Por Mike Whitney, no site Carta Maior:
Segundo Marketwatch:
“Pela oitava semana em sequência, fundos mútuos de longo prazo viram mais dinheiro saindo de ações norte-americanas para ações internacionais, segundo o Investment Company Institute. (...) Para a semana que terminou em 22/4, saíram $3,4 bilhões de fundos mútuos de longo prazo (...). No ano, até aqui, a saída líquida para ações norte-americanas é de $13,79 bilhões, e a saída para ações internacionais é de $41,12 bilhões.
Esses números contudo não incluem fundos cambiais. Só em abril, fundos mútuos e fundos cambiais focados em ações internacionais tiveram influxo de $31,8 bilhões líquidos, e saída de $15,4 bilhões, segundo TrimTabs Investment Research.” (“Why U.S. stocks are near highs even as fund investors flee” [Por que as ações norte-americanas estão no pico, apesar da fuga dos fundos de investimento], Marketwatch)
Assim sendo, se os pequenos investidores estão mudando o dinheiro deles para Europa e Japão (para aproveitar as vantagens do ‘afrouxo monetário’ [orig. Quantitative Easing, QE]), e os sinais vitais da economia dos EUA continuam indetectáveis (o PIB do primeiro trimestre chegou ao fundo do abismo dos 0,1%), nesse caso por que as ações continuam a apenas 2% do pico mais alto de todos os tempos?
Resposta: a recompra de ações.
A política monetária super-super acomodatícia do Fed de Bernanke criou um ambiente no qual os altos executivos e grandes empresários de grandes empresas podem tomar emprestado caminhões de dinheiro pagando as taxas mais baixas da história, e, na sequência usam o mesmo dinheiro para comprar ações de suas próprias empresas. Quando uma empresa reduz o número de ações no mercado, o preço da ação sobre, o que gera recompensa para ambos, para a empresa e para os acionistas. Claro que esse inchaço de preços nada acrescenta à produtividade da companhia ou a suas possibilidades de crescimento. De fato, o processo mina ganhos futuros, porque acrescenta mais números vermelhos no balanço. Mas esses “negativos” nunca são considerados na tomada de decisões, focada exclusivamente em ganhos de curto prazo. Tomem aí uma dose de Morgan Stanley, via Zero Hedge:
“Em 2014, as [empresas que aparecem no índice das 500 maiores de Stanley and Poor] S&P 500 recompraram, em números líquidos, o equivalente a ~$430bilhões em ações comuns e gastaram outros ~$375bilhões para pagar dividendos. O capital total que voltou aos acionistas foi apenas um pouco inferior aos ganhos anuais reportados. No front da renda fixa, o mercado de ações de empresas com grau de investimento viu um recorde de $577bilhões de emissão líquida em 2014. Embora os universos de ações e obrigações não se correspondam 100%, entendemos que esses números revelam história bem simples, mas importante. As corporações norte-americanas têm, essencialmente, emitido níveis recordes de ações e usado parcela significativa de seus ganhos e reservas de caixa para recomprar níveis recordes de ações comuns.” (“Buyback Bonanza, Margin Madness Behind US Equity Rally”, Zero Hedge)
Quer dizer: as empresas estão tomando emprestado centenas de bilhões de dólares dos investidores, pelo mercado de ações. Estão usando esse capital barato para recomprar ações delas mesmas, para conseguir mandar para as alturas a recompensa [“bônus” por desempenho] devida aos executivos, e ganhar muito dinheiro à custa dos investidores. Ao mesmo tempo, vão enfraquecendo a estrutura de capital da empresa, carregando-a com mais dívidas. (Vale a pena observar que “empresas não financeiras com alto grau de investimento” estão hoje mais alavancadas do que estavam em 2007 antes do crash.)
Essa farra ensandecida de recompra atingiu tais níveis de enlouquecimento, que as recompras atualmente já excederam os lucros em dois trimestres em 2014. Eis o que dizBloomberg:
“[As empresas que aparecem no índice das 500 maiores de Stanley and Poor] realmente amam seus acionistas (...). O dinheiro que voltou aos donos de ações excedeu os lucros no primeiro trimestre e pode exceder também no terceiro. A proporção do fluxo de dinheiro usado para recompras quase dobrou ao longo da última década, segundo Jonathan Glionna, diretor de pesquisa de estratégia de ações dos EUA em Barclays Plc.
