Por Emir Sader, na Rede Brasil Atual:
FHC sempre se sentiu filiado à social-democracia europeia, antes de tudo à francesa, de Mitterrand, depois à espanhola, de Felipe Gonzalez. Os tucanos estavam dentro do PMDB, disputando espaço em São Paulo com o Quércia. Tentaram lancar a candidatura do Antonio Ermírio ao governo do Estado. Perderam, se deram conta que não tinham condições de disputar o partido com Quércia e saíram.
O grupo, basicamente paulista, tinha Montoro, Covas, FHC, Serjão, Serra, além do Tasso Jereissatti e um que outro perdido pelo Brasil. O Montoro se sentia democrata-cristão, mas não se opôs a assumir a social-democracia como nome. Era um vinculo ideológico, sem nenhuma outra característica dos partidos social-democratas, com significativa presença no movimento sindical. Era um grupo de políticos à busca de uma reinserção melhor no sistema politico. Seu cacife era a imagem de alguns desses políticos.
A candidatura de Mario Covas à presidência, em 1989, foi um fracasso, chegou em quarto. Mas revelava uma tendência que iria se consolidar depois, no seu lema central da campanha: “Um choque de capitalismo”.
O governo Collor foi um rito de passagem para os tucanos na direção do neoliberalismo. Um grupo de avançada entrou diretamente ao governo, entre eles Celso Lafer e Sérgio Rouanet. Era a preparação do terreno para que todos ingressassem, caminho em que estava comprometido FHC, mas que foi brecado por Mario Covas.
O governo Itamar finalmente foi a grande chance de abertura do caminho dos tucanos. Itamar não tinha equipe própria, tinha saído do PMDB e assumido como candidato a vice do Collor. Quando a presidencia caiu no seu colo, chamou FHC primeiro pro Itamaraty e, logo, para o Ministério da Economia. Collor já havia conseguido mudar a agenda nacional, centrando-a nos temas preferidos do neoliberalismo: desqualificação do Estado, abertura do mercado interno, privatizações.
Os tucanos se espelharam na virada de Mitterrand para o neoliberalismo e, particularmente, no governo de Felipe Gonzalez, para assumir esse novo modelo. FHC assumiu a virada definitiva para a cara atual do PSDB, ao retomar o projeto neoliberal interrompido do Collor e montar as alianças correspondentes. Chamou o então PFL de ACM para constituir um novo bloco de forças no governo e colocou em prática um projeto globalmente neoliberal, com todos os seus ingredientes: privatizações, Estado mínimo, abertura do mercado, precarização das relações de trabalho, associado a um discurso de desmoralização da empregados públicos, dos professores, da esquerda e dos movimentos sociais. Montoro e Covas ficaram marginalizados ate sua morte em 2001, com FHC dando a cara nova do partido.
O sonho de FHC era que Collor tivesse feito o trabalho sujo do neoliberalismo, para que ele aparecesse como a versão da terceira via – de Bill Clinton e de Tony Blair, que sucederam a Ronald Reagan e a Margareth Thatcher. Mas como Collor fracassou, ele teve que assumir a agenda suja, pesada, do neoliberalismo, a começar pelas privatizações. Teve o sucesso imediato que tiveram todos os governos neoliberais, conforme controlaram a inflação ou a camuflaram – no caso do FHC, multiplicando por dez a dívida publica, no caso do Menem, fazendo a mágica da paridade com o dólar, que explodiu depois espetacularmente –, conseguiu se reeleger com isso e depois se esgotou. Não houve nem retomada do desenvolvimento, aumentou e não diminui a concentração de renda e a própria inflação retornou.
Os tucanos não conseguiram eleger o sucessor de FHC e nunca mais triunfaram, perdendo sucessivamente diante do sucesso incomparavelmente maior do Lula, na política interna e internacional. No começo, os tucanos apontavam no fracasso imediato do Lula, por sua suposta “incompetência”, “populismo”, “estatismo”. Depois, apostaram que o “mensalão” o derrubaria, não se atreveram a apelar para o impeachment, com medo da reação popular, preferiram sangrá-lo até as eleições de 2006. Mas as políticas sociais estenderem o apoio do Lula, que derrotou o candidato tucano e se reelegeu.
Em 2010, o candidato tucano saiu amplamente na frente nas pesquisas, davam como seguro que o Lula não elegeria “um poste”, mas perderam de novo. Em 2014 ja foram para sua última parada. Tentaram com Aécio e com Marina e perderam. A partir daí se deram conta que, mesmo contando com a ativa participação política do monopólio privado da mídia, não ganhariam no voto.
A partir desse momento, restou-lhes – de forma muito similar à UDN diante do Getúlio – apelar para soluções golpistas. Se dividem entre os que concentram o fogo na Dilma – liderados pelo Aécio –, com a ilusão de nova eleição, e os que se concentram nas tentativas de tirar o Lula da jogada via tapetão, para não terem que enfrentar nova derrota diante dele em 2018.
Depois de defender plataformas neoliberais e até mesmo uma inviabilizada possibilidade de ser a melhor continuação do Lula – com o Serra na primeira parte da campanha em 2010 –, os tucanos já não têm nada a propor. Seu golpismo se reflete também em que só se interessam por tirar o PT do governo e da disputa eleitoral de 2018, sem o que não têm nenhuma possibilidade de voltar ao governo. Se tornaram um partido velho, superado pela própria realidade concreta, com os mesmos candidatos e as mesmas direções. Viraram uma UDN do século 21.
