Duas notícias, uma boa e outra má, alteraram a rotina do operador de máquinas especiais José Djalma de Souza. Seu filho mais velho, Pablo Lênin, de 17 anos, passou pela seleção do Senai e vai começar a trabalhar na Mercedes-Benz, em São Bernardo do Campo, no ABC paulista. "São testes difíceis. Ele sempre estudou em escola pública e conseguiu. Para mim, foi uma bênção. Sempre quis ver meu filho trabalhando numa grande empresa. Dá para fazer uma faculdade mais na frente", comemora Djalma. Ao mesmo tempo, ele recentemente passou por um drama que voltou a assombrar a rotina dos trabalhadores brasileiros. Prestes a completar 12 anos de fábrica, foi demitido. Pela mesma Mercedes, por telegrama. Djalma chegou a passar seis meses afastado, por meio do sistema conhecido como lay-off, de suspensão de contratos de trabalho.
Aos 41 anos, casado com Vanessa, que trabalhava como manicure, e com um filho (Caio) nascido em 11 de abril, Djalma mora de aluguel perto do Jardim Zoológico, em São Paulo, na divisa com o ABC. Tem recebido ajuda da família. Mas se preocupa. "Você se sente totalmente sem nada, sem o pé no chão. Minha mulher já perguntou como é que a gente vai fazer. O convênio acabou, estou buscando outro. E agora, com um moleque de três meses?".
Aos 41 anos, casado com Vanessa, que trabalhava como manicure, e com um filho (Caio) nascido em 11 de abril, Djalma mora de aluguel perto do Jardim Zoológico, em São Paulo, na divisa com o ABC. Tem recebido ajuda da família. Mas se preocupa. "Você se sente totalmente sem nada, sem o pé no chão. Minha mulher já perguntou como é que a gente vai fazer. O convênio acabou, estou buscando outro. E agora, com um moleque de três meses?".
Ele está no mercado de trabalho desde os 14 anos. Foram cinco em uma empresa de material de construção. Passou por mais três empresas metalúrgicas até chegar à Mercedes – onde também começou pelo Senai. Para o metalúrgico, a empresa poderia ter mantido os trabalhadores – dispensou 250 – , mesmo em tempos de crise, considerando o faturamento que teve nos últimos anos e o esforço dos operários. "A minha esperança é voltar e tentar se aposentar na Mercedes." Djalma torce pelo sucesso do Programa de Proteção ao Emprego (PPE), anunciado em julho pelo governo, por meio da Medida Provisória (MP) 680, após anos de negociações com sindicalistas, embora sem consenso entre as centrais.
"É uma boa novidade para as relações de trabalho no Brasil", diz o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC (entidade que apresentou originalmente a proposta), Rafael Marques. "As negociações podem melhorar a proposta. É um suporte importante em um momento em que você tem (como alternativas) o lay-off ou a demissão. O Brasil não dispõe de ferramentas boas para preservar o emprego", acrescenta o dirigente, vendo no PPE um instrumento mais racional. "Não pressiona tanto o caixa do governo e preserva posto de trabalho. É mais racional do que pagar uma pessoa desempregada. Pode ser um paliativo, mas é uma boa nova. Pode virar um programa perene, e melhorar."
O PPE possibilita, por meio de acordo coletivo negociado com o sindicato da categoria e aprovado em assembleia, redução de jornada e salários em até 30%. A diminuição do rendimento seria parcialmente compensada com recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT). Rafael acredita que o programa poderá garantir a manutenção de pelo menos 3 mil postos de trabalho na região, fustigada pela crise na indústria.
"É uma boa novidade para as relações de trabalho no Brasil", diz o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC (entidade que apresentou originalmente a proposta), Rafael Marques. "As negociações podem melhorar a proposta. É um suporte importante em um momento em que você tem (como alternativas) o lay-off ou a demissão. O Brasil não dispõe de ferramentas boas para preservar o emprego", acrescenta o dirigente, vendo no PPE um instrumento mais racional. "Não pressiona tanto o caixa do governo e preserva posto de trabalho. É mais racional do que pagar uma pessoa desempregada. Pode ser um paliativo, mas é uma boa nova. Pode virar um programa perene, e melhorar."
O PPE possibilita, por meio de acordo coletivo negociado com o sindicato da categoria e aprovado em assembleia, redução de jornada e salários em até 30%. A diminuição do rendimento seria parcialmente compensada com recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT). Rafael acredita que o programa poderá garantir a manutenção de pelo menos 3 mil postos de trabalho na região, fustigada pela crise na indústria.
