Por Dandara Lima, no site da UJS:
O Brasil é campeão em índices de violência contra a população LGBT. A cada hora um LGBT sofre algum tipo de violência no Brasil. Nos últimos quatro anos, o número de denúncias ligadas à homofobia cresceu 460%. Segundo dados do Disque 100, da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDHPR), foram registrados 1.159 casos em 2011. Em 2014, em um levantamento até outubro, os episódios de preconceito contra gays, lésbicas, travestis e transexuais superaram a marca de 6,5 mil denúncias. Os jovens são as principais vítimas dos atos violentos e representam 33% do total das ocorrências.
Também lideramos o ranking de assassinatos de transexuais. Segundo relatório da ONG internacional Transgender Europe, o Brasil, entre janeiro de 2008 e abril de 2013, teve 486 mortes de transexuais, quatro vezes a mais que no México, segundo país com mais casos registrados. E de acordo com o ranking mundial feito pela Associação Internacional de Gays e Lésbicas, em inglês, International Lesbian and Gay Association (ILGA), o Brasil foi responsável por 44% das mortes de LGBTs em todo o mundo.
Infelizmente esse quadro não representa muita coisa para diversos setores. A bancada fundamentalista convencida que vivemos em uma Ditadura Gay (ou por ódio mesmo), lançou uma campanha contra “ideologia de gênero” e conseguiu tirar a questão de gênero do PNE (Plano Nacional de Educação) e dos planos estaduais. A questão de gênero nos planos de educação não ia acabar com a “família tradicional brasileira” nem com a “moral e os bons costumes”, ela ia introduzir o debate sobre gênero e diversidade sexual nas escolas e na formação dos professores para diminuir a intolerância e os índices de violência.
Essa bancada tem vencido cada batalha dessa Cruzada 2.0. Na aprovação da medida provisória (MP) 668, referente ao pacote de ajuste fiscal, parlamentares incluíram no texto final trecho que proíbe o recolhimento de imposto previdenciário do salário de padres e pastores e anistia igrejas de multas aplicadas pela Receita Federal. Mais de 170 igrejas serão beneficiadas, a dívida de algumas delas chega a R$ 200 milhões.
Um dos líderes dessa trupe é o pastor Silas Malafaia, uma criatura que se não fosse perigosa, seria um excelente comediante. Ele é responsável por diversas campanhas de ódio contra a população LGBT e praticantes de religiões de matriz africana. O episódio mais recente foi o boicote ao O Boticário devido a uma propaganda do Dia dos Namorados que mostrava casais se abraçando. O boicote acabou beneficiando a marca, que bateu recordes de vendas.
Em meio a esse cenário tenebroso a comunidade LGBT e outros setores que apoiam os direitos igualitários tiveram um dia de recesso na sexta-feira (26).
O Facebook, empresa estadunidense, liberou um recurso que coloria a foto do perfil dos usuários com as cores da bandeira LGBT para comemorar a legalização do casamento civil igualitário dos Estados Unidos. E foi uma explosão de arco-íris pela rede com a tag #LoveWins.
Empresas, instituições públicas, movimentos sociais, políticos e várias pessoas mudaram a foto para o “Celebrate Pride”, dois dias antes do Dia Mundial do Orgulho LGBT. O site do pastor Silas Malafaia foi hackeado, fizeram uma montagem com fotos do Bolsonaro, Malafaia, Feliciano, Eduardo Cunha, Raquel Sheherazade, Danilo Gentili e Aécio Neves com o fundo arco-íris e tocando YMCA (veja o vídeo aqui).
Apesar de que no Brasil o casamento civil igualitário já é permitido, mas não é lei. Em 2011 o STF (Supremo Tribunal Federal) em decisão unânime (nos EUA foram 5 votos a 4) reconheceu a equiparação da união homossexual à heterossexual. No entender do Supremo, casais gays devem desfrutar de direitos semelhantes aos de pares heterossexuais, como pensões, aposentadorias e inclusão em planos de saúde. Os homossexuais que tentarem a adoção devem acabar apelando à Justiça.
