Por Luciano Martins Costa, no Observatório da Imprensa:
Jornais e revistas começam a publicar notícias diretamente no Facebook. A informação, que circulou inicialmente nos sites especializados em mídias digitais, aparece também nas edições de quinta-feira (14/5) dos jornais brasileiros de papel.
Pelo acordo anunciado, alguns dos principais veículos da mídia tradicional, com destaque para o New York Times, passam a exibir diretamente parte de seu conteúdo nas páginas da rede social, sem que o leitor tenha que ser dirigido para o site do jornal.
A primeira reportagem do Times usando esse meio (ver aqui) trata do drama de Laís Souza, a ex-ginasta brasileira que ficou paralisada por causa de um acidente numa pista de esqui, em janeiro de 2014. Também vêm aderindo ao projeto – intitulado Instant Article, ou Reportagem Instantânea, em português – as revistas National Geographic e The Atlantic, além do jornal britânico The Guardian e a rede pública de televisão BBC. Por enquanto, segundo dirigentes desses veículos, trata-se de um ensaio, mas essa experiência revela muito mais.
O que está por trás desse movimento é uma tendência que vem sendo observada por pesquisadores de comunicação desde 2009, quando o Facebook foi classificado como a rede social mais utilizada regularmente em todo o mundo. A possibilidade que então se apresentava era de que as relações horizontais entre usuários viessem a ultrapassar em pouco tempo a comunicação verticalizada que caracteriza o sistema da mídia tradicional.
Essa tendência foi observada mais claramente a partir de 2012, quando a empresa controlada por Mark Zuckerberg abriu seu capital e adotou uma política agressiva de aquisições, alcançando no mesmo ano a marca de 1 bilhão de usuários ativos. Nesse mesmo período, diversos especialistas convidados ao curso Gestão de Mídias Digitais, no Programa de Educação Continuada da Fundação Getúlio Vargas, então coordenado por este observador, alertavam que a rede social se apresentava como uma alternativa para a própria internet.
A adesão de importantes veículos da mídia tradicional ao programa Instant Article pode acelerar esse movimento, fazendo da empresa de Zuckerberg um suporte indispensável para a sobrevivência daquilo que ainda chamamos de imprensa. A partir daí, quando o sistema tradicional de notícias estiver imerso na grande nebulosa de relações sociais, tudo pode acontecer.
Uma armadilha sedutora
Os usuários mais jovens não reconhecem o valor de antigas marcas da imprensa e acessam apenas o Facebook e seu aplicativo de mensagens WhatsApp em sua rotina diária, deixando em segundo plano o conteúdo da internet. O crescimento do uso de aparelhos móveis, como os smartphones, reforça essa predominância e obriga as empresas a adaptar suas estratégias de comunicação.
Os números são impressionantes: mais de 600 milhões de pessoas em todo o mundo usam periodicamente o WhatsApp e mais de 70% deles o utilizam diariamente, produzindo um volume superior a 10 bilhões de mensagens.
Esse fenômeno encantou os gestores de marketing, que passaram a dedicar a campanhas nas redes sociais cada vez mais recursos, que antes alimentavam a publicidade tradicional – mas recentemente muitos se dão conta de que caíram numa armadilha, com o aumento de custos e uma dependência da qual não conseguem se livrar.
No Brasil, mais de 47 milhões de pessoas, a maioria com menos de 40 anos de idade, usam intensivamente esse sistema de mensagens instantâneas, o que se junta ao fato de a mídia tradicional nunca ter alcançado números realmente expressivos de circulação e à queda da audiência da televisão aberta.
Esse é um cenário definidor do futuro daquilo que chamamos de imprensa. O movimento do New York Times e outros veículos tradicionais, ainda que experimental e cauteloso, equivale a um corpo celeste aproximar-se de um buraco negro: o poder de atração da gigantesca rede digital é sedutor, mas pode eliminar qualquer tentativa posterior de afastamento. No entanto, ficar de fora também pode significar excluir-se da grande galáxia formada pelos relacionamentos interpessoais.
A mídia brasileira, que definha por conta de muitas causas, principalmente o conservadorismo na gestão e nas escolhas editoriais, olha com desconfiança o movimento do grande jornal americano, mas não parece ter uma estratégia alternativa.
Há duas semanas, quando estiveram no Brasil para sondar a possibilidade de parcerias, executivos do New York Times não esconderam a decepção com a mentalidade de dirigentes da imprensa nacional. A mídia brasileira tradicional ainda discute os “desafios da internet” e está encantada com “sistemas multiplataformas de publicação”.
