domingo, 20 de setembro de 2015

A tesouraria de Aécio e a Cemig

Por Helena Sthephanowitz, na Rede Brasil Atual:

Como se não bastasse ter como tesoureiro oficial de campanha um primo (Frederico Pacheco de Medeiros) e que se manteve durante a campanha eleitoral no cargo de diretor da Cemig, a estatal de eletricidade do governo de Minas, o comitê do tucano onde o tesoureiro dava como endereço não era nenhuma sede do PSDB. Foi um imóvel de fornecedores da Cemig.

O imóvel na Rua Iguatemi 192, conjunto 192, no Itaim Bibi, na capital paulista, pertence à Patrymonyal Participações Ltda, segundo a própria prestação de contas do tucano declarando a doação do valor equivalente ao aluguel. Esta empresa tem como sócios a Engeform Construções e Comércio Ltda e seus donos, conforme documento da Junta Comercial do Estado de São Paulo.



A Engeform é fornecedora da Cemig. Conforme o Diário Oficial de Minas Gerais, a empresa executou um contrato de "implantação do reforço para a região metropolitana de Belo Horizonte". Inclusive teve um aditivo em maio de 2013, elevando o valor de R$ 35,96 milhões para R$ 36,4 milhões.



Convenhamos que não pega bem essa espécie de "ação entre amigos" misturando primo de Aécio Neves tesoureiro acumulando cargo de diretor de estatal em governo tucano e, ainda por cima, usar imóveis emprestados de empresas fornecedoras. E ainda tem o fato de a Engeform ter doado para a campanha presidencial de Aécio Neves no ano passado a quantia de R$ 200 mil.

Mas nem todas as gentilezas dos fornecedores da Cemig à campanha de Aécio foram declaradas. Representação apresentada à Justiça Eleitoral pela coligação "Com a Força do Povo", da candidatura de Dilma Rousseff, apontou notícia de irregularidades. Uma delas é justamente sobre os imóveis cedidos em comodato pela Patrymonial Participações Ltda, no referido endereço da Rua Iguatemi.

Segundo a representação, analisando a prestação de contas do comitê financeiro nacional da campanha tucana constata-se o pagamento de taxas condominiais dos conjuntos números 113, 114, 213 e 214. Contudo, não foram localizados comprovantes de pagamento de aluguel referente aos conjuntos 213 e 214, mesmo que em forma de recursos estimados, sendo possível, então, a ocorrência de recursos não contabilizados em relação ao aluguel dessas salas.

Mesmo nos conjuntos 113 e 114, que tiveram aluguéis contabilizados por estimativa, o valor declarado foi equivalente a R$ 3,3 mil mensais cada conjunto, muito abaixo do mercado. Na prestação de contas, no mesmo prédio, o PSDB aluga o conjunto 212 pelo valor mensal de R$ 20 mil. Conclui-se que deixaram de ser contabilizados cerca de R$ 100 mil.

Por fim, embora conste comprovante do pagamento de aluguel do conjunto 212, não foram localizados lançamentos de pagamentos de despesas condominiais – indicando, uma vez mais, possível caixa 2.

Esta representação não percebeu e não mencionou que o conjunto 192, declarado como endereço da tesouraria, também não aparece contabilizado. Parece até piada justamente o "quartel general" da tesouraria não aparecer contabilizado.

Ainda bem que o Supremo Tribunal Federal julgou inconstitucional o financiamento empresarial de campanha nesta semana. Assim acaba com essa mistura entre o público e o privado, de primo "aparelhado" em estatal usar escritório de fornecedor como tesouraria, enquanto a sede oficial do partido fica sendo só uma fachada.

Campanha de Aécio teve tesoureiro 'de fachada' e o oficial, diretor da Cemig

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