Retração
O caso do setor automobilístico espelha o momento preocupante. Segundo a Anfavea, a associação das montadoras, em 12 meses, até junho, foram eliminados 14.500 postos de trabalho, uma queda de quase 10%, sendo 10.400 em autoveículos (-8%) e 4.100 em máquinas agrícolas (-20%). Várias empresas, não apenas no ABC, recorreram a medidas como férias coletivas, lay-off e programas de demissão voluntária. No caso da Mercedes, no início de julho chegou a ser negociada uma proposta que incluía redução da jornada em 20% por um ano e de 10% do salário, com estabilidade e retorno de parte dos demitidos, que chegaram a montar um acampamento diante da fábrica. O acordo foi rejeitado em votação.
Mas a retração não se limita a essa área da economia. O emprego, que vinha crescendo de forma contínua há mais de dez anos, deu sinais de estagnação em 2014. A situação não foi pior porque havia pouca pressão no mercado de trabalho – a procura por emprego era pequena, o que ajudava a manter baixas as taxas de desemprego. Uma situação que refletia em parte a melhoria na renda, o que retardava a entrada de mais pessoas na população economicamente ativa. Este ano, mais gente saiu à procura de vagas, em um mercado que vem oferecendo poucas oportunidades.
O caso do setor automobilístico espelha o momento preocupante. Segundo a Anfavea, a associação das montadoras, em 12 meses, até junho, foram eliminados 14.500 postos de trabalho, uma queda de quase 10%, sendo 10.400 em autoveículos (-8%) e 4.100 em máquinas agrícolas (-20%). Várias empresas, não apenas no ABC, recorreram a medidas como férias coletivas, lay-off e programas de demissão voluntária. No caso da Mercedes, no início de julho chegou a ser negociada uma proposta que incluía redução da jornada em 20% por um ano e de 10% do salário, com estabilidade e retorno de parte dos demitidos, que chegaram a montar um acampamento diante da fábrica. O acordo foi rejeitado em votação.
Mas a retração não se limita a essa área da economia. O emprego, que vinha crescendo de forma contínua há mais de dez anos, deu sinais de estagnação em 2014. A situação não foi pior porque havia pouca pressão no mercado de trabalho – a procura por emprego era pequena, o que ajudava a manter baixas as taxas de desemprego. Uma situação que refletia em parte a melhoria na renda, o que retardava a entrada de mais pessoas na população economicamente ativa. Este ano, mais gente saiu à procura de vagas, em um mercado que vem oferecendo poucas oportunidades.
O mercado de trabalho mostrava bom desempenho até então. A taxa média de desemprego anual, medida pelo IBGE em seis regiões metropolitanas, caiu de 12,4%, em 2003, para 4,8% no ano passado, no menor nível histórico da pesquisa. Também o setor formal mostrou evolução, contrariando uma crença formada nos anos 1990 de que o emprego com carteira estava condenado à extinção. Em junho deste ano, havia 40,9 milhões de trabalhadores formais no país, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho e Emprego. Em junho de 2002, eram 22,6 milhões.
Só que a crise chegou ao mercado. O próprio Caged mostra perda de 602 mil vagas em 12 meses, até junho – são menos 345 mil só neste ano. Segundo outra pesquisa do IBGE, a Pnad Contínua, com amplitude geográfica nacional, o desemprego subiu para 8,1% no trimestre março-maio, ante 7% em igual período de 2004. Nesse intervalo, foram abertos 297 mil postos de trabalho no país, uma variação de apenas 0,3%, enquanto quase 1,6 milhão de pessoas saíram à procura de emprego. O resultado foi um acréscimo de 1,269 milhão no total de desempregados, para 8,157 milhões – crescimento de 18,4%.
O emprego cai tanto entre os com carteira no setor privado como entre os sem carteira, aumentando entre os trabalhadores por conta própria. O cenário é de "mais pessoas procurando trabalho, uma ocupação que não cresce, a carteira de trabalho caindo", na definição resumida do coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE, Cimar Azeredo.
Dificuldades
O cenário é difícil, avalia o diretor técnico do Dieese, Clemente Ganz Lúcio. "A economia brasileira tem condições de superar essas dificuldades, e acho que está muito mais preparada do que esteve no passado. Mas há muitas dificuldades", afirma. "A adversidade econômica não é pequena, mas é gravemente afetada pela crise política, que traz graves restrições à margem de manobra do governo." Para ele, dado o nível de restrição na atividade econômica, 2015 e 2016 "serão anos de dificuldade".
