Por Jean Wyllys, na revista CartaCapital:
A situação política em que estamos mergulhados é mesmo preocupante. Aqui na Câmara Federal a tensão que está no ar devido às conspirações, traições e acordos tardios é tão densa que pode ser cortada a faca. A aliança entre Eduardo Cunha (e asseclas de todos os partidos do baixo clero), PSDB e DEM já não é mais mal-disfarçada.
O caminho para o impeachment traçado por esta aliança envolve a reprovação das contas da Dilma pelo Tribunal de Contas da União (TCU) devido às tais "pedaladas fiscais" ("pedaladas" semelhantes foram praticadas também por FHC quando presidente da República sem que isto lhe causasse qualquer dano à época).
Comenta-se pelos corredores da Câmara Federal que o TCU reprovará as contas da presidenta por unanimidade, já que, entre os ministros do tribunal, haveria pessoas ligadas a Renan Calheiros (PMDB-AL), simpatizantes dos tucanos e outras que, embora originalmente aliadas do governo, estariam pressionadas pelo clima antipetista que se instalou na opinião pública graças às opiniões e matérias contrárias ao PT publicadas exaustivamente na "grande mídia".
Com essa estratégia, buscarão evitar o caminho do impeachment via Tribunal Superior Eleitoral, já que, por este caminho, o vice-presidente Michel Temer cairia junto com Dilma. Os frutos dessa aliança seriam: 1) o PMDB deixar de ser o parasita do PT e assumir a presidência da República; 2) o PSDB varrer a concorrência petista (leia-se Lula) nas eleições de 2018.
Ontem, PDT e PTB abandonaram a base governista, mas três ou quatro deputados destes partidos votaram com o governo para poder garantir a presença dos seus parceiros nos ministérios concedidos por Dilma - e esta não pode, apesar disso, sequer tirar esses ministros nesse momento como retaliação ao abandono do navio em vias de naufrágio.
Por outro lado, todos os deputados do PSD (partido do Kassab, Ministro das Cidades) votaram e votam contra o governo. É provável que o PP - que tem mais de trinta deputados arrolados nas investigações da Lava-Jato acerca do esquema de corrupção na Petrobras - também deixe a base do governo entre hoje e a semana que vem.
Ontem e hoje, alguns deputados petistas esboçaram alguma reação mais contundente contra Cunha desde a tribuna do plenário. Porém, o líder do governo, Zé Guimarães, e o líder do PT na Câmara, Sibá Machado, por ainda apostarem numa recomposição da base governista que preserve um mínimo de governabilidade, silenciam o resto da bancada petista, que está a cada dia mais murcha, constrangida e humilhada, seja pelos inegáveis fatos que comprovam o envolvimento de lideranças do partido no esquema de corrupção da Petrobras, seja pela ofensiva antipetista da grande mídia em relação a esses fatos e a repercussão dessa ofensiva em muitos setores da população, inclusive entre os que se beneficiaram bastante dos governos petistas.
Com esse engessamento, a bancada do PT na Câmara Federal caminha para a câmara de gás com os próprios pés sem esboçar reação porque seus líderes acreditam em algum surto de lealdade tardio por parte do PMDB ou simplesmente em alguma intervenção divina que salve o governo em crise profunda.
Há, porém, um complicador para os planos da aliança entre o PMDB, o PSDB e o DEM: Janot será reconduzido ao Ministério Público Federal e certamente apresentará denúncia consistente contra Eduardo Cunha et caterva - e isto poderá recolocá-lo nos noticiários, que, nesta semana, ocuparam-se de expor, com sensacionalismo, o envolvimento de Zé Dirceu com o "Petrolão". Porém, não há certeza de que os noticiários se ocuparão dos crimes de Eduardo Cunha, dado o grau de envolvimento da grande mídia na tarefa de destruir o PT publicamente a partir de cobertura seletiva e, assim, impedir que Lula se eleja em 2018.
Como pisciano e baiano - portanto, alguém atento aos recados dos mistérios do universo - pressinto o pior para todos e todas nós, torcendo para que eu esteja enganado: se Dilma cair, PMDB e PSDB não terão a solução mágica para a crise econômica que a maioria da população espera; esta reagirá violentamente e a grande mídia que agora insufla o antipetismo não conseguirá conter o chamado "estouro de boiada".
Só a dura repressão por parte das forças armadas e/ou polícias poderá fazer isso, o que resultará em graves consequências para os diretos humanos e instituições democráticas. A ultradireita se apresentará como "a solução", e o resto dessa história vocês podem inferir.
Nós, parlamentares do PSOL, somos oposição ao governo Dilma (que é também o governo do PMDB, não esqueçamos disso!): uma oposição à esquerda contra o ajuste fiscal que beneficia banqueiros e especuladores financeiros; contra os cortes nos recursos destinados à Saúde e à Educação e contra os acordos com fundamentalistas religiosos e latifundiários.
Mas somos contra o impeachment da presidenta Dilma, pois não acreditamos em nenhuma saída fora das regras democráticas, principalmente saída construída por pessoas que traíram o governo de que faziam parte ou que não se conformam de terem perdido as últimas quatro eleições; não acreditamos especialmente naquelas saídas que têm potencial para ampliar a crise política.
Não quero ser catastrófico nem parecer sombrio (embora haja hoje especialmente uma sombra em meu coração, não sei direito o porquê: apenas fruto dessa intuição). Fiquemos atentos de qualquer forma pra que não tenhamos que cantarolar aquela canção que diz "quando eu falava dessas cores mórbidas, quando eu falava desses homens sórdidos, quando eu falava desse temporal, você não escutou, você não quis acreditar".
