Por Breno Altman, em seu blog:
A percepção de muitos observadores e participantes, finalizado o V Congresso, é que nada mudou no Partido dos Trabalhadores.
Quem assim conclui, registra alguns fatos inquestionáveis: não houve alteração em seu núcleo dirigente, o partido continua prestando apoio à política econômica do governo, o sistema de alianças não foi revisto e a forma de eleições internas permanece essencialmente intacta.
Mas este diagnóstico de paralisia é versão superficial dos fatos.
A situação tem características mais originais e perigosas: o PT, desde 2013, com idas e vindas, vem trilhando elaboração estratégica que colide com decisões práticas para a ação política.
Diversas resoluções partidárias, especialmente depois das eleições presidenciais de 2014, identificam o esgotamento do modelo econômico marcado por políticas distributivas sem reformas estruturais, pregam por estratégia de mobilização como fator de governabilidade e apontam para uma nova política de alianças que tenha como núcleo os setores mais progressistas.
Vão até mais longe, como é o caso do principal documento aprovado no V Congresso, que desenha programa com medidas para tributação e enfraquecimento do capital rentista, além de outras reformas contra a concentração da riqueza, da terra, do direito de comunicação, do poder político e das oportunidades de ascensão social.
A questão é que este ponto de vista não encontra guarida nas opções adotadas pelo governo Dilma em seu segundo mandato, colidentes com as diretrizes partidárias.
A maioria dos delegados petistas, porém, no debate mais importante do congresso, resolveu negar qualquer crítica pública ao ajuste fiscal, fortemente rejeitado na base petista e publicamente rechaçado pelas principais lideranças sindicais do partido.
Apesar da contradição com a política econômica, suficientemente aguda para seus poucos defensores preferirem se resguardar, o PT decidiu se abster, por ora, de ter opinião clara e própria sobre tema tão crucial.
O que prevaleceu foi a noção de que o partido deve obediência ao governo e faz votos de silêncio mesmo quando a presidente toma decisões relevantes sem qualquer consulta efetiva à legenda.
O leninismo forjou a ideia do partido como vanguarda da sociedade e do Estado. O petismo inventou, sem nominar aquilo que é inominável, o partido de retaguarda, conforme expressão cunhada por Valter Pomar.
Pode-se discutir o futuro à vontade, até mesmo com uma releitura do passado e do presente, como está esboçado na Carta de Salvador, desde que preservada a clausula pétrea segundo a qual o PT é braço político e parlamentar do governo de coalizão.
Todos os demais partidos da aliança podem disputar publicamente suas posições, pressionar e negociar seus pontos de vista. O PT, no entanto, está auto-circunscrito a funcionar como apêndice do ministério.
Ao aceitar tal cerceamento, o partido deixa a esquerda sem vez e voz, particularmente em um tabuleiro dominado por forças conservadoras, da política e do mercado, diante das quais o governo Dilma decidiu ceder para sobreviver.
Este desequilíbrio político, provocado pela anorexia da principal agremiação progressista, debilita o governo ao invés de protegê-lo, abre espaços crescentes para a consolidação da hegemonia conservadora, dissemina desânimo no campo de esquerda, dificulta a atração do centro democrático e facilita a preponderância da pressão de direita.
Além disso, a dissociação entre estratégia e política concreta, estabelecida pela maioria dos delegados, pode inutilizar textos como a Carta de Salvador, eventualmente capazes de alinhavar um novo campo de ideias.
Quanto mais se avança na renovação estratégica, sem consolida-la na disputa presente e efetiva de rumos, menor a credibilidade da linha aprovada e maior a confusão política que se instaura.
Para que se restabeleça discurso coerente e efetivo, o PT teria de harmonizar sua tática aos escritos sobre o futuro, ou vice-versa, sob o risco de seus documentos se decomporem como peça de publicidade enganosa.
O V Congresso foi, no entanto, incapaz de resolver este dilema. Impôs-se, na prática, a concepção passiva de que o PT somente deveria tentar recuperar protagonismo quando o governo tiver resolvido os objetivos fixados pelo ajuste fiscal.
O grande problema é que, como está insinuado na Carta de Salvador, políticas de austeridade são longevas, dilacerantes dos direitos da classe trabalhadora, desorganizadoras do desenvolvimento nacional e concentradoras de renda nas mãos do capital financeiro.
Com um pé na renovação estratégica e outro na subordinação incondicional a um governo no qual não é mais força dirigente, o PT perambula por um complexo labirinto, empurrado pela radicalização de sua base social e puxado por uma lógica de governabilidade que lhe virou as costas.
Quem assim conclui, registra alguns fatos inquestionáveis: não houve alteração em seu núcleo dirigente, o partido continua prestando apoio à política econômica do governo, o sistema de alianças não foi revisto e a forma de eleições internas permanece essencialmente intacta.
Mas este diagnóstico de paralisia é versão superficial dos fatos.
A situação tem características mais originais e perigosas: o PT, desde 2013, com idas e vindas, vem trilhando elaboração estratégica que colide com decisões práticas para a ação política.
Diversas resoluções partidárias, especialmente depois das eleições presidenciais de 2014, identificam o esgotamento do modelo econômico marcado por políticas distributivas sem reformas estruturais, pregam por estratégia de mobilização como fator de governabilidade e apontam para uma nova política de alianças que tenha como núcleo os setores mais progressistas.