Clemente vê a necessidade de um esforço, por parte do governo, para retomar a capacidade de investimento do Estado. Essa dificuldade de manter o nível de investimento, entre outros fatores, tem repercussão em toda a cadeia produtiva. Isso ocorre, por exemplo, no setor industrial, e faz tempo. "Estamos há 20 anos ou mais desmobilizando a capacidade produtiva na indústria." A tarefa é complicada e leva tempo, diz o economista, que usa a imagem de uma ladeira para ilustrar o tamanho do desafio: para incrementar o crescimento, é para cima. "Para desmobilizar, é um precipício."
Para o professor Claudio Dedecca, do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), o cenário é ruim, também, do ponto de vista social. "A renda vai sofrer mais do que o emprego, a desigualdade vai aumentar, a pobreza vai recrudescer", diz. Ele se afirma otimista no sentido de acreditar que a crise não terá percurso tão longo, e pessimista ao avaliar que, daqui até 2018, dificilmente o crescimento atingirá 2%, na média. O governo perdeu tempo, analisa Dedecca, porque os sinais de redução da atividade não são recentes. "O governo se acomodou mesmo quando o crescimento perdia fôlego. A economia brasileira parou na Copa e não retomou desde então. As famílias vêm tendo uma atitude cautelosa há algum tempo."
As medidas de desoneração de alguns setores, implementadas no mandato anterior, expressam essa acomodação, diz o economista. "Qualquer analista do complexo automobilístico sabia que aquele aumento da produção ia se interromper a qualquer momento." Para ele, teria sido importante aproveitar o momento para discutir estratégias e planejamento para o setor, talvez desenvolvendo políticas voltadas ao transporte coletivo.
A reflexão vale para a macroeconomia. "Não fizemos nenhum esforço mais organizado, mais estruturado, para pensar em políticas de médio e longo prazo. Você fica prisioneiro das medidas de curto prazo, e de modo atabalhoado", observa Dedecca. Agora, o governo enfrenta o desafio de não deixar crescer um processo de perda de legitimidade, em meio a uma crise social. E terá de percorrer um "estreito caminho", entre as providências do ajuste fiscal e outras para reduzir o impacto social de tais medidas.
O cenário é difícil, avalia o diretor técnico do Dieese, Clemente Ganz Lúcio. "A economia brasileira tem condições de superar essas dificuldades, e acho que está muito mais preparada do que esteve no passado. Mas há muitas dificuldades", afirma. "A adversidade econômica não é pequena, mas é gravemente afetada pela crise política, que traz graves restrições à margem de manobra do governo." Para ele, dado o nível de restrição na atividade econômica, 2015 e 2016 "serão anos de dificuldade".
Clemente vê a necessidade de um esforço, por parte do governo, para retomar a capacidade de investimento do Estado. Essa dificuldade de manter o nível de investimento, entre outros fatores, tem repercussão em toda a cadeia produtiva. Isso ocorre, por exemplo, no setor industrial, e faz tempo. "Estamos há 20 anos ou mais desmobilizando a capacidade produtiva na indústria." A tarefa é complicada e leva tempo, diz o economista, que usa a imagem de uma ladeira para ilustrar o tamanho do desafio: para incrementar o crescimento, é para cima. "Para desmobilizar, é um precipício."
Para o professor Claudio Dedecca, do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), o cenário é ruim, também, do ponto de vista social. "A renda vai sofrer mais do que o emprego, a desigualdade vai aumentar, a pobreza vai recrudescer", diz. Ele se afirma otimista no sentido de acreditar que a crise não terá percurso tão longo, e pessimista ao avaliar que, daqui até 2018, dificilmente o crescimento atingirá 2%, na média. O governo perdeu tempo, analisa Dedecca, porque os sinais de redução da atividade não são recentes. "O governo se acomodou mesmo quando o crescimento perdia fôlego. A economia brasileira parou na Copa e não retomou desde então. As famílias vêm tendo uma atitude cautelosa há algum tempo."
As medidas de desoneração de alguns setores, implementadas no mandato anterior, expressam essa acomodação, diz o economista. "Qualquer analista do complexo automobilístico sabia que aquele aumento da produção ia se interromper a qualquer momento." Para ele, teria sido importante aproveitar o momento para discutir estratégias e planejamento para o setor, talvez desenvolvendo políticas voltadas ao transporte coletivo.