As recompras ajudaram a alimentar uma das altas mais fortes dos últimos 50 anos, com as ações mais recompradas ganhando mais de 300% desde março de 2009.” (Bloomberg)
Mas talvez estejamos sendo pessimistas demais. Talvez as ações tivessem subido de qualquer modo, por causa de ganhos recordes e melhoras na economia. Sim, é possível, não é? Não, não é. Não, pelo menos, segundo Morgan Stanley. Veja aí:
“Desde 2012, mais de 50% do aumento nos Ganhos por Ação [orig. Earnings Per Share, EPS] nas [empresas] S&P 500 foi puxado por recompras, e o crescimento sem as recompras tem sido de meros 3,3% anualizado.”
“Mais de 50%!” Aí está o resumo do seu mercado, numa só e desgraçada expressão. Sem recompras significa sem qualquer crescimento no mercado de ações em cinco anos. Ponto final. Parágrafo.
Não fosse pela engenharia financeira e o dinheiro fácil do Fed, as ações estariam no mesmo ponto em que, no geral, está toda a economia: girando em volta do buraco do ralo. É isso.
O mais frustrante de todo esse atual fenômeno é que o Fed sabe exatamente o que se passa, mais vira a cabeça e olha para outro lado. Assim, enquanto a bolha das ações cresce e cresce, o gasto de capital [orig. Capital Expenditure, CAPEX] – que é investimento em produtividade e crescimento futuros – continua a deteriorar-se, o PIB desaba para zero e a demanda vai-se tornando cada vez mais fraca. Não basta isso para que se deva repensar a política toda?
Santo Deus, não, não basta. O Fed está decidido a continuar agarrado à mesma política manca, até que o inferno congele. Que a política deles funcione ou não funcione não é questão que importe a alguém.
Agora considere essa informação, que nos deixa de olhos esbugalhados, de Wolf Street: “A GE, para encobrir perda líquida de $13,6 bilhões e entradas declinantes no primeiro trimestre, disse, dia 10 de abril, que vai recomprar $50 bilhões das próprias ações.” (Wolf Street)
Não sei dizer quantas vezes tenho lido notícias semelhantes nos últimos poucos anos. As entradas da companhia estão encolhendo, estão perdendo dinheiro a rodo e fazem o quê? Anunciam que vai recomprar $50 bilhões das próprias ações.
Parece piada. Mas não fica por aí. As políticas do Fed também dispararam um frenesi de atividade nos empréstimos marginais. Eis o que noticia a rede CNBC:
“A dívida marginal da Bolsa de Valores de NY [orig. New York Stock Exchange NYSE] bateu todos os recordes em março, segundo dados recentemente distribuídos (...) A dívida marginal da NYSE alcançou $476,4 bilhões, depois de chegar aos $464,9 bilhões no final de fevereiro.(ATENÇÃO: Esse valor é $95 bilhões superior aos números de 2007, no auge da bolha.)
Surge dívida marginal quando os investidores tomam empréstimos para comprar ações. Se um investidor compra $100 em ações, com $50 em capital, esse indivíduo tem $50 de dívida marginal. Dado que a dívida marginal provê alavancagem, ela amplifica os ganhos, mas também aumenta o risco para o investidor.” (“What record-high margin debt means for stocks” [O que significa a dívida marginal recorde, para as ações], CNBC)
Mais empréstimos tomados, mais riscos, mais instabilidade financeira. E aí está tudo que o Fed tem feito. Se as taxas estivessem neutras, os preços se normalizariam e os altos executivos não estariam metidos nessa temerária roleta-russa. Em vez disso, é mandar às favas a prudência; continuar a pilhagem do endividamento até que todo o mercado desabe, direto ao poço, como aconteceu há seis anos.
Na verdade, já estamos, hoje, nessa trajetória. Segundo [pesquisa de] TrimTabs Investment Research,
“as recompras em fevereiro alcançaram $104 bilhões, o maior número mensal desde quando começou esse acompanhamento, há vinte anos.”
A verdade é que as coisas estão piorando, não melhorando. Resumo da história: o Fed levou os EUA à beira do precipício, mais uma vez, e o mais leve toque para cima nas taxas de juros empurrará o país, em queda livre.
Mas... por quê? Por que o Fed só faz ‘conduzir’ o país de uma catástrofe financeira, até a seguinte?
Essa é a pergunta que os economistas Atif Mian e Amir Sufi respondem muito convincentemente, com um único e singelo gráfico. Vejam aí:
“Aí se vê a proporção dos ativos financeiros, em relação à distribuição nacional de riqueza nos EUA. Dados tirados da 2010 Survey of Consumer Finances do Fed
Os 20% mais ricos detêm mais de 85% dos ativos financeiros em toda a economia. É claro, portanto, que os ganhos diretos do capital vão só para os lares mais ricos dos EUA.” (Capital Ownership and Inequality [Propriedade do capital e desigualdade], House of Debt).
Por que o Fed cria uma bolha depois da outra, sem parar? Ora! Agora você já sabe.