Vão até mais longe, como é o caso do principal documento aprovado no V Congresso, que desenha programa com medidas para tributação e enfraquecimento do capital rentista, além de outras reformas contra a concentração da riqueza, da terra, do direito de comunicação, do poder político e das oportunidades de ascensão social.
A questão é que este ponto de vista não encontra guarida nas opções adotadas pelo governo Dilma em seu segundo mandato, colidentes com as diretrizes partidárias.
A maioria dos delegados petistas, porém, no debate mais importante do congresso, resolveu negar qualquer crítica pública ao ajuste fiscal, fortemente rejeitado na base petista e publicamente rechaçado pelas principais lideranças sindicais do partido.
Apesar da contradição com a política econômica, suficientemente aguda para seus poucos defensores preferirem se resguardar, o PT decidiu se abster, por ora, de ter opinião clara e própria sobre tema tão crucial.
O que prevaleceu foi a noção de que o partido deve obediência ao governo e faz votos de silêncio mesmo quando a presidente toma decisões relevantes sem qualquer consulta efetiva à legenda.
O leninismo forjou a ideia do partido como vanguarda da sociedade e do Estado. O petismo inventou, sem nominar aquilo que é inominável, o partido de retaguarda, conforme expressão cunhada por Valter Pomar.
Pode-se discutir o futuro à vontade, até mesmo com uma releitura do passado e do presente, como está esboçado na Carta de Salvador, desde que preservada a clausula pétrea segundo a qual o PT é braço político e parlamentar do governo de coalizão.
Todos os demais partidos da aliança podem disputar publicamente suas posições, pressionar e negociar seus pontos de vista. O PT, no entanto, está auto-circunscrito a funcionar como apêndice do ministério.
Ao aceitar tal cerceamento, o partido deixa a esquerda sem vez e voz, particularmente em um tabuleiro dominado por forças conservadoras, da política e do mercado, diante das quais o governo Dilma decidiu ceder para sobreviver.
Este desequilíbrio político, provocado pela anorexia da principal agremiação progressista, debilita o governo ao invés de protegê-lo, abre espaços crescentes para a consolidação da hegemonia conservadora, dissemina desânimo no campo de esquerda, dificulta a atração do centro democrático e facilita a preponderância da pressão de direita.
Além disso, a dissociação entre estratégia e política concreta, estabelecida pela maioria dos delegados, pode inutilizar textos como a Carta de Salvador, eventualmente capazes de alinhavar um novo campo de ideias.
Quanto mais se avança na renovação estratégica, sem consolida-la na disputa presente e efetiva de rumos, menor a credibilidade da linha aprovada e maior a confusão política que se instaura.
Para que se restabeleça discurso coerente e efetivo, o PT teria de harmonizar sua tática aos escritos sobre o futuro, ou vice-versa, sob o risco de seus documentos se decomporem como peça de publicidade enganosa.
O V Congresso foi, no entanto, incapaz de resolver este dilema. Impôs-se, na prática, a concepção passiva de que o PT somente deveria tentar recuperar protagonismo quando o governo tiver resolvido os objetivos fixados pelo ajuste fiscal.
O grande problema é que, como está insinuado na Carta de Salvador, políticas de austeridade são longevas, dilacerantes dos direitos da classe trabalhadora, desorganizadoras do desenvolvimento nacional e concentradoras de renda nas mãos do capital financeiro.
Com um pé na renovação estratégica e outro na subordinação incondicional a um governo no qual não é mais força dirigente, o PT perambula por um complexo labirinto, empurrado pela radicalização de sua base social e puxado por uma lógica de governabilidade que lhe virou as costas.
ResponderExcluir[... E TEM MAIS 'PEDALEIROS NO TCU']
(...)
O discursos oposicionista também contaminou, dias antes do início da Copa, o presidente do TCU, ministro Augusto Nardes. Em entrevistas, Nardes havia afirmado que o Brasil ia passar “vergonha” porque havia cidades que não estavam preparadas para receber os cidadãos.
Augusto Nardes começou a carreira política em 1973, como vereador, pela extinta Arena. Desde então, foi deputado estadual pelo PDS, deputado federal pelo PPR, depois pelo PPB e pelo PP. Renunciou ao cargo em 2005 para assumir o cargo no TCU.
Dos nove ministros do tribunal, três deles vieram do DEM, um do PSDB e dois são íntimos de parlamentares do PMDB (próximos da ala de Pedro Simon). Um dos ministros foi indicação do PP. Outros dois têm procedência de carreira técnica.
O ex-presidente do tribunal Ubiratan Aguiar era ninguém menos do que um ex-deputado do PSDB do Ceará, próximo ao ex-senador Tasso Jereissati. Além de José Jorge, o ministro do TCU Aroldo Cedraz, da bancada de ACM, também é originário do DEM. Atualmente, o TCU ganhou uma nova integrante, a ministra Ana Arraes, mãe do governador Eduardo Campos (PSB).
Por conspícua jornalista Helena Sthephanowitz
Em 'Procedência partidária de ministros põe em xeque isenção do TCU'
publicado 16/07/2014 16:41
FONTE [LÍMPIDA!]: http://www.redebrasilatual.com.br/blogs/helena/2014/07/tcu-aparelhado-pela-oposicao-quer-investigar-agora-o-que-nao-fez-em-2011-1374.html'