A reflexão vale para a macroeconomia. "Não fizemos nenhum esforço mais organizado, mais estruturado, para pensar em políticas de médio e longo prazo. Você fica prisioneiro das medidas de curto prazo, e de modo atabalhoado", observa Dedecca. Agora, o governo enfrenta o desafio de não deixar crescer um processo de perda de legitimidade, em meio a uma crise social. E terá de percorrer um "estreito caminho", entre as providências do ajuste fiscal e outras para reduzir o impacto social de tais medidas.
Recuperação
Rafael Marques, do Sindicato dos Metalúrgicos, acredita em uma recuperação "mais palpável" a partir do ano que vem. "Vai ter um sentimento de melhora, porque as pessoas tendem a se ambientar com esse novo cenário. É possível que no segundo semestre (deste ano) a gente tenha algumas percepções de retomada, mas não muito claramente." Ele cita programas como o Plano Safra (agricultura familiar), o plano de exportações recentemente apresentado e a iminência do Minha Casa, Minha Vida 3, entre outros. "A reação é lenta. Poderia ser mais rápida se a gente tivesse um ambiente político mais estável. A questão política deixa as pessoas pessimistas, desconfiadas."
Isso se reflete no mercado de trabalho. "Combater a corrupção, sim. Mas não dá para combater corrupção destruindo as empresas de infraestrutura nacional", afirma o dirigente, também criticando o papel da oposição, particularmente o PSDB, que não mostra respeito ao resultado da eleição do ano passado. "Estão trabalhando no quanto pior, melhor. Precisamos pensar o país, e na sociedade, para valer, de maneira séria." E o governo também precisa dar sinais, combinar política econômica e compromissos sociais, acrescenta Rafael. "O Lula fez isso. A Dilma tem de fazer", afirma. Isso aconteceu, acredita, com o PPE, que sofria oposição do ministro Joaquim Levy. "A Fazenda foi derrotada. Temos de fazer a política econômica no seu conjunto." Isso também passa pela política monetária: "Na minha avaliação, a taxa de juros já chegou no teto".
Mas para o outro mercado, o financeiro, espera-se ainda mais um pouco de aperto. Algumas análises, sutilmente, apontam um lado "positivo" do desemprego, no sentido de conter pressões salariais e, consequentemente, a inflação. O próprio Banco Central, na ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) realizada no início de junho, observava certa "distensão" do mercado de trabalho, mas ainda via necessidade de observar o quadro: "Não obstante a concessão de reajustes para o salário mínimo não tão expressivos, bem como a ocorrência de variações reais de salários mais condizentes com as estimativas de ganhos de produtividade do trabalho, o Comitê avalia que a dinâmica salarial ainda permanece originando pressões inflacionárias de custos".
Os dados mostram diminuição da renda. Segundo o IBGE, a massa salarial nas seis regiões metropolitanas estudadas caiu 10% desde novembro. Outro levantamento, da Fundação Seade e do Dieese, aponta perda de R$ 1,9 bilhão em rendimentos nos últimos 12 meses na Grande São Paulo. "É algo muito ruim em termos de perspectiva", diz o coordenador de análise do Seade, Alexandre Loloian. No caso do Caged, do Ministério do Trabalho, a renda média caiu 1,63% no primeiro semestre. Mas acumula aumento real de 43,57% desde 2003.
O metalúrgico Danilo Gritti Leite, 29 anos, aguarda dias melhores. Praticamente metade de sua vida foi dentro da Mercedes-Benz de São Bernardo, da qual foi demitido após 14 anos (e com 13 meses passados em lay-off) – entrou aos 15, pelo Senai. Soube da dispensa por um boletim da empresa e pela TV. Ele aproveitou o período de inatividade para fazer cursos. "Se não, a cabeça fica a milhão." E acompanhou uma caravana que no dia 28 de julho foi a Brasília protestar, em frente ao Ministério da Fazenda, contra a política de juros. Naquele dia, a taxa básica foi elevada de 13,75% para 14,25% ao ano, e, sua sétima alta seguida.