Dois anos depois, o CNJ (Conselho Nacional de Justiça) decidiu que os cartórios brasileiros fossem obrigados a celebrar o casamento entre pessoas do mesmo sexo, e nem se recusar a converter união estável homoafetiva em casamento.
A explosão de arco-íris na rede foi uma provocação divertida, já que para os setores conservadores brasileiros os EUA são referência para quase tudo. Outros países também fizeram parte da comemoração #LoveWins e iluminaram seus monumentos históricos com as cores da bandeira LGBT. O 26 de junho foi um dia difícil no quartel das “inimigas”.
No entanto, o arco-íris virtual e a alegria alheia incomodaram muito. Uma imagem de uma criança negra subnutrida com os filtros coloridos, perguntando quando iríamos fazer campanha contra a fome, viralizou na rede. O mais engraçado dessa provocação hipócrita é que ela veio de pessoas que gostam de vomitar “não pode dar o peixe, tem que ensinar a pescar”, “bolsa família sustenta vagabundo”, além das manifestações xenófobas e racistas contra os hatianos que vieram para o Brasil.
Outra crítica sobre a campanha pontuava que no Brasil o casamento civil igualitário já era reconhecido e que não fazia sentido comemorar algo que veio dos Estados Unidos. Mas ficou a dúvida, enquanto militantes de esquerda, nós somos contra a política de estado imperialista dos Estados Unidos ou somos contra o povo estadunidense? A conquista do casamento civil igualitário por lá veio de anos de luta da comunidade LGBT estadunidense.
Muitos também reivindicaram o direito hipster de não seguir “modinhas”. Eu fiquei pensando, imagina que louco seria se realmente vira moda defender pautas LGBT, feminista e do movimento negro? Imagina se vira moda defender direitos humanos e ser aliado de minorias? Será que quando essa moda pegar eu vou poder sair de casa sem ter medo de ser estuprada?
O Brasil é campeão em índices de violência contra a população LGBT. A cada hora um LGBT sofre algum tipo de violência no Brasil. Nos últimos quatro anos, o número de denúncias ligadas à homofobia cresceu 460%. Segundo dados do Disque 100, da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDHPR), foram registrados 1.159 casos em 2011. Em 2014, em um levantamento até outubro, os episódios de preconceito contra gays, lésbicas, travestis e transexuais superaram a marca de 6,5 mil denúncias. Os jovens são as principais vítimas dos atos violentos e representam 33% do total das ocorrências.
Também lideramos o ranking de assassinatos de transexuais. Segundo relatório da ONG internacional Transgender Europe, o Brasil, entre janeiro de 2008 e abril de 2013, teve 486 mortes de transexuais, quatro vezes a mais que no México, segundo país com mais casos registrados. E de acordo com o ranking mundial feito pela Associação Internacional de Gays e Lésbicas, em inglês, International Lesbian and Gay Association (ILGA), o Brasil foi responsável por 44% das mortes de LGBTs em todo o mundo.
Infelizmente esse quadro não representa muita coisa para diversos setores. A bancada fundamentalista convencida que vivemos em uma Ditadura Gay (ou por ódio mesmo), lançou uma campanha contra “ideologia de gênero” e conseguiu tirar a questão de gênero do PNE (Plano Nacional de Educação) e dos planos estaduais. A questão de gênero nos planos de educação não ia acabar com a “família tradicional brasileira” nem com a “moral e os bons costumes”, ela ia introduzir o debate sobre gênero e diversidade sexual nas escolas e na formação dos professores para diminuir a intolerância e os índices de violência.
Essa bancada tem vencido cada batalha dessa Cruzada 2.0. Na aprovação da medida provisória (MP) 668, referente ao pacote de ajuste fiscal, parlamentares incluíram no texto final trecho que proíbe o recolhimento de imposto previdenciário do salário de padres e pastores e anistia igrejas de multas aplicadas pela Receita Federal. Mais de 170 igrejas serão beneficiadas, a dívida de algumas delas chega a R$ 200 milhões.