* Traduzido pelo Vila Vudu.
“Pela oitava semana em sequência, fundos mútuos de longo prazo viram mais dinheiro saindo de ações norte-americanas para ações internacionais, segundo o Investment Company Institute. (...) Para a semana que terminou em 22/4, saíram $3,4 bilhões de fundos mútuos de longo prazo (...). No ano, até aqui, a saída líquida para ações norte-americanas é de $13,79 bilhões, e a saída para ações internacionais é de $41,12 bilhões.
Esses números contudo não incluem fundos cambiais. Só em abril, fundos mútuos e fundos cambiais focados em ações internacionais tiveram influxo de $31,8 bilhões líquidos, e saída de $15,4 bilhões, segundo TrimTabs Investment Research.” (“Why U.S. stocks are near highs even as fund investors flee” [Por que as ações norte-americanas estão no pico, apesar da fuga dos fundos de investimento], Marketwatch)
Assim sendo, se os pequenos investidores estão mudando o dinheiro deles para Europa e Japão (para aproveitar as vantagens do ‘afrouxo monetário’ [orig. Quantitative Easing, QE]), e os sinais vitais da economia dos EUA continuam indetectáveis (o PIB do primeiro trimestre chegou ao fundo do abismo dos 0,1%), nesse caso por que as ações continuam a apenas 2% do pico mais alto de todos os tempos?
Resposta: a recompra de ações.
A política monetária super-super acomodatícia do Fed de Bernanke criou um ambiente no qual os altos executivos e grandes empresários de grandes empresas podem tomar emprestado caminhões de dinheiro pagando as taxas mais baixas da história, e, na sequência usam o mesmo dinheiro para comprar ações de suas próprias empresas. Quando uma empresa reduz o número de ações no mercado, o preço da ação sobre, o que gera recompensa para ambos, para a empresa e para os acionistas. Claro que esse inchaço de preços nada acrescenta à produtividade da companhia ou a suas possibilidades de crescimento. De fato, o processo mina ganhos futuros, porque acrescenta mais números vermelhos no balanço. Mas esses “negativos” nunca são considerados na tomada de decisões, focada exclusivamente em ganhos de curto prazo. Tomem aí uma dose de Morgan Stanley, via Zero Hedge:
“Em 2014, as [empresas que aparecem no índice das 500 maiores de Stanley and Poor] S&P 500 recompraram, em números líquidos, o equivalente a ~$430bilhões em ações comuns e gastaram outros ~$375bilhões para pagar dividendos. O capital total que voltou aos acionistas foi apenas um pouco inferior aos ganhos anuais reportados. No front da renda fixa, o mercado de ações de empresas com grau de investimento viu um recorde de $577bilhões de emissão líquida em 2014. Embora os universos de ações e obrigações não se correspondam 100%, entendemos que esses números revelam história bem simples, mas importante. As corporações norte-americanas têm, essencialmente, emitido níveis recordes de ações e usado parcela significativa de seus ganhos e reservas de caixa para recomprar níveis recordes de ações comuns.” (“Buyback Bonanza, Margin Madness Behind US Equity Rally”, Zero Hedge)
Quer dizer: as empresas estão tomando emprestado centenas de bilhões de dólares dos investidores, pelo mercado de ações. Estão usando esse capital barato para recomprar ações delas mesmas, para conseguir mandar para as alturas a recompensa [“bônus” por desempenho] devida aos executivos, e ganhar muito dinheiro à custa dos investidores. Ao mesmo tempo, vão enfraquecendo a estrutura de capital da empresa, carregando-a com mais dívidas. (Vale a pena observar que “empresas não financeiras com alto grau de investimento” estão hoje mais alavancadas do que estavam em 2007 antes do crash.)
Essa farra ensandecida de recompra atingiu tais níveis de enlouquecimento, que as recompras atualmente já excederam os lucros em dois trimestres em 2014. Eis o que dizBloomberg:
“[As empresas que aparecem no índice das 500 maiores de Stanley and Poor] realmente amam seus acionistas (...). O dinheiro que voltou aos donos de ações excedeu os lucros no primeiro trimestre e pode exceder também no terceiro. A proporção do fluxo de dinheiro usado para recompras quase dobrou ao longo da última década, segundo Jonathan Glionna, diretor de pesquisa de estratégia de ações dos EUA em Barclays Plc.
As recompras ajudaram a alimentar uma das altas mais fortes dos últimos 50 anos, com as ações mais recompradas ganhando mais de 300% desde março de 2009.” (Bloomberg)
Mas talvez estejamos sendo pessimistas demais. Talvez as ações tivessem subido de qualquer modo, por causa de ganhos recordes e melhoras na economia. Sim, é possível, não é? Não, não é. Não, pelo menos, segundo Morgan Stanley. Veja aí:
“Desde 2012, mais de 50% do aumento nos Ganhos por Ação [orig. Earnings Per Share, EPS] nas [empresas] S&P 500 foi puxado por recompras, e o crescimento sem as recompras tem sido de meros 3,3% anualizado.”
