jornalísticos sul-americanos, o da família Civita no Brasil e o de seus sócios da dinastia Noble (a família que controla o Clarín).
Durante o mês de março, diversos artigos da Veja eram publicados e repercutidos automaticamente em Buenos Aires. Ao mesmo tempo, matérias do Clarín eram citadas em São Paulo.
Dessa forma, foi-se alimentando uma atmosfera de notícias prejudiciais à administração Kirchner, faltando apenas seis meses para as eleições e oito para que o novo presidente assuma o país.
O caso demonstra a forma de atuar dos meios hegemônicos de São Paulo e Buenos Aires, para debilitar os governos que, como o argentino, questionaram seus interesses e privilégios através de uma lei contra os monopólios de comunicação.
Se observa claramente aqui como as empresas de notícias e entretenimento formam uma aliança firme na defesa de seu status quo comunicacional, desqualificando qualquer governante que ouse revisar essa situação.
A particularidade, neste caso, está no fato de que as histórias publicadas por Veja nos últimos meses (desde janeiro, quando a revista publica publicou grandes reportagens sobre o suicídio do promotor Nisman) parecem ter como o alvo o público argentino, mais até que o brasileiro.
Como fabricar desinformação
No Brasil, Veja divulga notícias falsas, ou carentes de um respaldo informativo consistente, que o Clarín traz para a Argentina, apresentando-as como grandes verdades vindas do exterior. A estratégia parece ser a de criar uma gigantesca nuvem de desinformação, de impacto nacional e internacional.
Em seguida, esse redemoinho de discursos contaminados repercute em tempo real nas agências internacionais de notícias e em cadeias globais de televisão, como CNN, que atuam como base de propaganda de vários grupos golpistas latino-americanos (especialmente os da Venezuela).
Finalmente, o relato do processo de desinformação, iniciado pela aliança Veja-Clarín e amplificado pela CNN e quejandos, se traduz em novos artigos dos grandes diários ocidentais, em particular aqueles que discursam em favor dos grandes interesses financeiros, como o Wall Street Journal, The Economist ou Financial Times.
Portanto: estamos diante de um mecanismo de desinformação de grau superior, que trabalha em tempo real nas agendas nacional e internacional.
Se trata, ao mesmo tempo, de uma complexa engrenagem de desestabilização política, também de grau superior, pois temos aqui um meio de comunicação brasileiro que une forças com a artilharia argentina contra Cristina, num esquema onde participam também outros meios, partidos, organizações empresariais e algumas embaixadas.
Questão de Estado
Cristina Kirchner entendeu que a escalada de informações maquiadas pelas duas empresas do establishment jornalístico sul-americano é uma questão de Estado, com prováveis cumplicidades diplomáticas e talvez dos organismos de inteligência.
Para a chefa de Estado argentina, não é por acaso que Veja e Clarín defendem exatamente as mesmas teses levantadas por Washington em matéria de política exterior.
Mais que isso: os dois veículos adotaram como suas as suspeitas norte-americanas sobre o misterioso falecimento do promotor Nisman, ocorrido no último dia 18 de janeiro.
A manobra das diplomacias norte-americana e israelense diante do Caso Nisman foi tão escancarada que o Ministério de Relações Exteriores argentino teve que enviar cartas a Washington e Tel Aviv, solicitando que não interferissem na política interna do país sul-americano.
Logo, a presidenta resolveu responder, de forma altiva, as pressões de Veja e Clarín, provavelmente amparadas pelo Departamento de Estado. A resposta não foi dada diretamente por Cristina, quem falou foi seu filho.
No dia 30 de março, Máximo Kirchner, líder da organização política La Cámpora, concedeu uma longa e inusual entrevista (suas aparições na imprensa são pouco frequentes) na que desmentiu o que foi escrito por Veja e Clarín. Negou totalmente a existência de alguma conta sua no exterior, e também corrigiu dados equivocados sobre seu passaporte e domicílio. E o mais importante: anunciou sua intenção (ainda não realizada) de abrir um processo judicial contra a Veja por injúria e calúnia.
O jovem Kirchner, que desde que nasceu vive na Patagônia (também terra natal de seu pai), deplorou as histórias contadas pela revista, considerando-as “falsas e ridículas”, geradas por “quem tem licença para mentir”.
Direto das terras do fim do mundo, Máximo desafiou os candidatos presidenciais conservadores a que esclareçam se vão respeitar a Lei de Meios ou se pretendem derrubar uma medida que é tão aplaudida pela ONU, embora questionada em igual proporção por Veja, Clarín e a Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP, sigla em espanhol da organização que defende os interesses dos donos de jornais).
