Por José Reinaldo Carvalho, no site Vermelho:
“Mico do ano”, “patacoada diplomática”, “molecagem”, “palhaçada dos senadores” – estas são algumas das expressões mais amenas com que analistas políticos e internautas caracterizaram a viagem da comitiva de senadores direitistas brasileiros à Venezuela na última quinta-feira (18).
Desde as primeiras tuitadas do grupo, as denúncias de que a comitiva de senadores liderada pelo tucano Aécio Neves estava sendo agredida pelo governo de Caracas, afiguravam-se como falsas. Foi uma espécie de operação de ratazanas, a julgar pela declaração de um deles, de que os senadores teriam caído numa ratoeira. Efetivamente, quem cai em ratoeira, ratazana é.
De qualquer forma, no primeiro momento e tão somente no plano interno, os senadores direitistas brasileiros conseguiram o que pretendiam. Com seu factoide, contaminaram ainda mais o ambiente político, tiveram nas mãos uma bandeira, mesmo que esfarrapada, para o combate sem tréguas que movem contra o governo da presidenta Dilma. Na empreitada, contaram com a solidariedade da Câmara dos Deputados, que aprovou uma moção em contradição com a realidade, do presidente do Senado, que fez uma declaração recheada de bravatas, e acuaram o Itamaraty, que emitiu uma nota contendo críticas veladas ao governo venezuelano e chamou para prestar “explicações” a embaixadora de Caracas no Brasil, o que é, na simbologia diplomática, uma forma de demonstrar “insatisfação” ou “reprovação” à República coirmã.
A viagem tinha um vício de origem. O grupo de senadores não atendia a qualquer convite oficial – do Governo, da Assembleia Nacional, do Poder Eleitoral, do Judiciário, ou mesmo de organização legítima da sociedade civil. Aécio e seus pares viajaram por sua própria conta e risco, com uma pauta de ingerência em assuntos internos e agitação política, com ares de provocação. Foram a convite de familiares de políticos da direita venezuelana que se encontram presos por terem escolhido a delinquência e a violência golpista como forma de luta. Contaram com a cortesia do governo brasileiro que lhes disponibilizou um jato da FAB. Coisas do decantado traço cordial do ser brasileiro, quiçá.
Leopoldo Lopez, Antonio Ledezma e Corina Machado não são presos políticos. Nem personalidades por quem façamos dobrar os nossos sinos ou acender velas. Estão encarcerados sob a acusação de liderar ações violentas contra o Estado, suas forças policiais e a população civil, de que resultaram, durante a intentona golpista do ano passado, 43 mortos e mais de 800 feridos. Aécio Neves e seus colegas têm todo o direito de revelar sua identidade com este tipo de políticos. É sua opção. Mas não deviam ser ingênuos ao ponto de imaginar que a patranha não seria desmascarada.
Mais uma vez coube aos veículos alternativos esclarecer os fatos, destacadamente o blog “O Cafezinho” e os sites “Opera Mundi”, “Brasil 247” e “Vermelho”, que desde a quinta-feira publicaram informações desmentindo os senadores brasileiros.
Na sexta-feira (19), a Chancelaria venezuelana publicou comunicado demonstrando as grandes mentiras difundidas pela comitiva e repetidas pela mídia. A nota do governo venezuelano informava: “A primeira grande mentira midiática foi assinalar falsamente que o governo venezuelano tinha negado permissão de voo à comitiva, quando nem sequer se fez nenhuma solicitação formal”.
“A segunda grande mentira foi responsabilizar o governo venezuelano por obstruir a via principal que liga o aeroporto com a capital do país, quando na realidade um lamentável acidente com uma carreta com substâncias inflamáveis impediu o livre trânsito por aquela estrada, que atrasou inclusive o traslado de um detento de alta segurança expulso pelo governo da Colômbia por sua responsabilidade no assassinato de uma jornalista durante os episódios de terrorismo no ano passado”.
“A terceira grande mentira foi afirmar que a segurança e a integridade física desses senadores da direita brasileira estiveram comprometidas. Existe material audiovisual e fotográfico que mostra a interação dos senadores com ativistas políticos que se encontravam realizando ações de campanha eleitoral. O governo venezuelano disponibilizou um dispositivo especial de segurança formado por mais de 30 efetivos motorizados, patrulhas e corpos de segurança que acompanharam durante todo o tempo esse grupo, tal como se combinou com a embaixada da República Federativa do Brasil”.
A posição do governo venezuelano, além de desmascarar os senadores direitistas, faz cair por terra, tornar inócua, sem efeito algum, a moção aprovada pela Câmara dos Deputados brasileira.
Se a provocação dos senadores aecistas obteve um efêmero resultado no ambiente doméstico, não terá a mesma sorte o objetivo principal visado: a desestabilização ou derrocada do governo revolucionário e chavista de Nicolás Maduro, implicando na aventura, se for possível, o governo e demais instituições de poder do Brasil. Declarações de Aécio Neves e do líder oposicionista venezuelano Henrique Caprilles, que de moderado não tem nada, demonstram que é esta a meta a atingir, a qual, por seu turno, relaciona-se com os interesses estratégicos da oligarquia venezuelana de voltar ao poder, e geopolíticos do imperialismo estadunidense, de golpear e aniquilar a República bolivariana, principal entrave aos planos neocolonialistas na região.
