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O fim de semana mostrou novo esforço dos principais diários de circulação nacional para consolidar seu crescimento no mercado que sempre pertenceu às revistas de informação. Veja, Época e IstoÉ formam um trio de publicações previsíveis, com capas que poderiam compartilhar o mesmo logotipo, e CartaCapital se ressente do baixo poder de fogo para reportagens mais alentadas mas se destaca por oferecer opiniões mais diversificadas do que suas concorrentes.
Os jornais claramente canibalizam o mercado das revistas. Com sua força de trabalho reduzida e funcionando à base de plantonistas nos fins de semana, os jornais têm de decidir entre uma agenda menor, com mais profundidade, e cobrir um leque mais amplo de assuntos, com a consequente superficialidade.
Como foi oficialmente declarado, semana passada, pela Associação Mundial de Jornais e Editores, os diários estão optando por dedicar suas páginas a um conteúdo mais denso – mas menos abrangente – e usar as telas para tentar cobrir o que não couber no papel. Como isso não pode ser feito no dia a dia, pratica-se o novo modelo nos fins de semana, o que afeta o mercado de revistas.
Mas a orientação vertical impõe a mesma visão de mundo a praticamente toda a mídia tradicional. O leitor que pode ler três jornais e três revistas no fim de semana – se não tiver em mãos a CartaCapital, que costuma oferecer uma visão diferenciada da política e da economia – pode imaginar que está manipulando apenas um título, tal a homogeneidade das abordagens.
Ainda assim, para quem deseja mais do que puro entretenimento, os diários já competem, numa relação custo-benefício, com as revistas que chegam aos leitores na sexta-feira ou no sábado.
No domingo (7/6), O Globo investiu num levantamento feito em dados do Tribunal Superior Eleitoral para informar que mais de 60% dos governantes nas três instâncias da República foram reeleitos desde 1998. O Estado de S. Paulo observa que a disputa com o Planalto torna a Câmara dos Deputados mais ativa, e faz uma radiografia da “crise de identidade” do PSDB. Já a Folha de S. Paulo alerta que o Brasil discute a redução da maioridade sem ter dados para fundamentar o debate.
Estratégias sem fundamento
A reportagem do Globo tenta oferecer uma análise equilibrada entre o uso do poder pelos detentores de cargos executivos para se reeleger e o problema criado com a descontinuidade de governos eficientes, mas afetados por circunstâncias negativas que podem definir o resultado das urnas. Faltou falar da influência da própria mídia, que pode levar muitos eleitores a determinar a interrupção de projetos importantes que demandam mais do que um mandato para amadurecer.
O Estado de S. Paulo apresenta um balanço curioso da produtividade da Câmara dos Deputados, cujo presidente, Eduardo Cunha, se confronta com o poder Executivo e, com seu protagonismo, acaba acelerando a agenda do Parlamento, para o bem e para o mal. O diário paulista tem o cuidado de observar que algumas votações da Câmara, nessa intensa atividade, produzem decisões que juristas consideram inconstitucionais, como a regulamentação de doações eleitorais de empresas.
A Folha de S. Paulo oferece a seus leitores um ponto instigante para reflexão, ao destacar que o debate sobre a redução da maioridade penal, movido pela decisão do presidente da Câmara de levar a votação um projeto que tramita há mais de dez anos, é desautorizado pela falta de estatísticas oficiais que fundamentem as diversas opiniões a respeito. O jornal informa que o governo federal usa dados atribuídos ao Fórum Brasileiro de Segurança Pública para afirmar que apenas 0,5% dos crimes de homicídio são de autoria de menores de 18 anos. No entanto, a entidade negou ter produzido esse indicador.
Então, os repórteres dedicaram dois meses, entre outras tarefas, a garimpar os dados regionais, para compor um mapa nacional da violência associada à delinquência juvenil. Mas nas unidades da Federação os números são imprecisos e não permitem formar um quadro conclusivo sobre o tema. Mesmo São Paulo e Rio de Janeiro, dois dos Estados mais populosos do Brasil, não fizeram esse levantamento nos últimos dez anos.
A pergunta que não quer calar: como a imprensa pode levar a sério as estratégias de segurança dos governos estaduais, se eles não possuem essas estatísticas básicas? A conclusão que o leitor tira: as opiniões são formadas pela visão de mundo de cada um, influenciada por aquilo que o cidadão lê por aí, ouve no rádio ou assiste na televisão.