O antijornalismo
A partir de fontes não identificadas, talvez inexistentes, a denúncia da Veja, no mês passado, assegurou a existência de uma trama envolvendo Argentina, Irã e Venezuela, para o tráfico de segredos nucleares.
Em meio a essa extravagante organização secreta, integrada por kirchneristas, chavistas e aiatolás, teriam sido criadas contas milionárias em nome de Máximo Kirchner, filho de Cristina Kirchner e da embaixadora Nilda Garré, que a revista classifica como “ex-terrorista montonera” – membro do grupo guerrilheiro que atuou na Argentina nos Anos 70.
Tosca e panfletária, a história narrada por Veja só poderia ser verídica para um público de analfabetos políticos, ou de pessoas absolutamente desinformadas.
A Revista Veja não dissimula sua cumplicidade ideológica com os serviços de inteligência israelenses e estadunidenses, ao respaldar a infantil tese dos mesmos, sobre uma suposta aliança do mal entre bolivarianos, peronistas e o governo de Teerã.
Um exemplo para ilustrar a fragilidade do texto subjornalístico, que logo foi amplificado pelo Grupo Clarín, está no fato de acusar Máximo Kirchner de possuir uma conta de 41 milhões de dólares num pequeno banco dos Estados Unidos, de somente 19 empregados, cujos ativos totais são de 71 milhões de dólares.
Somente alguém que considera seus leitores estúpidos poderia dizer que um personagem público, como o filho da presidenta da Argentina, teria uma conta em seu nome por uma quantia que supera em mais de 50% todos os depósitos da mesma entidade financeira.
Veja e Clarín se uniram para conceber um caso paradigmático de antijornalismo. Analisemos novamente a série de histórias retroalimentadas entre si, como expressão do que se pode definir como o não-jornalismo: consiste em escrever notícias de grande impacto, carentes de informação e saturadas de dados inconsistentes, não comprováveis, apoiados em fontes anônimas de existência duvidosa.
Como era de se esperar, a série de matérias trianguladas entre São Paulo e Buenos Aires era tema de debate obrigatório nas redações, tanto em meios ligados ao governo argentino quanto em opositores.
Segundo pude constatar, em conversas informais com alguns colegas da capital argentina, a opinião generalizada (inclusive de alguns repórteres antikirchneristas) é a de que a estratégia da aliança Veja-Clarín foi bastante grosseira, e é possível que termine desgastando a credibilidade de ambos os meios.
“A novela grotesca de Leonardo Coutinho (redator da Veja)” é o contrário do jornalismo de investigação sério, afirmou neste sábado (4/4), o jornal Página 12, publicação de esquerda mais importante da Argentina.
Os absurdos surgidos nas páginas do Clarín mereceram questionamentos até mesmo de Hugo Alconada Moon, famoso colunista do La Nación, jornal conservador e de ferrenha oposição ao governo (Espécie de Estadão argentino). Para Moon, que é jornalista investigativo de longa experiência, faltou cautela na apuração dos dados sobre as, segundo ele, “supostas contas secretas de Máximo Kirchner e Nilda Garré”.
* Dario Pignotti é correspondente e doutor em comunicação pela USP.
Seguindo a receita aplicada para sabotar a reeleição de Dilma Rousseff em 2014, quando publicou uma notícia falsa três dias antes do segundo turno, o noticiário semanal da Editora Abril escreveu uma série de acusações rocambolescas contra a família da presidenta Cristina Kirchner.
"Veja" contou com a cumplicidade do grupo empresarial jornalístico Clarín, que encabeça o plano desestabilizador contra o governo portenho.
A campanha de difamação se agravou durante o verão passado, após a confusa morte do promotor Carlos Nisman (a Justiça ainda não determinou se foi assassinato ou suicídio), um homem vinculado ao poder sionista, e que recebia instruções da embaixada norte-americana, tal como foi demonstrado em documentos revelado por Wikileaks.
Em meados de um março asfixiante para os portenhos (foram registradas as temperaturas mais altas das últimas décadas), os ouvintes da popular Rádio Mitre, do Grupo Clarín, começaram a ser bombardeados com notícias procedentes da “prestigiosa revista brasileira Veja”, segundo comentou o jornalista Marcelo Bonelli.