“Do ponto de vista político, dentro do Congresso, vamos fazer as retaliações necessárias [à Venezuela] em defesa da democracia”, disse o senador tucano, anunciando que fará pressão para o governo brasileiro adotar medidas duras contra o país vizinho, acenando mesmo com a abertura de uma frente de luta para excluir a Venezuela do Mercosul e da Unasul. Por seu turno, Caprilles, entrevistado pela Folha de S.Paulo, pede que “Dilma eleve o tom não só sobre o ocorrido [o caso dos senadores], mas sobre tudo o que acontece na Venezuela”. Aqui fica evidente a coordenação dos senadores direitistas brasileiros com ambos os setores da oposição venezuelana e, considerando editoriais publicados neste domingo, têm o invariável apoio da mídia monopolista privada.
Neste aspecto, os planos da direita tendem a fracassar. É improvável que o governo brasileiro vá além das cedências que já fez. Tampouco é plausível que a Câmara e o Senado tenham unanimidade para apoiar, como a Câmara conseguiu no caso da moção aprovada na quinta-feira, uma campanha sistemática junto aos citados mecanismos de integração regional, por maiores que sejam o histrionismo de alguns e o empenho do presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado. Por outro lado, há uma compreensão consolidada no Palácio do Planalto e no Itamaraty sobre o papel da parceria com a Venezuela e da integração latino-americana, essenciais para o projeto nacional de desenvolvimento.
Na Unasul e no Mercosul, como na Celac, não há uma correlação de forças favorável à direita e ao imperialismo. Predominam as visões multilateralistas e democráticas, alheias à hidrofobia e ao entreguismo dos que integraram o fracassado grupo de viajantes.
O fator mais importante, contudo, para fazer fracassar a “diplomacia” contrarrevolucionária dos tucanos, filha bastarda da “diplomacia” dos pés descalços dos tempos em que os tucanos governaram o país, é a posição de resistência e luta do governo venezuelano. Parece que ainda não entenderam por aqui que, mesmo por meios pacíficos (até agora), está em curso na Venezuela uma profunda revolução com acentuado caráter patriótico, democrático e social, que não se deixará capturar nem render pela aliança das forças de direita daqui e de lá.
“Mico do ano”, “patacoada diplomática”, “molecagem”, “palhaçada dos senadores” – estas são algumas das expressões mais amenas com que analistas políticos e internautas caracterizaram a viagem da comitiva de senadores direitistas brasileiros à Venezuela na última quinta-feira (18).
Desde as primeiras tuitadas do grupo, as denúncias de que a comitiva de senadores liderada pelo tucano Aécio Neves estava sendo agredida pelo governo de Caracas, afiguravam-se como falsas. Foi uma espécie de operação de ratazanas, a julgar pela declaração de um deles, de que os senadores teriam caído numa ratoeira. Efetivamente, quem cai em ratoeira, ratazana é.
De qualquer forma, no primeiro momento e tão somente no plano interno, os senadores direitistas brasileiros conseguiram o que pretendiam. Com seu factoide, contaminaram ainda mais o ambiente político, tiveram nas mãos uma bandeira, mesmo que esfarrapada, para o combate sem tréguas que movem contra o governo da presidenta Dilma. Na empreitada, contaram com a solidariedade da Câmara dos Deputados, que aprovou uma moção em contradição com a realidade, do presidente do Senado, que fez uma declaração recheada de bravatas, e acuaram o Itamaraty, que emitiu uma nota contendo críticas veladas ao governo venezuelano e chamou para prestar “explicações” a embaixadora de Caracas no Brasil, o que é, na simbologia diplomática, uma forma de demonstrar “insatisfação” ou “reprovação” à República coirmã.
A viagem tinha um vício de origem. O grupo de senadores não atendia a qualquer convite oficial – do Governo, da Assembleia Nacional, do Poder Eleitoral, do Judiciário, ou mesmo de organização legítima da sociedade civil. Aécio e seus pares viajaram por sua própria conta e risco, com uma pauta de ingerência em assuntos internos e agitação política, com ares de provocação. Foram a convite de familiares de políticos da direita venezuelana que se encontram presos por terem escolhido a delinquência e a violência golpista como forma de luta. Contaram com a cortesia do governo brasileiro que lhes disponibilizou um jato da FAB. Coisas do decantado traço cordial do ser brasileiro, quiçá.
Leopoldo Lopez, Antonio Ledezma e Corina Machado não são presos políticos. Nem personalidades por quem façamos dobrar os nossos sinos ou acender velas. Estão encarcerados sob a acusação de liderar ações violentas contra o Estado, suas forças policiais e a população civil, de que resultaram, durante a intentona golpista do ano passado, 43 mortos e mais de 800 feridos. Aécio Neves e seus colegas têm todo o direito de revelar sua identidade com este tipo de políticos. É sua opção. Mas não deviam ser ingênuos ao ponto de imaginar que a patranha não seria desmascarada.
