sexta-feira, 4 de setembro de 2015

A prima, Anastasia e o próprio Aécio

Por Paulo Nogueira, no blog Diário do Centro do Mundo:

De uma coisa Aécio não pode ser acusado: de não dar empregos públicos para a família.

Ele passou a campanha toda falando em meritocracia, que é a negação, exatamente, da prática de nomear a parentada.

E é uma prima sua, Tânia Campos, que trabalhou com ele no governo de Minas que irrompe, agora, no caso Anastasia, que a PF quer reabrir depois de Janot mandar arquivar.

O fato novo que justifica a reabertura, segundo a PF, é um email que afirma que dinheiro de propina foi entregue na casa de Tânia para a campanha de Anastasia para o Senado.

É revelador do mundo estranho em que vivemos que, mesmo com tamanha dor de cabeça por causa de dinheiro para campanha, Anastasia tenha votado dias atrás a favor da manutenção das doações de empresas para partidos e candidatos.

Ele e Aécio, e mais todo o PSDB.

Anastasia postou um vídeo-desabafo no YouTube no qual diz estar vivendo um “verdadeiro calvário” com esta história.

Há um ponto que merece consideração nas lamúrias de Anastasia.

Pertencer ao PSDB tem garantido imunidade contra aborrecimentos e investigações. A mídia amiga e a Justiça amiga cuidam de tudo.

E a regra é rompida logo comigo? É do parece se queixar, não sem alguma razão, Anastasia.

Considere seu mentor, Aécio.

Desde que se tornou uma figura nacional, ao disputar a presidência, emergiu nas sombras um Aécio bem diferente do Catão das Minas.

Ninguém investigou com seriedade, por exemplo, o aeroporto mandado construir em terras que eram da família, usado, aparentemente, para facilitar as idas de Aécio à sua fazenda nas redondezas, a “Versalhes” particular, como ele descreveu à revista Piauí.

Nem a Folha, que trouxe o assunto, fez um trabalho decente. Largou a história mal a iniciara, num coitus interruptus jornalístico.

Mais anedótica ainda foi a atitude do Jornal Nacional.

O aeroporto foi desprezado no noticiário como se não valesse nada. Só que na entrevista que o JN fez com Aécio o aeroporto recebeu tratamento de gala.

Aécio poderia ter respondido a Bonner, se estivesse preparado para a pergunta: “Mas, meu querido, se era uma coisa importante, e não uma armação dos meus inimigos, por que vocês não deram?”

O Outro Aécio surge de algo que nem as grandes empresas de mídia e nem a Justiça controlam: a internet. O jornalismo independente que se pratica longe das corporações.

É este jornalismo independente que cobra vigorosamente que as mesmas regras jurídicas e legais aplicadas contra o PT valham também para o PSDB.

O símbolo máximo da blindagem era FHC, cuja emenda de reeleição foi comprada com dinheiro vivo no Congresso, conforme documentou anos atrás a Folha em mais um coitus interruptus investigativo.

Agora FHC foi substituído, como ícone da blindagem total, por Aécio, o cínico que prega a meritocracia mas emprega a parentada como a prima Tânia, agora metida nas investigações da Lava Jato.

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