“Mais de 50%!” Aí está o resumo do seu mercado, numa só e desgraçada expressão. Sem recompras significa sem qualquer crescimento no mercado de ações em cinco anos. Ponto final. Parágrafo.
Não fosse pela engenharia financeira e o dinheiro fácil do Fed, as ações estariam no mesmo ponto em que, no geral, está toda a economia: girando em volta do buraco do ralo. É isso.
O mais frustrante de todo esse atual fenômeno é que o Fed sabe exatamente o que se passa, mais vira a cabeça e olha para outro lado. Assim, enquanto a bolha das ações cresce e cresce, o gasto de capital [orig. Capital Expenditure, CAPEX] – que é investimento em produtividade e crescimento futuros – continua a deteriorar-se, o PIB desaba para zero e a demanda vai-se tornando cada vez mais fraca. Não basta isso para que se deva repensar a política toda?
Santo Deus, não, não basta. O Fed está decidido a continuar agarrado à mesma política manca, até que o inferno congele. Que a política deles funcione ou não funcione não é questão que importe a alguém.
Agora considere essa informação, que nos deixa de olhos esbugalhados, de Wolf Street: “A GE, para encobrir perda líquida de $13,6 bilhões e entradas declinantes no primeiro trimestre, disse, dia 10 de abril, que vai recomprar $50 bilhões das próprias ações.” (Wolf Street)
Não sei dizer quantas vezes tenho lido notícias semelhantes nos últimos poucos anos. As entradas da companhia estão encolhendo, estão perdendo dinheiro a rodo e fazem o quê? Anunciam que vai recomprar $50 bilhões das próprias ações.
Parece piada. Mas não fica por aí. As políticas do Fed também dispararam um frenesi de atividade nos empréstimos marginais. Eis o que noticia a rede CNBC:
“A dívida marginal da Bolsa de Valores de NY [orig. New York Stock Exchange NYSE] bateu todos os recordes em março, segundo dados recentemente distribuídos (...) A dívida marginal da NYSE alcançou $476,4 bilhões, depois de chegar aos $464,9 bilhões no final de fevereiro.(ATENÇÃO: Esse valor é $95 bilhões superior aos números de 2007, no auge da bolha.)
Surge dívida marginal quando os investidores tomam empréstimos para comprar ações. Se um investidor compra $100 em ações, com $50 em capital, esse indivíduo tem $50 de dívida marginal. Dado que a dívida marginal provê alavancagem, ela amplifica os ganhos, mas também aumenta o risco para o investidor.” (“What record-high margin debt means for stocks” [O que significa a dívida marginal recorde, para as ações], CNBC)
Mais empréstimos tomados, mais riscos, mais instabilidade financeira. E aí está tudo que o Fed tem feito. Se as taxas estivessem neutras, os preços se normalizariam e os altos executivos não estariam metidos nessa temerária roleta-russa. Em vez disso, é mandar às favas a prudência; continuar a pilhagem do endividamento até que todo o mercado desabe, direto ao poço, como aconteceu há seis anos.
Na verdade, já estamos, hoje, nessa trajetória. Segundo [pesquisa de] TrimTabs Investment Research,
“as recompras em fevereiro alcançaram $104 bilhões, o maior número mensal desde quando começou esse acompanhamento, há vinte anos.”
A verdade é que as coisas estão piorando, não melhorando. Resumo da história: o Fed levou os EUA à beira do precipício, mais uma vez, e o mais leve toque para cima nas taxas de juros empurrará o país, em queda livre.
Mas... por quê? Por que o Fed só faz ‘conduzir’ o país de uma catástrofe financeira, até a seguinte?
Essa é a pergunta que os economistas Atif Mian e Amir Sufi respondem muito convincentemente, com um único e singelo gráfico. Vejam aí:
“Aí se vê a proporção dos ativos financeiros, em relação à distribuição nacional de riqueza nos EUA. Dados tirados da 2010 Survey of Consumer Finances do Fed
Os 20% mais ricos detêm mais de 85% dos ativos financeiros em toda a economia. É claro, portanto, que os ganhos diretos do capital vão só para os lares mais ricos dos EUA.” (Capital Ownership and Inequality [Propriedade do capital e desigualdade], House of Debt).
Por que o Fed cria uma bolha depois da outra, sem parar? Ora! Agora você já sabe.
* Traduzido pelo Vila Vudu.
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