Você é a informação que você consome.
Os jornais claramente canibalizam o mercado das revistas. Com sua força de trabalho reduzida e funcionando à base de plantonistas nos fins de semana, os jornais têm de decidir entre uma agenda menor, com mais profundidade, e cobrir um leque mais amplo de assuntos, com a consequente superficialidade.
Como foi oficialmente declarado, semana passada, pela Associação Mundial de Jornais e Editores, os diários estão optando por dedicar suas páginas a um conteúdo mais denso – mas menos abrangente – e usar as telas para tentar cobrir o que não couber no papel. Como isso não pode ser feito no dia a dia, pratica-se o novo modelo nos fins de semana, o que afeta o mercado de revistas.
Mas a orientação vertical impõe a mesma visão de mundo a praticamente toda a mídia tradicional. O leitor que pode ler três jornais e três revistas no fim de semana – se não tiver em mãos a CartaCapital, que costuma oferecer uma visão diferenciada da política e da economia – pode imaginar que está manipulando apenas um título, tal a homogeneidade das abordagens.
Ainda assim, para quem deseja mais do que puro entretenimento, os diários já competem, numa relação custo-benefício, com as revistas que chegam aos leitores na sexta-feira ou no sábado.
No domingo (7/6), O Globo investiu num levantamento feito em dados do Tribunal Superior Eleitoral para informar que mais de 60% dos governantes nas três instâncias da República foram reeleitos desde 1998. O Estado de S. Paulo observa que a disputa com o Planalto torna a Câmara dos Deputados mais ativa, e faz uma radiografia da “crise de identidade” do PSDB. Já a Folha de S. Paulo alerta que o Brasil discute a redução da maioridade sem ter dados para fundamentar o debate.
Estratégias sem fundamento
A reportagem do Globo tenta oferecer uma análise equilibrada entre o uso do poder pelos detentores de cargos executivos para se reeleger e o problema criado com a descontinuidade de governos eficientes, mas afetados por circunstâncias negativas que podem definir o resultado das urnas. Faltou falar da influência da própria mídia, que pode levar muitos eleitores a determinar a interrupção de projetos importantes que demandam mais do que um mandato para amadurecer.
O Estado de S. Paulo apresenta um balanço curioso da produtividade da Câmara dos Deputados, cujo presidente, Eduardo Cunha, se confronta com o poder Executivo e, com seu protagonismo, acaba acelerando a agenda do Parlamento, para o bem e para o mal. O diário paulista tem o cuidado de observar que algumas votações da Câmara, nessa intensa atividade, produzem decisões que juristas consideram inconstitucionais, como a regulamentação de doações eleitorais de empresas.
A Folha de S. Paulo oferece a seus leitores um ponto instigante para reflexão, ao destacar que o debate sobre a redução da maioridade penal, movido pela decisão do presidente da Câmara de levar a votação um projeto que tramita há mais de dez anos, é desautorizado pela falta de estatísticas oficiais que fundamentem as diversas opiniões a respeito. O jornal informa que o governo federal usa dados atribuídos ao Fórum Brasileiro de Segurança Pública para afirmar que apenas 0,5% dos crimes de homicídio são de autoria de menores de 18 anos. No entanto, a entidade negou ter produzido esse indicador.
Então, os repórteres dedicaram dois meses, entre outras tarefas, a garimpar os dados regionais, para compor um mapa nacional da violência associada à delinquência juvenil. Mas nas unidades da Federação os números são imprecisos e não permitem formar um quadro conclusivo sobre o tema. Mesmo São Paulo e Rio de Janeiro, dois dos Estados mais populosos do Brasil, não fizeram esse levantamento nos últimos dez anos.
A pergunta que não quer calar: como a imprensa pode levar a sério as estratégias de segurança dos governos estaduais, se eles não possuem essas estatísticas básicas? A conclusão que o leitor tira: as opiniões são formadas pela visão de mundo de cada um, influenciada por aquilo que o cidadão lê por aí, ouve no rádio ou assiste na televisão.
Você é a informação que você consome.
Sou assinante de carta capital com muito orgulho a dez anos.
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