O famoso Bonelli (espécie de Carlos Alberto Sardenberg argentino) dedicou uma ampla cobertura radiofônica à edição online de Veja, na que foram envolvidos Máximo Kirchner, filho de Cristina, a embaixadora argentina na OEA, Nilda Garré, e um pacto imaginário formado também por Irã e Venezuela.
Com essa notícia, Veja e Clarín começaram seus movimentos, evidentemente coordenados, para intoxicar a agenda política argentina, e em consequência a agenda internacional.
No dia seguinte ao da repercussão das matérias da Veja na Rádio Mitre, as bancas da elegante Calle Florida, principal boulevard de Buenos Aires, exibiam as edições impressas do jornal El Clarín, com várias matérias onde eram citadas as mentiras que chegavam do Brasil.
A manobra contou também com a ajuda de parlamentares da direita argentina, cujas declarações contribuíam para que a história sobre Máximo Kirchner fosse disseminada em outros meios.
Todos os elementos citados nos levam a considerar que não existe ingenuidade neste caso. Não se trata de uma informação gerada por Veja que o Clarín difundiu inocentemente, e sim de uma estratégia conjunta, de longo prazo e objetivos políticos com projeção internacional.
Foi surpreendente a eficácia da coordenação demonstrada pelos grupos jornalísticos sul-americanos, o da família Civita no Brasil e o de seus sócios da dinastia Noble (a família que controla o Clarín).
Durante o mês de março, diversos artigos da Veja eram publicados e repercutidos automaticamente em Buenos Aires. Ao mesmo tempo, matérias do Clarín eram citadas em São Paulo.
Dessa forma, foi-se alimentando uma atmosfera de notícias prejudiciais à administração Kirchner, faltando apenas seis meses para as eleições e oito para que o novo presidente assuma o país.
O caso demonstra a forma de atuar dos meios hegemônicos de São Paulo e Buenos Aires, para debilitar os governos que, como o argentino, questionaram seus interesses e privilégios através de uma lei contra os monopólios de comunicação.
Se observa claramente aqui como as empresas de notícias e entretenimento formam uma aliança firme na defesa de seu status quo comunicacional, desqualificando qualquer governante que ouse revisar essa situação.
A particularidade, neste caso, está no fato de que as histórias publicadas por Veja nos últimos meses (desde janeiro, quando a revista publica publicou grandes reportagens sobre o suicídio do promotor Nisman) parecem ter como o alvo o público argentino, mais até que o brasileiro.
Como fabricar desinformação
No Brasil, Veja divulga notícias falsas, ou carentes de um respaldo informativo consistente, que o Clarín traz para a Argentina, apresentando-as como grandes verdades vindas do exterior. A estratégia parece ser a de criar uma gigantesca nuvem de desinformação, de impacto nacional e internacional.
Em seguida, esse redemoinho de discursos contaminados repercute em tempo real nas agências internacionais de notícias e em cadeias globais de televisão, como CNN, que atuam como base de propaganda de vários grupos golpistas latino-americanos (especialmente os da Venezuela).
Finalmente, o relato do processo de desinformação, iniciado pela aliança Veja-Clarín e amplificado pela CNN e quejandos, se traduz em novos artigos dos grandes diários ocidentais, em particular aqueles que discursam em favor dos grandes interesses financeiros, como o Wall Street Journal, The Economist ou Financial Times.
Portanto: estamos diante de um mecanismo de desinformação de grau superior, que trabalha em tempo real nas agendas nacional e internacional.
Se trata, ao mesmo tempo, de uma complexa engrenagem de desestabilização política, também de grau superior, pois temos aqui um meio de comunicação brasileiro que une forças com a artilharia argentina contra Cristina, num esquema onde participam também outros meios, partidos, organizações empresariais e algumas embaixadas.
Questão de Estado
Cristina Kirchner entendeu que a escalada de informações maquiadas pelas duas empresas do establishment jornalístico sul-americano é uma questão de Estado, com prováveis cumplicidades diplomáticas e talvez dos organismos de inteligência.
Para a chefa de Estado argentina, não é por acaso que Veja e Clarín defendem exatamente as mesmas teses levantadas por Washington em matéria de política exterior.
Mais que isso: os dois veículos adotaram como suas as suspeitas norte-americanas sobre o misterioso falecimento do promotor Nisman, ocorrido no último dia 18 de janeiro.
A manobra das diplomacias norte-americana e israelense diante do Caso Nisman foi tão escancarada que o Ministério de Relações Exteriores argentino teve que enviar cartas a Washington e Tel Aviv, solicitando que não interferissem na política interna do país sul-americano.