Mais uma vez coube aos veículos alternativos esclarecer os fatos, destacadamente o blog “O Cafezinho” e os sites “Opera Mundi”, “Brasil 247” e “Vermelho”, que desde a quinta-feira publicaram informações desmentindo os senadores brasileiros.
Na sexta-feira (19), a Chancelaria venezuelana publicou comunicado demonstrando as grandes mentiras difundidas pela comitiva e repetidas pela mídia. A nota do governo venezuelano informava: “A primeira grande mentira midiática foi assinalar falsamente que o governo venezuelano tinha negado permissão de voo à comitiva, quando nem sequer se fez nenhuma solicitação formal”.
“A segunda grande mentira foi responsabilizar o governo venezuelano por obstruir a via principal que liga o aeroporto com a capital do país, quando na realidade um lamentável acidente com uma carreta com substâncias inflamáveis impediu o livre trânsito por aquela estrada, que atrasou inclusive o traslado de um detento de alta segurança expulso pelo governo da Colômbia por sua responsabilidade no assassinato de uma jornalista durante os episódios de terrorismo no ano passado”.
“A terceira grande mentira foi afirmar que a segurança e a integridade física desses senadores da direita brasileira estiveram comprometidas. Existe material audiovisual e fotográfico que mostra a interação dos senadores com ativistas políticos que se encontravam realizando ações de campanha eleitoral. O governo venezuelano disponibilizou um dispositivo especial de segurança formado por mais de 30 efetivos motorizados, patrulhas e corpos de segurança que acompanharam durante todo o tempo esse grupo, tal como se combinou com a embaixada da República Federativa do Brasil”.
A posição do governo venezuelano, além de desmascarar os senadores direitistas, faz cair por terra, tornar inócua, sem efeito algum, a moção aprovada pela Câmara dos Deputados brasileira.
Se a provocação dos senadores aecistas obteve um efêmero resultado no ambiente doméstico, não terá a mesma sorte o objetivo principal visado: a desestabilização ou derrocada do governo revolucionário e chavista de Nicolás Maduro, implicando na aventura, se for possível, o governo e demais instituições de poder do Brasil. Declarações de Aécio Neves e do líder oposicionista venezuelano Henrique Caprilles, que de moderado não tem nada, demonstram que é esta a meta a atingir, a qual, por seu turno, relaciona-se com os interesses estratégicos da oligarquia venezuelana de voltar ao poder, e geopolíticos do imperialismo estadunidense, de golpear e aniquilar a República bolivariana, principal entrave aos planos neocolonialistas na região.
“Do ponto de vista político, dentro do Congresso, vamos fazer as retaliações necessárias [à Venezuela] em defesa da democracia”, disse o senador tucano, anunciando que fará pressão para o governo brasileiro adotar medidas duras contra o país vizinho, acenando mesmo com a abertura de uma frente de luta para excluir a Venezuela do Mercosul e da Unasul. Por seu turno, Caprilles, entrevistado pela Folha de S.Paulo, pede que “Dilma eleve o tom não só sobre o ocorrido [o caso dos senadores], mas sobre tudo o que acontece na Venezuela”. Aqui fica evidente a coordenação dos senadores direitistas brasileiros com ambos os setores da oposição venezuelana e, considerando editoriais publicados neste domingo, têm o invariável apoio da mídia monopolista privada.
Neste aspecto, os planos da direita tendem a fracassar. É improvável que o governo brasileiro vá além das cedências que já fez. Tampouco é plausível que a Câmara e o Senado tenham unanimidade para apoiar, como a Câmara conseguiu no caso da moção aprovada na quinta-feira, uma campanha sistemática junto aos citados mecanismos de integração regional, por maiores que sejam o histrionismo de alguns e o empenho do presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado. Por outro lado, há uma compreensão consolidada no Palácio do Planalto e no Itamaraty sobre o papel da parceria com a Venezuela e da integração latino-americana, essenciais para o projeto nacional de desenvolvimento.
Na Unasul e no Mercosul, como na Celac, não há uma correlação de forças favorável à direita e ao imperialismo. Predominam as visões multilateralistas e democráticas, alheias à hidrofobia e ao entreguismo dos que integraram o fracassado grupo de viajantes.
O fator mais importante, contudo, para fazer fracassar a “diplomacia” contrarrevolucionária dos tucanos, filha bastarda da “diplomacia” dos pés descalços dos tempos em que os tucanos governaram o país, é a posição de resistência e luta do governo venezuelano. Parece que ainda não entenderam por aqui que, mesmo por meios pacíficos (até agora), está em curso na Venezuela uma profunda revolução com acentuado caráter patriótico, democrático e social, que não se deixará capturar nem render pela aliança das forças de direita daqui e de lá.
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