Da mesma forma que o colega Djalma, ele teve boas e más notícias. Em março, a mulher de Danilo, gerente de projetos na área de publicidade, havia sido demitida. Com rendimentos equivalentes, o casal – que mora de aluguel em São Bernardo, item responsável por um terço da renda – se programou, então, para se manter durante algum tempo com apenas um salário. Só que ela conseguiu nova ocupação dois meses depois, justamente quando ele perdeu o emprego. Uma vaga que Danilo tem esperança de retomar.
Rafael Marques, do Sindicato dos Metalúrgicos, acredita em uma recuperação "mais palpável" a partir do ano que vem. "Vai ter um sentimento de melhora, porque as pessoas tendem a se ambientar com esse novo cenário. É possível que no segundo semestre (deste ano) a gente tenha algumas percepções de retomada, mas não muito claramente." Ele cita programas como o Plano Safra (agricultura familiar), o plano de exportações recentemente apresentado e a iminência do Minha Casa, Minha Vida 3, entre outros. "A reação é lenta. Poderia ser mais rápida se a gente tivesse um ambiente político mais estável. A questão política deixa as pessoas pessimistas, desconfiadas."
Isso se reflete no mercado de trabalho. "Combater a corrupção, sim. Mas não dá para combater corrupção destruindo as empresas de infraestrutura nacional", afirma o dirigente, também criticando o papel da oposição, particularmente o PSDB, que não mostra respeito ao resultado da eleição do ano passado. "Estão trabalhando no quanto pior, melhor. Precisamos pensar o país, e na sociedade, para valer, de maneira séria." E o governo também precisa dar sinais, combinar política econômica e compromissos sociais, acrescenta Rafael. "O Lula fez isso. A Dilma tem de fazer", afirma. Isso aconteceu, acredita, com o PPE, que sofria oposição do ministro Joaquim Levy. "A Fazenda foi derrotada. Temos de fazer a política econômica no seu conjunto." Isso também passa pela política monetária: "Na minha avaliação, a taxa de juros já chegou no teto".
Mas para o outro mercado, o financeiro, espera-se ainda mais um pouco de aperto. Algumas análises, sutilmente, apontam um lado "positivo" do desemprego, no sentido de conter pressões salariais e, consequentemente, a inflação. O próprio Banco Central, na ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) realizada no início de junho, observava certa "distensão" do mercado de trabalho, mas ainda via necessidade de observar o quadro: "Não obstante a concessão de reajustes para o salário mínimo não tão expressivos, bem como a ocorrência de variações reais de salários mais condizentes com as estimativas de ganhos de produtividade do trabalho, o Comitê avalia que a dinâmica salarial ainda permanece originando pressões inflacionárias de custos".
Os dados mostram diminuição da renda. Segundo o IBGE, a massa salarial nas seis regiões metropolitanas estudadas caiu 10% desde novembro. Outro levantamento, da Fundação Seade e do Dieese, aponta perda de R$ 1,9 bilhão em rendimentos nos últimos 12 meses na Grande São Paulo. "É algo muito ruim em termos de perspectiva", diz o coordenador de análise do Seade, Alexandre Loloian. No caso do Caged, do Ministério do Trabalho, a renda média caiu 1,63% no primeiro semestre. Mas acumula aumento real de 43,57% desde 2003.
O metalúrgico Danilo Gritti Leite, 29 anos, aguarda dias melhores. Praticamente metade de sua vida foi dentro da Mercedes-Benz de São Bernardo, da qual foi demitido após 14 anos (e com 13 meses passados em lay-off) – entrou aos 15, pelo Senai. Soube da dispensa por um boletim da empresa e pela TV. Ele aproveitou o período de inatividade para fazer cursos. "Se não, a cabeça fica a milhão." E acompanhou uma caravana que no dia 28 de julho foi a Brasília protestar, em frente ao Ministério da Fazenda, contra a política de juros. Naquele dia, a taxa básica foi elevada de 13,75% para 14,25% ao ano, e, sua sétima alta seguida.
Da mesma forma que o colega Djalma, ele teve boas e más notícias. Em março, a mulher de Danilo, gerente de projetos na área de publicidade, havia sido demitida. Com rendimentos equivalentes, o casal – que mora de aluguel em São Bernardo, item responsável por um terço da renda – se programou, então, para se manter durante algum tempo com apenas um salário. Só que ela conseguiu nova ocupação dois meses depois, justamente quando ele perdeu o emprego. Uma vaga que Danilo tem esperança de retomar.
É tudo mentira, não existe crise! Deve ser algum patrocinado do PSDB tentando derrubar o Governo!!!
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