Logo, a presidenta resolveu responder, de forma altiva, as pressões de Veja e Clarín, provavelmente amparadas pelo Departamento de Estado. A resposta não foi dada diretamente por Cristina, quem falou foi seu filho.
No dia 30 de março, Máximo Kirchner, líder da organização política La Cámpora, concedeu uma longa e inusual entrevista (suas aparições na imprensa são pouco frequentes) na que desmentiu o que foi escrito por Veja e Clarín. Negou totalmente a existência de alguma conta sua no exterior, e também corrigiu dados equivocados sobre seu passaporte e domicílio. E o mais importante: anunciou sua intenção (ainda não realizada) de abrir um processo judicial contra a Veja por injúria e calúnia.
O jovem Kirchner, que desde que nasceu vive na Patagônia (também terra natal de seu pai), deplorou as histórias contadas pela revista, considerando-as “falsas e ridículas”, geradas por “quem tem licença para mentir”.
Direto das terras do fim do mundo, Máximo desafiou os candidatos presidenciais conservadores a que esclareçam se vão respeitar a Lei de Meios ou se pretendem derrubar uma medida que é tão aplaudida pela ONU, embora questionada em igual proporção por Veja, Clarín e a Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP, sigla em espanhol da organização que defende os interesses dos donos de jornais).
O antijornalismo
A partir de fontes não identificadas, talvez inexistentes, a denúncia da Veja, no mês passado, assegurou a existência de uma trama envolvendo Argentina, Irã e Venezuela, para o tráfico de segredos nucleares.
Em meio a essa extravagante organização secreta, integrada por kirchneristas, chavistas e aiatolás, teriam sido criadas contas milionárias em nome de Máximo Kirchner, filho de Cristina Kirchner e da embaixadora Nilda Garré, que a revista classifica como “ex-terrorista montonera” – membro do grupo guerrilheiro que atuou na Argentina nos Anos 70.
Tosca e panfletária, a história narrada por Veja só poderia ser verídica para um público de analfabetos políticos, ou de pessoas absolutamente desinformadas.
A Revista Veja não dissimula sua cumplicidade ideológica com os serviços de inteligência israelenses e estadunidenses, ao respaldar a infantil tese dos mesmos, sobre uma suposta aliança do mal entre bolivarianos, peronistas e o governo de Teerã.
Um exemplo para ilustrar a fragilidade do texto subjornalístico, que logo foi amplificado pelo Grupo Clarín, está no fato de acusar Máximo Kirchner de possuir uma conta de 41 milhões de dólares num pequeno banco dos Estados Unidos, de somente 19 empregados, cujos ativos totais são de 71 milhões de dólares.
Somente alguém que considera seus leitores estúpidos poderia dizer que um personagem público, como o filho da presidenta da Argentina, teria uma conta em seu nome por uma quantia que supera em mais de 50% todos os depósitos da mesma entidade financeira.
Veja e Clarín se uniram para conceber um caso paradigmático de antijornalismo. Analisemos novamente a série de histórias retroalimentadas entre si, como expressão do que se pode definir como o não-jornalismo: consiste em escrever notícias de grande impacto, carentes de informação e saturadas de dados inconsistentes, não comprováveis, apoiados em fontes anônimas de existência duvidosa.
Como era de se esperar, a série de matérias trianguladas entre São Paulo e Buenos Aires era tema de debate obrigatório nas redações, tanto em meios ligados ao governo argentino quanto em opositores.
Segundo pude constatar, em conversas informais com alguns colegas da capital argentina, a opinião generalizada (inclusive de alguns repórteres antikirchneristas) é a de que a estratégia da aliança Veja-Clarín foi bastante grosseira, e é possível que termine desgastando a credibilidade de ambos os meios.
“A novela grotesca de Leonardo Coutinho (redator da Veja)” é o contrário do jornalismo de investigação sério, afirmou neste sábado (4/4), o jornal Página 12, publicação de esquerda mais importante da Argentina.
Os absurdos surgidos nas páginas do Clarín mereceram questionamentos até mesmo de Hugo Alconada Moon, famoso colunista do La Nación, jornal conservador e de ferrenha oposição ao governo (Espécie de Estadão argentino). Para Moon, que é jornalista investigativo de longa experiência, faltou cautela na apuração dos dados sobre as, segundo ele, “supostas contas secretas de Máximo Kirchner e Nilda Garré”.
* Dario Pignotti é correspondente e doutor em comunicação pela USP.
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