sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Mujica e as lições para a política

Por Fernando Brito, no blog Tijolaço:



Quando se olha a foto aí de cima, tirada ontem na Uerj, não é difícil imaginar Lula ali, no lugar de Pepe Mujica, ex-presidente do Uruguai.

E porque não se tem – como se poderia ter, cinco anos atrás – a mesma foto de Lula, agora?

Mujica é um homem espetacular, como é espetacular a trajetória de Lula de Garanhuns à Presidência.

Mas porque Mujica é espetacularizado pela mídia hoje, enquanto Lula é demonizado?

Porque Mujica é uruguaio?

Sim, também.

Mas porque é preciso descontextualizar os políticos para que se possa pregar-lhes rótulos que os reduzam ou lhes retire a capacidade de representar mudança real, não apenas superficial.

Uso aqui a expressão, que me chega através de um amigo, no facebook, do historiador Marcio Scarlecio:

“(…) vi algumas matérias na TV sobre o belo evento que me irritaram. Enfatizavam o Mujica como o patrono meridional do casório gay, da liberação do fumacê e do aborto, ok. Como ideologia continua sendo vivida e lambida, nada melhor do que descontextualizar o personagem, inegavelmente popular e que tem méritos. A pulverização da pauta consuma-se como uma tática de eliminação de qualquer sentido coletivo fragmentando os processos em nichos individualizados de “minha causa favorita e meu mundo sou eu e meu umbiguinho”. Para mim, sim, eu tenho opinião, a descontextualização é sinônimo de forte imbecilização dos processos. Fizeram isso com o Mandela, reduzindo o seu papel histórico para o patamar de um sujeito inofensivo tal qual um entregador de pizza “phophinho”. E no caso do Pepe Mujica, qual o contexto? Ele fez o que fez e age como age porque é um socialista.”

É isso.

Todo o conjunto de ações e opiniões de Mujica provém deste universo mental: a igualdade essencial entre os seres humanos.

É dele que todo o tempo tentam nos tirar, porque é ele que torna intolerável que a diversidade humana possa se dar em cores, gestos, sexos, hábitos, gostos pessoais, em tudo, menos no direito essencial do outro de viver, de progredir no sentido em que desejar, de fazer tudo o que diga respeito apenas a si mesmo e de, ao mesmo tempo, entender que a vida social é um bem coletivo, onde é ele a única coisa que pode permitir a todos a realização individual.

A elite brasileira precisa alimentar de ódio a sociedade, porque só com ódios podemos negar a ideia de que somos todos iguais.

Talvez aí esteja a grande esperteza de Mujica, que se tornou “inodiável”, com renúncias a algumas insigificâncias.

Es porque el diablo no es el diablo por ser el diablo, pero por ser viejo.

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