terça-feira, 9 de junho de 2015

Ombudsman errou: Folha já é dispensável

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Por Altamiro Borges

A coluna desse domingo (7) da ombudswoman da Folha, Vera Guimarães Martins, gerou polêmica na internet e deve ter incomodado a famiglia Frias. Ao tratar dos “desafios do jornal enxuto”, impactada pela “reformulação” – nome pomposo para as cruéis demissões – promovida pela direção da empresa em abril, a jornalista procura reanimar os decepcionados leitores do decadente diário. O esforço é grande, mas o resultado é pífio. Ela até tenta justificar as medidas de enxugamento e aposta que elas não tornarão o jornal ainda mais dispensável. Nisto, a ombudswoman incorre num grave erro: a Folha já é dispensável para milhares de ex-leitores e para outros que trilham o mesmo caminho.

Vera Guimarães chega a publicar mensagens indignadas dos velhos leitores. "'Gostaria de manifestar meu descontentamento com os rumos que a Folha vem tomando. Paulatinamente, a versão impressa vem sendo esvaziada, seja pela migração de reportagens para a versão eletrônica, seja pela perda de articulistas e de cadernos interessantes', escreveu Maria Clara Noronha de Ávila Ribeiro, assinante há 15 anos. 'Vejo a Folha na UTI, em estado terminal, fininha e definhando a cada dia. É de dar pena e sinto-me lesado, pois ela perde de lavada se comparada com a concorrência impressa’, descreveu Waldyr Pena, engenheiro agrônomo de Avaré, assinante há mais de 25 anos".

Apesar das críticas dos leitores ainda existentes, a ombudswoman garante que a Folha não vai acabar. “Mesmo num cenário mundial de perda de assinantes e anunciantes, o impresso ainda é a joia da coroa em faturamento e prestígio, e esse status é lembrado com frequência à Redação”. Mas ela não demonstra tanta segurança com esta tese ao afirmar que “a cada mudança, o jornal encolhe um pouco mais, dando gás à imagem de esvaziamento paulatino”. Num esforço retórico compreensível, ela até concorda que a migração para o mundo digital afeta duramente o jornalão de papel, mas ainda resiste brava e impotentemente a esta tendência:

“Não consta que [a migração] seja para tão já. Nem é certo que venha a coroar a morte do impresso. É mais provável que ele continue vivo, servindo a um leitorado menor, que quer ir além da balbúrdia da internet e busca conteúdo selecionado, com menos assuntos, mas maior profundidade, consistência noticiosa e muita análise”. Daí decorre exatamente o grave dilema da Folha – e também do Estadão, do Globo e de outros jornalões que se transformaram em partidos políticos, reduziram drasticamente a sua qualidade jornalística, demitiram e precarizaram os seus profissionais e perderam credibilidade junto ao "leitorado".

O problema destes veículos não deriva apenas da explosão da internet, da migração de milhares de leitores – principalmente dos jovens – para o mundo digital. Ele decorre também da “crise moral” da mídia tradicional, como sempre insiste o sociólogo Emir Sader. A própria Vera Guimarães reconhece a perda de qualidade dos jornais ao afirmar que “só a redução do conteúdo está em vigor”. Daí a sua inquietação: “Se continuar como está ou não for eficiente na transição da cobertura, a Folha será enxuta, mas corre o risco de ficar cada vez mais dispensável”. Errou: ela já é dispensável!

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