Pelo acordo anunciado, alguns dos principais veículos da mídia tradicional, com destaque para o New York Times, passam a exibir diretamente parte de seu conteúdo nas páginas da rede social, sem que o leitor tenha que ser dirigido para o site do jornal.
A primeira reportagem do Times usando esse meio (ver aqui) trata do drama de Laís Souza, a ex-ginasta brasileira que ficou paralisada por causa de um acidente numa pista de esqui, em janeiro de 2014. Também vêm aderindo ao projeto – intitulado Instant Article, ou Reportagem Instantânea, em português – as revistas National Geographic e The Atlantic, além do jornal britânico The Guardian e a rede pública de televisão BBC. Por enquanto, segundo dirigentes desses veículos, trata-se de um ensaio, mas essa experiência revela muito mais.
O que está por trás desse movimento é uma tendência que vem sendo observada por pesquisadores de comunicação desde 2009, quando o Facebook foi classificado como a rede social mais utilizada regularmente em todo o mundo. A possibilidade que então se apresentava era de que as relações horizontais entre usuários viessem a ultrapassar em pouco tempo a comunicação verticalizada que caracteriza o sistema da mídia tradicional.
Essa tendência foi observada mais claramente a partir de 2012, quando a empresa controlada por Mark Zuckerberg abriu seu capital e adotou uma política agressiva de aquisições, alcançando no mesmo ano a marca de 1 bilhão de usuários ativos. Nesse mesmo período, diversos especialistas convidados ao curso Gestão de Mídias Digitais, no Programa de Educação Continuada da Fundação Getúlio Vargas, então coordenado por este observador, alertavam que a rede social se apresentava como uma alternativa para a própria internet.
A adesão de importantes veículos da mídia tradicional ao programa Instant Article pode acelerar esse movimento, fazendo da empresa de Zuckerberg um suporte indispensável para a sobrevivência daquilo que ainda chamamos de imprensa. A partir daí, quando o sistema tradicional de notícias estiver imerso na grande nebulosa de relações sociais, tudo pode acontecer.
Uma armadilha sedutora
Os usuários mais jovens não reconhecem o valor de antigas marcas da imprensa e acessam apenas o Facebook e seu aplicativo de mensagens WhatsApp em sua rotina diária, deixando em segundo plano o conteúdo da internet. O crescimento do uso de aparelhos móveis, como os smartphones, reforça essa predominância e obriga as empresas a adaptar suas estratégias de comunicação.
Os números são impressionantes: mais de 600 milhões de pessoas em todo o mundo usam periodicamente o WhatsApp e mais de 70% deles o utilizam diariamente, produzindo um volume superior a 10 bilhões de mensagens.
Esse fenômeno encantou os gestores de marketing, que passaram a dedicar a campanhas nas redes sociais cada vez mais recursos, que antes alimentavam a publicidade tradicional – mas recentemente muitos se dão conta de que caíram numa armadilha, com o aumento de custos e uma dependência da qual não conseguem se livrar.
No Brasil, mais de 47 milhões de pessoas, a maioria com menos de 40 anos de idade, usam intensivamente esse sistema de mensagens instantâneas, o que se junta ao fato de a mídia tradicional nunca ter alcançado números realmente expressivos de circulação e à queda da audiência da televisão aberta.
Esse é um cenário definidor do futuro daquilo que chamamos de imprensa. O movimento do New York Times e outros veículos tradicionais, ainda que experimental e cauteloso, equivale a um corpo celeste aproximar-se de um buraco negro: o poder de atração da gigantesca rede digital é sedutor, mas pode eliminar qualquer tentativa posterior de afastamento. No entanto, ficar de fora também pode significar excluir-se da grande galáxia formada pelos relacionamentos interpessoais.
A mídia brasileira, que definha por conta de muitas causas, principalmente o conservadorismo na gestão e nas escolhas editoriais, olha com desconfiança o movimento do grande jornal americano, mas não parece ter uma estratégia alternativa.
Há duas semanas, quando estiveram no Brasil para sondar a possibilidade de parcerias, executivos do New York Times não esconderam a decepção com a mentalidade de dirigentes da imprensa nacional. A mídia brasileira tradicional ainda discute os “desafios da internet” e está encantada com “sistemas multiplataformas de publicação”.
... rumo a idiotização total...
ResponderExcluir