segunda-feira, 13 de julho de 2015

Brasil e Equador: semelhanças golpistas


Por Altamiro Borges

Nem bem o papa Francisco deixou o Equador e as marchas de setores golpistas pelo impeachment do presidente Rafael Correa voltaram a ocupar as ruas de Quito e Guayaquil na quinta-feira (9). Com o apoio ostensivo da mídia privada e de políticos da velha oligarquia, os manifestantes berraram "Fora Correa" e "O Equador não é a Venezuela". O motivo principal dos protestos foi o projeto apresentado pelo governo que eleva em até 77% dos impostos sobre grandes heranças. A iniciativa desagradou as elites, refratárias a qualquer tributação, e agitou os setores médios que servem de massa de manobra.

Segundo relato de Sylvia Colombo, da Folha, "desde o princípio de junho, manifestações reunindo principalmente setores da classe média têm ocorrido com frequência nas principais cidades do país. A maior delas ocorreu no último dia 25, em Guayaquil, reunindo 400 mil pessoas". Na ocasião, houve confrontos com a polícia, que resultaram em 22 feridos e 37 detenções. "As convocações para os protestos foram inicialmente feitas por anônimos por meio das redes sociais. Agora, ganharam apoio aberto de políticos de oposição, que saem à frente em passeatas", descreve o texto nada imparcial.

Em recente pronunciamento, Rafael Correa afirmou que o país assiste a um "golpe de Estado suave", que envolve a oligarquia derrotada nas urnas, setores da mídia privada e organizações com notórios vínculos com entidades de direita dos EUA. Ele contestou a badalada "espontaneidade" das marchas e garantiu que está em curso uma ofensiva para derrubar o governo democraticamente eleito pelos equatorianos. Num esforço de diálogo, o presidente até retirou o projeto que eleva a tributação dos ricaços. Seu recuo, porém, não sensibilizou os golpistas, que voltaram às ruas após a visita do papa.

Direita financiada pelo Pentágono

As marchas pelo "Fora Correa" têm muitas semelhanças com os protestos realizados no Brasil pelo "Fora Dilma". Elas não têm nada de espontânea, de simples revolta de "anônimos convocados pelas redes sociais". Reúnem setores médios da sociedade, com uma forte retórica conservadora, e contam com o apoio ostensivo da mídia privada e dos partidos de oposição. Elas exigem o impeachment do presidente e, em muitos casos, a volta dos militares ao poder. Neste sentido, o recente alerta feito pelo teólogo Leonardo Boff, em entrevista ao jornalista Marco Weissheimer, do site Sul-21, ganha relevo:

"Acabo de vir de um congresso que contou com a presença de representantes das esquerdas de toda a América Latina e todos foram unânimes em dizer que essa etapa das democracias novas, de cunho popular e republicano, que surgiram depois das ditaduras, estão recebendo os impactos dessa ofensiva da direita, organizada e financiada também a partir do Pentágono. Essa direita está se organizando em nível mundial. Isso é perigoso. A história já mostrou que, depois que a direita se organiza, surgem fenômenos de caráter fascista e nazista, surgem regimes autoritários que buscam impor ordem e disciplina".

"No que nos diz respeito mais diretamente o grande problema é que os Estados Unidos não toleram a existência de uma grande nação no Atlântico Sul, com soberania e um projeto autônomo de desenvolvimento, que às vezes pode ser conflitivo com os interesses de Washington. O Brasil está mantendo essa atitude soberana e isso causa preocupação a eles, pois a economia futura será baseada naqueles países que têm abundância de bens e serviços naturais, como água, sementes, produção de alimentos, energias renováveis. Neste contexto, o Brasil aparece como uma potência primordial, pois tem uma grande riqueza desses bens e serviços essenciais para toda a humanidade".


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