Um dos líderes dessa trupe é o pastor Silas Malafaia, uma criatura que se não fosse perigosa, seria um excelente comediante. Ele é responsável por diversas campanhas de ódio contra a população LGBT e praticantes de religiões de matriz africana. O episódio mais recente foi o boicote ao O Boticário devido a uma propaganda do Dia dos Namorados que mostrava casais se abraçando. O boicote acabou beneficiando a marca, que bateu recordes de vendas.
Em meio a esse cenário tenebroso a comunidade LGBT e outros setores que apoiam os direitos igualitários tiveram um dia de recesso na sexta-feira (26).
O Facebook, empresa estadunidense, liberou um recurso que coloria a foto do perfil dos usuários com as cores da bandeira LGBT para comemorar a legalização do casamento civil igualitário dos Estados Unidos. E foi uma explosão de arco-íris pela rede com a tag #LoveWins.
Empresas, instituições públicas, movimentos sociais, políticos e várias pessoas mudaram a foto para o “Celebrate Pride”, dois dias antes do Dia Mundial do Orgulho LGBT. O site do pastor Silas Malafaia foi hackeado, fizeram uma montagem com fotos do Bolsonaro, Malafaia, Feliciano, Eduardo Cunha, Raquel Sheherazade, Danilo Gentili e Aécio Neves com o fundo arco-íris e tocando YMCA (veja o vídeo aqui).
Apesar de que no Brasil o casamento civil igualitário já é permitido, mas não é lei. Em 2011 o STF (Supremo Tribunal Federal) em decisão unânime (nos EUA foram 5 votos a 4) reconheceu a equiparação da união homossexual à heterossexual. No entender do Supremo, casais gays devem desfrutar de direitos semelhantes aos de pares heterossexuais, como pensões, aposentadorias e inclusão em planos de saúde. Os homossexuais que tentarem a adoção devem acabar apelando à Justiça.
Dois anos depois, o CNJ (Conselho Nacional de Justiça) decidiu que os cartórios brasileiros fossem obrigados a celebrar o casamento entre pessoas do mesmo sexo, e nem se recusar a converter união estável homoafetiva em casamento.
A explosão de arco-íris na rede foi uma provocação divertida, já que para os setores conservadores brasileiros os EUA são referência para quase tudo. Outros países também fizeram parte da comemoração #LoveWins e iluminaram seus monumentos históricos com as cores da bandeira LGBT. O 26 de junho foi um dia difícil no quartel das “inimigas”.
No entanto, o arco-íris virtual e a alegria alheia incomodaram muito. Uma imagem de uma criança negra subnutrida com os filtros coloridos, perguntando quando iríamos fazer campanha contra a fome, viralizou na rede. O mais engraçado dessa provocação hipócrita é que ela veio de pessoas que gostam de vomitar “não pode dar o peixe, tem que ensinar a pescar”, “bolsa família sustenta vagabundo”, além das manifestações xenófobas e racistas contra os hatianos que vieram para o Brasil.
Outra crítica sobre a campanha pontuava que no Brasil o casamento civil igualitário já era reconhecido e que não fazia sentido comemorar algo que veio dos Estados Unidos. Mas ficou a dúvida, enquanto militantes de esquerda, nós somos contra a política de estado imperialista dos Estados Unidos ou somos contra o povo estadunidense? A conquista do casamento civil igualitário por lá veio de anos de luta da comunidade LGBT estadunidense.
Muitos também reivindicaram o direito hipster de não seguir “modinhas”. Eu fiquei pensando, imagina que louco seria se realmente vira moda defender pautas LGBT, feminista e do movimento negro? Imagina se vira moda defender direitos humanos e ser aliado de minorias? Será que quando essa moda pegar eu vou poder sair de casa sem ter medo de ser estuprada?
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