O grupo, basicamente paulista, tinha Montoro, Covas, FHC, Serjão, Serra, além do Tasso Jereissatti e um que outro perdido pelo Brasil. O Montoro se sentia democrata-cristão, mas não se opôs a assumir a social-democracia como nome. Era um vinculo ideológico, sem nenhuma outra característica dos partidos social-democratas, com significativa presença no movimento sindical. Era um grupo de políticos à busca de uma reinserção melhor no sistema politico. Seu cacife era a imagem de alguns desses políticos.
A candidatura de Mario Covas à presidência, em 1989, foi um fracasso, chegou em quarto. Mas revelava uma tendência que iria se consolidar depois, no seu lema central da campanha: “Um choque de capitalismo”.
O governo Collor foi um rito de passagem para os tucanos na direção do neoliberalismo. Um grupo de avançada entrou diretamente ao governo, entre eles Celso Lafer e Sérgio Rouanet. Era a preparação do terreno para que todos ingressassem, caminho em que estava comprometido FHC, mas que foi brecado por Mario Covas.
O governo Itamar finalmente foi a grande chance de abertura do caminho dos tucanos. Itamar não tinha equipe própria, tinha saído do PMDB e assumido como candidato a vice do Collor. Quando a presidencia caiu no seu colo, chamou FHC primeiro pro Itamaraty e, logo, para o Ministério da Economia. Collor já havia conseguido mudar a agenda nacional, centrando-a nos temas preferidos do neoliberalismo: desqualificação do Estado, abertura do mercado interno, privatizações.
Os tucanos se espelharam na virada de Mitterrand para o neoliberalismo e, particularmente, no governo de Felipe Gonzalez, para assumir esse novo modelo. FHC assumiu a virada definitiva para a cara atual do PSDB, ao retomar o projeto neoliberal interrompido do Collor e montar as alianças correspondentes. Chamou o então PFL de ACM para constituir um novo bloco de forças no governo e colocou em prática um projeto globalmente neoliberal, com todos os seus ingredientes: privatizações, Estado mínimo, abertura do mercado, precarização das relações de trabalho, associado a um discurso de desmoralização da empregados públicos, dos professores, da esquerda e dos movimentos sociais. Montoro e Covas ficaram marginalizados ate sua morte em 2001, com FHC dando a cara nova do partido.
O sonho de FHC era que Collor tivesse feito o trabalho sujo do neoliberalismo, para que ele aparecesse como a versão da terceira via – de Bill Clinton e de Tony Blair, que sucederam a Ronald Reagan e a Margareth Thatcher. Mas como Collor fracassou, ele teve que assumir a agenda suja, pesada, do neoliberalismo, a começar pelas privatizações. Teve o sucesso imediato que tiveram todos os governos neoliberais, conforme controlaram a inflação ou a camuflaram – no caso do FHC, multiplicando por dez a dívida publica, no caso do Menem, fazendo a mágica da paridade com o dólar, que explodiu depois espetacularmente –, conseguiu se reeleger com isso e depois se esgotou. Não houve nem retomada do desenvolvimento, aumentou e não diminui a concentração de renda e a própria inflação retornou.
Os tucanos não conseguiram eleger o sucessor de FHC e nunca mais triunfaram, perdendo sucessivamente diante do sucesso incomparavelmente maior do Lula, na política interna e internacional. No começo, os tucanos apontavam no fracasso imediato do Lula, por sua suposta “incompetência”, “populismo”, “estatismo”. Depois, apostaram que o “mensalão” o derrubaria, não se atreveram a apelar para o impeachment, com medo da reação popular, preferiram sangrá-lo até as eleições de 2006. Mas as políticas sociais estenderem o apoio do Lula, que derrotou o candidato tucano e se reelegeu.
Em 2010, o candidato tucano saiu amplamente na frente nas pesquisas, davam como seguro que o Lula não elegeria “um poste”, mas perderam de novo. Em 2014 ja foram para sua última parada. Tentaram com Aécio e com Marina e perderam. A partir daí se deram conta que, mesmo contando com a ativa participação política do monopólio privado da mídia, não ganhariam no voto.
A partir desse momento, restou-lhes – de forma muito similar à UDN diante do Getúlio – apelar para soluções golpistas. Se dividem entre os que concentram o fogo na Dilma – liderados pelo Aécio –, com a ilusão de nova eleição, e os que se concentram nas tentativas de tirar o Lula da jogada via tapetão, para não terem que enfrentar nova derrota diante dele em 2018.
Depois de defender plataformas neoliberais e até mesmo uma inviabilizada possibilidade de ser a melhor continuação do Lula – com o Serra na primeira parte da campanha em 2010 –, os tucanos já não têm nada a propor. Seu golpismo se reflete também em que só se interessam por tirar o PT do governo e da disputa eleitoral de 2018, sem o que não têm nenhuma possibilidade de voltar ao governo. Se tornaram um partido velho, superado pela própria realidade concreta, com os mesmos candidatos e as mesmas direções. Viraram uma UDN do século 21.
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