O caminho para o impeachment traçado por esta aliança envolve a reprovação das contas da Dilma pelo Tribunal de Contas da União (TCU) devido às tais "pedaladas fiscais" ("pedaladas" semelhantes foram praticadas também por FHC quando presidente da República sem que isto lhe causasse qualquer dano à época).
Comenta-se pelos corredores da Câmara Federal que o TCU reprovará as contas da presidenta por unanimidade, já que, entre os ministros do tribunal, haveria pessoas ligadas a Renan Calheiros (PMDB-AL), simpatizantes dos tucanos e outras que, embora originalmente aliadas do governo, estariam pressionadas pelo clima antipetista que se instalou na opinião pública graças às opiniões e matérias contrárias ao PT publicadas exaustivamente na "grande mídia".
Com essa estratégia, buscarão evitar o caminho do impeachment via Tribunal Superior Eleitoral, já que, por este caminho, o vice-presidente Michel Temer cairia junto com Dilma. Os frutos dessa aliança seriam: 1) o PMDB deixar de ser o parasita do PT e assumir a presidência da República; 2) o PSDB varrer a concorrência petista (leia-se Lula) nas eleições de 2018.
Ontem, PDT e PTB abandonaram a base governista, mas três ou quatro deputados destes partidos votaram com o governo para poder garantir a presença dos seus parceiros nos ministérios concedidos por Dilma - e esta não pode, apesar disso, sequer tirar esses ministros nesse momento como retaliação ao abandono do navio em vias de naufrágio.
Por outro lado, todos os deputados do PSD (partido do Kassab, Ministro das Cidades) votaram e votam contra o governo. É provável que o PP - que tem mais de trinta deputados arrolados nas investigações da Lava-Jato acerca do esquema de corrupção na Petrobras - também deixe a base do governo entre hoje e a semana que vem.
Ontem e hoje, alguns deputados petistas esboçaram alguma reação mais contundente contra Cunha desde a tribuna do plenário. Porém, o líder do governo, Zé Guimarães, e o líder do PT na Câmara, Sibá Machado, por ainda apostarem numa recomposição da base governista que preserve um mínimo de governabilidade, silenciam o resto da bancada petista, que está a cada dia mais murcha, constrangida e humilhada, seja pelos inegáveis fatos que comprovam o envolvimento de lideranças do partido no esquema de corrupção da Petrobras, seja pela ofensiva antipetista da grande mídia em relação a esses fatos e a repercussão dessa ofensiva em muitos setores da população, inclusive entre os que se beneficiaram bastante dos governos petistas.
Com esse engessamento, a bancada do PT na Câmara Federal caminha para a câmara de gás com os próprios pés sem esboçar reação porque seus líderes acreditam em algum surto de lealdade tardio por parte do PMDB ou simplesmente em alguma intervenção divina que salve o governo em crise profunda.
Há, porém, um complicador para os planos da aliança entre o PMDB, o PSDB e o DEM: Janot será reconduzido ao Ministério Público Federal e certamente apresentará denúncia consistente contra Eduardo Cunha et caterva - e isto poderá recolocá-lo nos noticiários, que, nesta semana, ocuparam-se de expor, com sensacionalismo, o envolvimento de Zé Dirceu com o "Petrolão". Porém, não há certeza de que os noticiários se ocuparão dos crimes de Eduardo Cunha, dado o grau de envolvimento da grande mídia na tarefa de destruir o PT publicamente a partir de cobertura seletiva e, assim, impedir que Lula se eleja em 2018.
Como pisciano e baiano - portanto, alguém atento aos recados dos mistérios do universo - pressinto o pior para todos e todas nós, torcendo para que eu esteja enganado: se Dilma cair, PMDB e PSDB não terão a solução mágica para a crise econômica que a maioria da população espera; esta reagirá violentamente e a grande mídia que agora insufla o antipetismo não conseguirá conter o chamado "estouro de boiada".
Só a dura repressão por parte das forças armadas e/ou polícias poderá fazer isso, o que resultará em graves consequências para os diretos humanos e instituições democráticas. A ultradireita se apresentará como "a solução", e o resto dessa história vocês podem inferir.
Nós, parlamentares do PSOL, somos oposição ao governo Dilma (que é também o governo do PMDB, não esqueçamos disso!): uma oposição à esquerda contra o ajuste fiscal que beneficia banqueiros e especuladores financeiros; contra os cortes nos recursos destinados à Saúde e à Educação e contra os acordos com fundamentalistas religiosos e latifundiários.
Mas somos contra o impeachment da presidenta Dilma, pois não acreditamos em nenhuma saída fora das regras democráticas, principalmente saída construída por pessoas que traíram o governo de que faziam parte ou que não se conformam de terem perdido as últimas quatro eleições; não acreditamos especialmente naquelas saídas que têm potencial para ampliar a crise política.
Não quero ser catastrófico nem parecer sombrio (embora haja hoje especialmente uma sombra em meu coração, não sei direito o porquê: apenas fruto dessa intuição). Fiquemos atentos de qualquer forma pra que não tenhamos que cantarolar aquela canção que diz "quando eu falava dessas cores mórbidas, quando eu falava desses homens sórdidos, quando eu falava desse temporal, você não escutou, você não quis acreditar".
Quem precisa de eleição, democracia, se temos o golpe?
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