terça-feira, 26 de maio de 2015

A gripe de Levy e a pneumonia brasileira

Por Altamiro Borges

Com a nítida intenção de criar cizânia no governo Dilma Rousseff, a mídia oposicionista especulou nos últimos dias com a estória de que o ministro Joaquim Levy estaria descontente com os rumos da economia. Alguns colunistas mais afoitos até insinuaram que ele estaria prestes a pedir as contas no Ministério da Fazenda. Diante desta hipótese, os urubólogos de plantão decretaram o caos total no país. Mas a especulação, que teve início na sexta-feira (22), quando o ministro alegou um resfriado para se ausentar do anúncio do ajuste fiscal, não durou muito tempo. Nesta segunda-feira (25), o seco Joaquim Levy até brincou com os boatos e garantiu que segue dando as cartas na economia.

Segundo o site de fofocas da revista Época, na reunião da coordenação política realizada na manhã de segunda-feira no Palácio do Planalto, o ministro ficou praticamente calado. “Ele brincou ao dizer que evitaria falar para não acharem que estava discordando dos colegas. Todos riram. Levy fazia referência a sua ausência no anúncio do ajuste fiscal e a possível irritação dele, noticiada pela imprensa, com o valor do contingenciamento: R$ 69,9 bilhões... Após a reunião, Levy deu entrevista e afirmou não ter havido divergência quanto ao valor do ajuste fiscal. ‘Houve certo alvoroço em torno dessa história... É dado o direito de todo mundo se alvoroçar’, disse Levy”, relata o repórter Murilo Ramos.

Apesar das especulações da mídia terrorista e do desmentido do “tzar da economia”, é evidente que há divergências no Palácio do Planalto. Elas são até naturais num governo de composição. Joaquim Levy representa o seu setor mais ortodoxo, de marca neoliberal. Se dependesse somente dele, possivelmente o pacote do arrocho seria ainda mais drástico. E não faltaram apostas neste sentido. Os chamados “analistas do mercado” – nome fictício dos porta-vozes dos agiotas financeiros – fizeram de tudo para garfar uma fatia maior dos recursos públicos. Os rentistas, que pouco se importam com a situação dos trabalhadores brasileiros, só pensam em elevar o tal “superávit primário” – outro nome fictício, o da reserva de caixa dos banqueiros.

A chiadeira dos abutres

Um dia após o anúncio da facada de R$ 69,9 bilhões, os abutres já chiaram. Para eles, segundo o noticiário, o ideal seria um “contingenciamento” bem maior – de uns R$ 140 bilhões para garantir a meta do superávit de 1,1% do PIB. O economista Raul Veloso, “consultor” dos banqueiros e do PSDB – e figurinha bem carimbada dos telejornais – afirmou que o pacote “é muito arriscado” e não resolverá o gargalo fiscal do Brasil. “O que vai ocorrer é que a cada dois meses vão controlar os gastos. O corte vai ser bem maior, mas ficará envolto numa névoa”, prognosticou o urubu tucano. Outros “especialistas” entrevistados pelos jornais O Globo, Folha e Estadão também criticaram a “timidez” dos cortes anunciados. Os abutres queriam ainda mais sangue!

Já a mídia rentista, que faz oposição ao governo, também torceu por um ajuste fiscal ainda mais rigoroso. Em editorial no domingo (24), a Folha não escondeu sua frustração com as medidas de ajuste. “O corte de despesas divulgado pelo governo atinge uma situação emergencial; ainda falta um plano para conter os gastos de forma permanente”. Para o jornalão, totalmente endividado e refém dos banqueiros, o corte de R$ 69,9 bilhões – “de um arrojo inédito ao menos neste século” – ainda não resolve as contas públicas do governo. “O país está cansado de remendos e derramas”, conclui a Folha. Os editoriais de O Globo e do Estadão repetiram a mesma cantilena neoliberal. Daí terem especulado com o resfriado do ministro Joaquim Levy, até agora um queridinho da mídia.

Efeitos danosos para a sociedade

Com gripe ou sem gripe, o fato concreto é que o plano de ajuste fiscal já foi baixado pelo governo e os seus efeitos serão danosos para a sociedade. É o típico resfriado que pode virar uma pneumonia. A tesourada atingirá obras de infraestrutura, inclusive as previstas no Plano de Aceleração do Crescimento (PAC), e também programas sociais do governo, como o “Minha Casa, Minha Vida” – uma das principais vitrines da presidenta Dilma nas eleições do outubro passado. O corte anunciado na semana passada é o maior já realizado em orçamentos federais desde que o PT chegou ao governo, em 2003. Ele garfou R$ 25,7 bilhões em investimentos do PAC, onde estão incluídos quase R$ 7 bilhões em cortes no programa “Minha Casa, Minha Vida”.

Esta freada dos gastos públicos poderá agravar ainda mais a retração econômica do país. Na semana passada, a Pesquisa Mensal de Emprego (PME), do IBGE, e o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho, já indicaram que o cenário é preocupante. A taxa de desemprego do IBGE, que se refere apenas às seis principais regiões metropolitanas, aumentou 1,5% entre abril de 2014 e abril de 2015 – de 4,9% para 6,4%. Nada menos do que 384 mil pessoas se somaram às estatísticas de desocupação da PME. Já segundo o Caged, houve queda de 1,9% do número de trabalhadores com carteira assinada registrada pela PME. Mais de 97,8 mil postos formais foram cortados, pior resultado desde que o cadastro começou a ser divulgado, em 1992.

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2 comentários:

  1. ... aqui em Joao Pessoa ontem conversei com uma garota ela vai fazer ENEM e nao quer faculdade publica devidos as greves interminaveis veja só...

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  2. Por que o governo ainda não decidiu finalmente auditar a maldita dívida? O Brasil ficaria nadando em dinheiro em três meses.

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